quinta-feira, 29 de maio de 2008

Acabou-se a gulodice


Às vezes, no pasa nada. Passa-se o despertador de manhã, o cafezinho antes de fazer qualquer movimento brusco, a corrida para um tipo indeterminado de transporte público, o mp3 sem pilha, blá blá blá. Mas depois há outros que entram e entram e entram cheios de novidades, de tal maneira que começam a querer sair. Resultado: palavras que explodem pela boca, metidas pelo meio de frases rápidas e, a custo, com sentido. BLÁ BLÁ BLÁ e vai cuspindo os óculos da senhora desconhecida a quem está chatear com a necessidade fisiológica de contar o acontecimento estrondoso que presenciou e faz gestos e griiita imenso e assusta as pessoas que estão à volta!!! O bom dos blogs é que se pode contar histórias educadamente.
Também não é razão para tanto, mas estas coisas deixam-me entusiasmada, o que é que querem, fazem-me sentir ligada ao povão! (sem qualquer sentido depreciativo, gosto muito da palavra, é cómica e tem força).
Então, aconteceu que há uma semana, estava eu a ler o único jornal no café do Senhor Armindo (olha ela a justificar-se...), que me diverte sempre (quando não estou virada para a depressão - é muito deprimente o jornal, há muitos acidentes de carro e muitas famílias que se matam), a saber, como já devem estar à espera, o Correio da Manhã, quando entram dois senhores gordos (mas mesmo gordos, obesos, gigantes para os lados, a ocupar um espaço imenso). O gato do Senhor Armindo, o Nico, levou logo um pontapé de uma senhora que estava sentada à mesa. E conforme levou o pontapé, caiu da cadeira e fugiu. Pois é, os senhores gordos eram os inspectores da ASAE.
Ehhh lá!! Queres ver que vou assistir in loco ao acontecimento que vai abrir todos os telejornais? Será que farei a minha fantástica aparição na TV a dizer qualquer coisa como: "Este país... isto esta gente anda toda é na caça à multa! Ladrões!" E assisti mesmo. Não abriu o telejornal, mas não faz mal.
O modo como se comportam os inspectores da ASAE dá verdadeiramente que pensar. Nem é por serem arrogantes, ou por serem implicantes, não é nada disso. É por parecerem astronautas quando entram na cozinha. Quando começam a sacar da touca, da bata branca, das luvas, da seringa, do estetoscópio, do bisturi (pronto, já chega, foi um delírio), mas quando começam a munir-se de uma data de utensílios protectores da infecção, eu juro que engulo em seco e penso: oh meu Deus... o que nós comemos. ELES VÃO ENFRENTAR O VÍRUS!
Para aquela gente não poder ter um milímetro de pele encostada ao balcão onde o Senhor Armindo descasca as batatas, é porque a coisa está má... é que nós, consumidores, não só encostamos um milímetro de pele, como comemos (com prazer, diga-se). Seres esfomeados ingénuos... alguns totós até se fotografam a comer!
Mas calma, vamos lá pensar um bocadinho! É que não pode ser! Eu recuso-me a ceder a esta visão panicada (vem de pânico e foi inventada) dos restaurantes. É porque os chineses cozinham gatinhos, é porque no McDonald's cospem nos hamburgers das pessoas antipáticas, é porque na arrecadação do restaurantezinho português há ratos, é porque o Senhor Não-sei-quantos não lava a cozinha! Chega de criar restaurantes-laboratório! O Senhor Armindo lá fechou porque tinha a arrecadação a cair aos bocados. E acho muito bem que vá arranjá-la, pronto! Mas tanta fita! Tanto "deixe lá ir ver a cozinha............. e agora talvez a casa de banho......... diga-me lá, acha que é preciso ir à arrecadação ou tem-se portado bem? E, já agora, a máquina de lavar loiça, não vá ter posto também o papagaio a tomar banho para aproveitar as águas". "Preencha lá o papel aqui e ali, assine dez vezes e ponha um aviso na porta a dizer que vai fechar. Por tempo indeterminado". Oh, não é bonito isto. Um bocadinho menos de profissionalismo medicoastronauta e mais de profissionalismo social também não lhes fazia mal nenhum. Coitado do Senhor Armindo.

