Não gostaria de tornar aqui o 3Da Tarde um blog de arrotanço de postas de pescada em relação a homens e afins. Não conheço a espécie por aí além, não estou sequer em idade de conhecer e não aprecio o tom geral desse tipo de textos que se baseiam na premissa de que "As mulheres são demasiado complicadas para esse ser absolutamente e exageradamente cool".
Contudo, há dias (e noites) em que a pequena revoltazinha no feminino ultrapassa os meus valores e me atira para a necessidade de uma escrita pura e simplesmente vulgar.
Pois é, duas gajas a sair à noite de vestido curto = duas gajas descomprometidas que andam à procura de sei lá. Errado. Eu aliás acredito que os nossos amigos não pensam sequer nisto, tão avançado está, geralmente, o estado de bebedeira (chocante em discotecas onde uma caipirinha que mais parece um batido de ananás custa 8 euros). É uma coisa impensada, eu diria mesmo um dado de tal forma adquirido que não tem nada que pensar.
Quando ia à matiné do Bauhaus, aos catorze anos, o fenómeno era compreensível. A ciganada parava lá toda. Aqueles rapazinhos empolgados de dezoito anos, que já tinham idade para frequentar lugares onde as bebidas podiam ser alcoólicas, achavam que era muito bonito pespegar-se à miúda a dançar. E se a miúda tinha catorze anos, era natural que estivesse descomprometida (era, no meu tempo). Pensavam com lógica, os mitras, e não estavam bêbedos, o que era de louvar. Além disso, a idade aliada à mitralhice tornava o fenómeno compreensível.
Entretanto, quase dez anos passados e um total afastamento de locais como o Bauhaus, mas a história é a mesma. Nenhuma de nós é uma brasa, nenhuma de nós é podre de boa, nenhuma de nós mede mais de 1m60, ambas pagámos 12 euros para entrar (o que acaba por dizer tudo), mas calma lá que é gaja com a amiga! Toca de pôr o bracinho por cima, de oferecer a bebida que entorna em cima do meu sapato ortopédico de sair à noite, do qual tenho um orgulho descomunal, de colocar o número de telemóvel dentro da minha mala (o que denota um sentido de lógica fabuloso, quer dizer, o menino está interessado, mas a miúda é que tem que telefonar - ainda por cima o rapaz é 91 e ainda não compreendeu que, hoje em dia, existe uma barreira de comunicação entre redes diferentes, de modo que entregar um número de telemóvel à toa representa apenas 33,3% de probabilidade de estabelecimento de uma ligação). Agarrar, dançar, beijar a mãozinha cujas unhas foram cuidadosamente pintadas (atitude claramente de gaja descomprometida), etc.
Obviamente que as amigas não são nenhumas vítimas atrasadas mentais e arranjam as suas defesas, respondendo de forma hostil a todos os olhares que se vão cruzando com os seus, mesmo que seja o do rapazinho que está mais interessado em levar a bom porto a pilha de copos que tem na mão. Mas isto não seria necessário se houvesse um bocadinho mais de delicadeza no engate. E se a violação de privacidade não fosse constante. Infelizmente, ir para uma discoteca para dançar não é um objectivo assim tão linear. O lugar é uma selva!
Venha o rapazinho que aquece as mãos na fogueira! Ao menos tem as mãos visíveis e num sítio que não o corpo feminino.
P.S: Peço desculpa à família pela proliferação da palavra "gaja".