Teoria da Relatividade


O que fazem os ratos para se divertir? Qual a actividade preferida desses animais cuja metade da população mundial vive por baixo do Convento de Mafra? Pois é, há ratinhos bem felizes. É a prova de que não é preciso ser-se bonito e limpinho para se ser feliz.
Os pombos também deviam aprender a fazer qualquer coisa de jeito para além de comer e expelir comida. Era uma maneira de se distraírem e de se esquecerem de se reproduzir. Há quem os compare aos ratos (a nível das doenças e da porcaria que fazem, porque de resto não acho que sejam muito parecidos), por isso é que os pus aqui. Porque na verdade até gosto de pombos.
Mas o que é que pode levar um rato às lágrimas, às dores de barriga e ao descontrolo total do riso? Não é de certeza a nojice do habitat onde moram, muito menos as bolinhas brancas (tóxicas) que lhes oferecemos a toda a hora (hummm, que bom!). É, no fundo, o que nos leva a rir das anedotas do Hitler e da Etiópia. Quer dizer... salvo seja, porque eles não se riem da sua própria espécie (que chata, daqui a pouco estou a dar a resposta! Sempre a dar pistas, é só para mostrar que sei!). Enfim, hoje, excepcionalmente, a resposta está em baixo. Achei que o teasing ficava aqui bem...
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terça-feira, 27 de maio de 2008

Noite de filme


Nada como uma noite de filme com o namorado. Vai-se ao clube de vídeo, aluga-se um DVD, faz-se pipocas. É simples, demora dez minutos a preparar e é extremamente romântico. Teoricamente.
Já são 11 horas da noite e lá teremos que ir à Blockbuster pagar o triplo. Tenho alguma vontade de refilar, mas calma, noite de filme não é para refilices. Além disso não sou eu que pago. Meia hora depois, ainda não há consenso em relação ao filme. "Porque este já viste", "Mas não me importo de ver outra vez..." (noite de filme é de amizade, de bondade, de ceder e de ser romântico). "Ai, mas não, um que não tenhamos visto os dois" (mas esse não há), porque: "Esse é muito violento", "esse é lamechas", "esse é estúpido", "esse é intelectual", "esse é uma banhada", "esse é Novidade" (mais caro, portanto). 11h45, os senhores com aquele olhar: "ranhosos indecisos, nunca mais saem daqui!", está decidido, vamos lá pagar.
São TRÊS EUROS E OITENTA...! MAS pode ficar com o filme c-i-n-c-o noites! Muito bem, a isto é que chamo uma regalia! Venho alugar para ver hoje, mas, felizmente, posso ficar com ele cinco noites. O preço abusivo está totalmente justificado. É para o caso de o querer ver cinco vezes. Aliás, normalmente é o que faço: mínimo de visualização - cinco vezes. É para decorar as falas. "Ok, aqui tem os TRÊS EUROS E OITENTA". Somos uns cobardes. A odiar a Blockbuster por dentro e a agir como uns cordeirinhos... pronto, é noite de filme. "Ah, mas espere", diz o rapazinho da caixa (oh não, há mais!!) "tem aqui uma multa de DEZ EUROS para pagar, devido ao atraso na entrega do filme anterior".
Escusado será dizer que, na noite de filme, não houve filme alugado para ninguém. Aquela multa não pago eu! Então quer dizer: o filme dava para cinco noites, aproveitei para me esquecer de o entregar durante cinco dias, mas obviamente, esqueci-me do filme para sempre! E depois fui arrumar o armário e lá estava ele, a provocar-me um princípio ataque cardíaco. Fiquei ali a 1000 à hora sem saber o que fazer. Pensei que se nunca mais voltasse à Blockbuster não ia ter que pagar a multa. "Entrego discretamente o filme (à noite, de óculos escuros e écharpe preta, enfio o filme no correiozinho que está à porta da loja e fujo) e quando me perguntarem, digo que foi um engano e que são indecentes os preços que praticam. E já agora, aproveito para dizer que nunca mais lá ponho os pés, que na loja ao lado o aluguer de filmes custa metade do preço e que aquela gente é toda uma cambada de capitalistas que não aprecia porcaria de cinema nenhum. E tenho o meu momento de glória". Mas as minhas peixeiradas ficam ao nível da cabeça, de modo que volto sempre para alugar qualquer coisita.
O pior no meio disto tudo nem sequer é a Blockbuster. É que a noite de cinema tem que acontecer na mesma. E a solução está no computador do namorado, onde se pode escolher entre género: "Tropa de Elite", "Filme violento de qualidade 2" e "Filme violento de qualidade 3". Se quiserem uma descrição boa do filme visionado nessa noite, cliquem aqui, porque eu não o vou fazer. Mas por favor, meninos deste país, em noite de filme, mesmo a namorada mais intelectual do mundo prefere o Diário de Bridget Jones ao Tropa de Elite! Francamente...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A Dona Diolinda


O cheirinho do Bairro Alto ao Sábado de manhã é da melhor qualidade que há por aí. Aliás, eu diria que aquilo sim é qualidade de ar. O vomitado, os copos de cerveja cheios (não percebo... a cerveja também não é assim tão barata!), as garrafas de vinho, as moscas a morrer de felicidade... e o pensamento instantâneo: será que fui eu que deixei este copo ali ontem? E aí a questão complica-se, torna-se mais do tipo existencial: sou uma mal educada quando estou bêbeda... depois venho para aqui refilar que não há respeito e que as pessoas não percebem que no Bairro Alto também se vive e também se trabalha.
Ia nestes pensamentos às nove da manhã de Sábado para o meu ensaio musical, quando surge atrás de mim uma voz que diz o seguinte: "Deus castiga". Eu nem olho, claro, suponho que não seja para mim, também não é caso para tanto! E a voz, que deve ter problemas, lá repetiu: "Deus castiga". Olhei em volta, ninguém senão eu e uma senhora com metade do meu tamanho (ainda assim alta, portanto). Ok, não me lembro, se calhar fui eu, mas e depois? Qual será o meu castigo? Era só o que me faltava...
Pois então. A senhora tinha acabado de ter uma conversa com a amiga (a Diolinda) cujo marido estava a morrer com uma cirrose. "Deus castiga" era, então, para o marido da Diolinda. Claro que a Margarida, um ser extremamente bondoso, se apressou logo a dizer: "Ai minha senhora, não diga uma coisa dessas, não se deseja a morte a ninguém!". Qual quê! Então não é que o homem emigrou para Inglaterra e veio de lá todo peneirento e alcoólico? De cada vez que vinha a Portugal fazia um filho à Diolinda. Já para não dizer que tinha amantes por toda a região! Enfim, um autêntico Don Juan, coradinho da bebida e bom arrotador. "Deus castiga". Ah, então pronto, deixa lá o homem morrer de castigo Divino. Do mal o menos, antes ele que eu! Mas que é assustador que estas doenças caiam do céu, ah isso é, sobretudo para uma hipocondríaca como eu. Felizmente, a senhora gigante, mensageira dos castigos Divinos, tinha tido uma vidinha desafogada, dois filhos educados e formados, um bom marido... pensa ela!
Mas pronto, pelo sim pelo não, portem-se bem, não vos vá um raio cair do céu.

The Dying Animal

Decidi trazer para aqui este livro, porque me surpreendeu. Antes de o abrir, fui sabendo por terceiros do que se tratava. O dia-a-dia dessa depravada que era a Consuela Castillo. Uma depravada, sim, cujas atitudes sexuais eram tão explicitamente descritas que deixavam qualquer um envergonhado. Na Playboy, era onde esse livro devia estar. Contudo, há muito que ouvia falar das maravilhas do Philip Roth. E quando soube que, no Eixo do Mal, a Clara Ferreira Alves tinha referido The Dying Animal, o meu desprezo pela Consuela Castillo desapareceu (devia ter vergonha, sou uma vendida ultra influenciável!). E quando comecei a ler o livro, a Consuela Castillo depravada desapareceu também.
Isto, porque The Dying Animal é um livro sobre a morte. Sobre o sexo como vingança da morte. Sobre uma vida desligada de qualquer tipo de sentimento, que sempre procurou o prazer pelo prazer, marcada pelos ideais do Maio de 68, que, no final, se questiona, porque começa a definhar sozinha, que é como quem diz, envelhecer. E não se trata de questões existenciais ou de lamechices melancólicas. Pragmatismo. São questões pragmáticas, é uma visão pragmática. A língua inglesa tem dessas regalias. Nada de frases de uma página, nada de palavras eruditas, nada de metáforas ou alegorias. Tudo é explícito, incluindo o sexo. Explícito e incómodo. Doloroso, diria, mas isso sou eu que sou sentimentalista. Mas com humor. São os tempos modernos.
Até que enfim! Até que enfim que um autor tem na ponta dos dedos as relações modernas sem ter que publicá-las pirosamente na revista Maria. Até que enfim que alguém é capaz de levá-las ao extremo e criar uma obra de arte e não um livro da Marta Crawford. Até que enfim que um texto bem escrito - um texto perfeito - não tem que ser bonito, mas mantém a elegância.
Claro que o livro não é só isto. Por isso leiam. E se já leram, digam-me o que acharam. A imagem tem um link para encomendarem o livro em português e para lerem o resumo. Não sei se a tradução é boa, mas sei que o livro também existe na Fnac em inglês! Só não percebo porque não está na internet...

domingo, 25 de maio de 2008

Conselhos para a oral do inglês


Vou ser honesta: este é um post "façam o que eu digo, não façam o que eu faço". É uma beleza a sabedoria popular. Apreciem, funciona sempre.
  • Não complicar. Se vos perguntarem se o estado do tempo altera o vosso estado de espírito e se as únicas palavras relacionadas com estado de espírito que conhecem são "Happy" e "Sad", respondam que o tempo mau vos deixa "sad" e o bom vos deixa "happy". Não se ponham com perfeccionismos como: "O tempo mau deixa-me sad. Não! Deixa-me menos happy, mas também não deixa sad, o que não é a mesma coisa! Quer dizer, na verdade deixa-me happy to be sad, porque até gosto de mau tempo...". O examinador não é o psicanalista!
  • Utilizar vocabulário decente. Se vos perguntarem se gostam de doing housework como cleaning the house ou washing dishes, tentem não responder: "ah, eu em casa só faço exactamente cleaning the room e washing dishes! Realmente, ele há coincidências maravilhosas! Ufff"
  • Não usar a palavra BEACH! E muito menos repeti-la três vezes a seguir, de maneiras diferentes, porque se aperceberam de que, provavelmente, a pronúncia não foi a correcta e estão à espera que o examinador vos corrija. Os examindaores não interagem, ao contrário do que possa parecer.
  • Não fazer um milhão de gestos e dizer "like that". A gravação é só audio.

E é só. Como devem imaginar, o meu resultado não vai ser brilhante. Mas acho que dá para comunicar com os franceses. Ou talvez não, mas aí toda a gente sabe que a culpa não será minha... (hihi)

Cliché


Às vezes temos que ceder às tentações. As cotoveladas matinais no metro, o silêncio que se propaga tão rápido entre tantas pessoas, a corrida para conseguir um lugar sentado, tornam estas fotografias especiais. É possível subir estas escadas quase sozinho às seis da tarde. É possível que haja metros bonitos no mundo. É possível que do céu cerregado não caia uma única gota de chuva. É possível captar os dois pássaros (pontinhos pretos minúsculos) exactamente no momento em que eles passam pelo centro do enquadramento, completamente sem querer.

Parece que o metro chegou à ilha do Robinson Crusoé. Ou à América do tempo do Cristóvão Colombo. Aqueles pontinhos pretos minúsculos até são duas gaivotas. Mas também parece que ninguém quer lá ir.

Antes de tirar esta fotografia exclamei: "Oh, que bonito". E a voz irónica (sublinho, irónica) ao meu lado, disse: "Vá, tira lá uma fotografia e põe no blog" e começou toda uma conversa sobre: "Oh, que linda ficava com o título Escadas para o Paraíso ou Chuva Quieta ou O Belo e Calmo Recanto Lisboeta". Gozámos, rimo-nos e até referimos o Nicholas Sparks. Só que lá tirei a fotografia. Nunca se sabe.

É isso. As fotografias cliché não deixam de ser bonitas. Podem ser pirosas, vulgares. Mas não deixam de ser bonitas. E já agora a pergunta cliché: quem adivinha que saída de metro é esta?

sexta-feira, 16 de maio de 2008

"Os Tós"


E aqui estão os Cids! “Supervisionado por Os Tós”, diz em letrinhas pequenas, por baixo! Pois é, desenganem-se que a coisa é séria! Estes posters não são uns quaisquer! Estão bem dentro da lei e foram supervisionados pelos fãs mais imaginativos do mundo, que criaram, entre muitos outros, o logótipo a que podem ter acesso (se estiverem interessados), carregando no link…

E não me entendam mal, não tenho absolutamente nada contra gostar do José Cid! Aliás, gosto muito da música de abertura do “Conta-me como foi”, reporta-nos a uma época. Só que depois de ter encontrado este clube de fãs tão dedicado, que escreve regularmente no CidMania, a minha vida transformou-se numa gargalhada, pelo menos por umas horas. No blog podem encontrar o José Cid em TODO O LADO. O José Cid a vencer o Tour de France, o José Cid debaixo de um Touro, o José Cid numa manifestação contra as touradas (em slips) - o link para esta não existe, mas está tudo no CidMania-, o José Cid como candidato do Bloco de Esquerda por Lisboa… ah e claro, uma versão diferente de um filme bem conhecido de todos (vejam vocês mesmos). E tudo isto através de um fantástico método de montagem, que consiste em colocar a cara do Cid por cima da cara de outra pessoa qualquer.

E como as montagens são de uma perfeição fenomenal, um leitor menos atento pode cair no erro de pensar: “Olha, não sabia que o Cid também…… (e na zona das reticências colocaria então: fazia ciclismo, era activista contra ou a favor das touradas, era actor…). Foi por isso que decidi deixar um aviso aqui no blog. O Cid é só cantor.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Objectos sensíveis



Este meu telemóvel é mesmo fotogénico, dizem vocês. Pois é e eu acrescento que é também mais inteligente que os outros telemóveis! Ele engana-me, é matreiro... quando carrego com pouca força no "a" ele não escreve nada, quando carrego com força, escreve "b". E por aí fora.

A verdade é que, apesar de tudo isto, ainda consigo escrever todo o tipo de mensagens, inclusive as de cariz piroso. Por cariz piroso entenda-se "mensagens que impliquem a palavra amor e tooodas as derivadas". E não sei se o meu telemóvel anda com carências afectivas, se de certa forma se sente sozinho ou rejeitado pelos que têm câmara fotográfica, mas ontem, por iniciativa própria, enviou uma destas mensagens que deviam ter bolinha vermelha (salvo seja), para a Activação de Serviços da TMN. Que bom! Pode ser que agora o "Até já" ganhe um novo significado entre mim e a TMN... e por iniciativa própria entenda-se "o utilizador, ao acabar de escrever a mensagem, carrega furiosa e repetidamente no OK porque o botão PARECE não estar a funcionar". (Activação de Serviços é o primeiro número da lista...).

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Proibido Vazar Entulhos


E perante tal ameaça, me vergo. Tremo de medo. Quem é o louco que se atreve a vazar entulhos nesta propriedade? (que vos garanto que é de uma beleza descomunal - aqui crescem ervas até onde a natureza deixar, que secam até onde a natureza deixar e que se enchem de lixo até onde o homem quiser). Acho que todas as multas (coimas...) deviam começar a ser cobradas em moedas inexistentes! Ou em feijões, porque não? Assim ficava a lição moral, que afinal é o mais importante.
Faz tudo parte de um processo evolutivo... há poucos anos, havia sítios do país onde ainda não tinha chegado a electricidade. Há lugares que ainda não têm Internet. Ao concelho de Cascais ainda não chegou o Euro...

terça-feira, 13 de maio de 2008

Hoje demorei doze anos a chegar


Distanciamento.
É ter medo de Schoenberg e perceber que também ele compos telenovelas. Aliás, é ter medo de todo o século XX e ouvir Ravel. É rir-se do dia em que se disse a um grande pianista que conhecia muito bem a sua obra através da Internet. É não corar quando se diz que é Bach e afinal é Mozart.
E não, enganei-me no título, não é só uma questão de tempo. É também uma questão de olhar. A sala que era monstruosa fica pequenina, pequenina, pequenina... as cadeiras ficam vazias, o público desaparece. E nós ficamos, sem as palmas, sem as críticas, sem os mexericos, sem o foco de luz. Ficamos e rimo-nos. Porque o nervosismo deixou de fazer chorar. Está tão longe, tão longe, tão longe...
E nisto não há poesia. Há a professora de História da Imagem que entra no gabinete do Director da Escola de Música mais conceituada do país e pergunta quantos alunos tem a orquestra. 34+18. Ele tem estes dados, mas quanto ao resultado... como poderia saber? Mas a professora de História da Imagem sabe, não fosse ela também uma Instituição. São 42. Agora o Director também sabe.
Afinal... afinal somos só ignorantes.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Venha o irreal


Esta fotografia foi tirada no Museu Colecção Berardo no CCB. Não me lembro de quem foi a magnífica ideia, mas lembro-me que suscitou em mim um interesse especial. Nada de intelectual, não se preocupem (embora desse um bom trabalho para a faculdade. Tudo o que substitui um objecto real por outro dava um bom tema para a faculdade). Mas os meus neurónios já não são o que eram, de modo que fiquei fascinada, isso sim, pela questão digamos que mais ligada à bricolage, à decoração... isto porque as plantas dão muito trabalho. Enfim, nada de extraordinário, que nos deixe de rastos ao fim do dia, mas dão. São um ser vivo a mais. Quieto e verde, mas bonito.
Também eu tenho um cacto lá em casa, que está talvez na divisão menos simpática de todas. Sim, o cacto está na janela da casa de banho. Porquê? Porque a casa de banho tem muita humidade. Imagino que aquela planta não seja especialmente feliz. Quanto às outras plantas, estão em sítios normais e são regadas em dias diferentes. Se são ou não felizes...? no idea. O bonsai... o bonsai foi vítima de uma total ausência de savoir-faire. Claro que lhe cortei as folhas secas (mas isso era só em Janeiro!!), claro que o pus ao sol (mas eles secam ao sol!!), claro que falava com ele (mitos!!)... tão pequenino... durou umas semanas. Se calhar estava a hibernar...
Complicadas as plantas. Mas quem é que se convence a comprar a imitação, com o orvalhinho de cola a escorrer estático? Não, não é solução. Solução arranjou aqui o nosso amigo que encontrou mais dois tipos de plantas, essas nada reais, mas sem pretensões de o ser. E porque não? Porque não pendurar uma definição de cacto no quarto, uma fotografia na sala e deixar o cacto em paz? De certeza absoluta que seria mais feliz que na casa-de-banho.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Resposta:



Sim, Inês, ando sempre com a máquina. O problema é que esta Cyber-shot velhinha (os objectos tecnológicos têm uma elevada esperança média de vida, mas passam a vida velhos), que já foi o topo da tecnologia, não me dá especial credibilidade.

Das duas uma, ou és fotógrafa ou és turista. Quando és fotógrafa, tens, no mínimo, uma máquina croma. Depois, fotografas o que se quiseres, perante o ar de admiração que te rodeia. Tens status. Quando és turista tens uma máquina qualquer e falas outra língua. Vamos reduzir as coisas a isto, porque é mais simples.

No meu caso, nem uma coisa nem outra. Por razões físicas algo evidentes, não passo por turista em nenhuma situação (nem noutro país, onde preferem achar que sou emigrante...). Além disso, não tenho por hábito fotografar-me a mim mesma à frente de um Andy Warhol (não que o quadro não beneficiasse disso, claro!). Quanto a fotógrafa... acho que a imagem fala por si. Por vezes (ah, isso sim!), passo pela entusiasmada que nunca viu. Coitadinha, acabou de chegar à metrópole.

E pronto, é uma situação desfocada, porque a lente da minha máquina não é muito boa. "É sim, é uma Carl Zeiss!!" - diz o anjinho bom. Mas o anjinho mau não está de acordo. Ele queria uma máquina nova.

Então, é um bom post de caridade ou não?

sábado, 3 de maio de 2008

Copo-de-água


O copo de água é um assunto extremamente delicado. O simples facto de proferir esta palavra (sim, copo de água é uma palavra só) após "Queria um café e..." pode criar uma sensação de conflito iminente, de sururu interior, de tensão mal resolvida.

Há os que simplesmente ignoram. Para esses, o copo de água é o grande silêncio, tão transparente, tão inodoro que não pode existir. Vem o café e o silêncio transparente e inodoro. O espaço do copo de água fica vazio. Mas esses são fáceis de enganar. Repete-se a palavra transparente e inodora e plim, ela aparece. Vem o copo de água sozinho. Pois é, sozinho ele existe. Sozinho e à segunda. Claro que vem meio entornado, na mão da senhora que bufa e refila qualquer coisa, felizmente, inaudível.

Só que a história não acaba aqui. Há os que já têm manhas...

Fruto de uma conspiração que atingiu proporções nacionais e que juntou mais de 70% dos Senhores do Café, surgiu o albergue dos copos de água: o tabuleiro estrategicamente colocado em cima do balcão, com os copinhos quentes virados para baixo, perante o imponente Jarro de Água.

"O copinho de água está ali", diz a senhora com o dedo indicador na horizontal. Está ali a dez metros de si, que está aí sentada e já espalhou tudo pela mesa. E aconselho-a a não deixar a mala na cadeira quando levantar o rabo para o ir buscar, porque ainda lha roubam e nós cá não somos responsáveis. Isto é o que fica para dentro, só que já não sai transformado em grunhido recalcado e olhos revirados, porque agora o sururu interior saltou para o nosso lado. Querem o copinho de água? Vão buscar. É um mundo cão.

MAS (!!!) há ainda em Lisboa um café que compreende a impossibilidade de apresentar uma chávena a escaldar com um líquido castanho e amargo que deixa os dentes amarelos, sem o copo de água, que, porque a natureza tem destas coisas, após o café, fica doce. Este copo de água que vêem na fotografia foi-me trazido sem que eu sequer soltasse um som, um gesto, uma mísera vontade de o beber. Veio naturalmente, porque conhece bem o seu lugar.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Quando a imaginação nos trai


Quando se combina às 21h à frente dos correios, é sempre para perceber às 21h30 à frente dos correios. O telemóvel apita 20 vezes para dizer estou a caminho, estou parada no sinal, o homem à minha frente não anda, não há por aí um café?. Café é a palavra que queremos ouvir. Só é preciso encontrar um. E na quarta-feira, este era o mais próximo.

O nº28 (23?) parece aquele sítio que deixa de se ver quando a luz se apaga (no exacto momento do crime) e que volta a aparecer quando do criminoso apenas se ouvem os passos (este criminoso usa sapatos de sola, veste uma camisa branca e um blaser preto e segura com a mão esquerda o chapéu da mesma cor. Nunca se esquece das luvas, apenas por uma questão de estilo). Por cima da porta, a varanda parece a da Alice Gorda, que pôs toda a gente a chorar quando o marido a deixou e ela emagreceu de tanto verter lágrimas. Foi aí que começaram os boatos sobre o emagrecimento.

E o carro do lado direito faz-nos lembrar que estamos no século XXI. É nesse momento que se solta do café mistério a frase desafinada “Não voltarei a seer fieel”, acompanhada por sons estranhos, estilo piano e xilofone num só instrumento. O senhor do café transforma-se num cantor de karaoke e faz-me sinal para não fazer o meu pedido, porque está a acabar de cantar. Os dez metros quadrados tremem com o som do microfone demasiado potente, a parede principal esconde-se atrás de um ecrã gigante onde se lêem frases pirosas. E o criminoso é agora um grupo de vinte pessoas bem vestidas que reservou mesa para jantar. Quanto à Alice Gorda, parece-me que a vi por trás das cortinas, mas não posso afirmar com certeza.