domingo, 31 de agosto de 2008

Dica da semana II


Não gostaria de tornar aqui o 3Da Tarde um blog de arrotanço de postas de pescada em relação a homens e afins. Não conheço a espécie por aí além, não estou sequer em idade de conhecer e não aprecio o tom geral desse tipo de textos que se baseiam na premissa de que "As mulheres são demasiado complicadas para esse ser absolutamente e exageradamente cool".
Contudo, há dias (e noites) em que a pequena revoltazinha no feminino ultrapassa os meus valores e me atira para a necessidade de uma escrita pura e simplesmente vulgar.
Pois é, duas gajas a sair à noite de vestido curto = duas gajas descomprometidas que andam à procura de sei lá. Errado. Eu aliás acredito que os nossos amigos não pensam sequer nisto, tão avançado está, geralmente, o estado de bebedeira (chocante em discotecas onde uma caipirinha que mais parece um batido de ananás custa 8 euros). É uma coisa impensada, eu diria mesmo um dado de tal forma adquirido que não tem nada que pensar.
Quando ia à matiné do Bauhaus, aos catorze anos, o fenómeno era compreensível. A ciganada parava lá toda. Aqueles rapazinhos empolgados de dezoito anos, que já tinham idade para frequentar lugares onde as bebidas podiam ser alcoólicas, achavam que era muito bonito pespegar-se à miúda a dançar. E se a miúda tinha catorze anos, era natural que estivesse descomprometida (era, no meu tempo). Pensavam com lógica, os mitras, e não estavam bêbedos, o que era de louvar. Além disso, a idade aliada à mitralhice tornava o fenómeno compreensível.
Entretanto, quase dez anos passados e um total afastamento de locais como o Bauhaus, mas a história é a mesma. Nenhuma de nós é uma brasa, nenhuma de nós é podre de boa, nenhuma de nós mede mais de 1m60, ambas pagámos 12 euros para entrar (o que acaba por dizer tudo), mas calma lá que é gaja com a amiga! Toca de pôr o bracinho por cima, de oferecer a bebida que entorna em cima do meu sapato ortopédico de sair à noite, do qual tenho um orgulho descomunal, de colocar o número de telemóvel dentro da minha mala (o que denota um sentido de lógica fabuloso, quer dizer, o menino está interessado, mas a miúda é que tem que telefonar - ainda por cima o rapaz é 91 e ainda não compreendeu que, hoje em dia, existe uma barreira de comunicação entre redes diferentes, de modo que entregar um número de telemóvel à toa representa apenas 33,3% de probabilidade de estabelecimento de uma ligação). Agarrar, dançar, beijar a mãozinha cujas unhas foram cuidadosamente pintadas (atitude claramente de gaja descomprometida), etc.
Obviamente que as amigas não são nenhumas vítimas atrasadas mentais e arranjam as suas defesas, respondendo de forma hostil a todos os olhares que se vão cruzando com os seus, mesmo que seja o do rapazinho que está mais interessado em levar a bom porto a pilha de copos que tem na mão. Mas isto não seria necessário se houvesse um bocadinho mais de delicadeza no engate. E se a violação de privacidade não fosse constante. Infelizmente, ir para uma discoteca para dançar não é um objectivo assim tão linear. O lugar é uma selva!
Venha o rapazinho que aquece as mãos na fogueira! Ao menos tem as mãos visíveis e num sítio que não o corpo feminino.
P.S: Peço desculpa à família pela proliferação da palavra "gaja".

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Back to White


O perfume é a oportunidade de ter em casa uma peça Chanel, Armani ou Dior. Pelos meus armários passam Zaras, HMs e Massimo-Duttis-dos-saldos. Pela minha cómoda desfilam estilistas de renome. O perfume é caro. Mas não tão caro como os sapatos.
O perfume cria laços. Pela óbvia relação entre cheiros, pessoas e lugares, mas também pela fragrância em si, que nos conquista, vá-se lá saber porquê. É pessoal e único (sei bem que não é, mas parece). Define-nos.
Perfume pode ser chic, piroso, insuportável, excêntrico, glamouroso, simples, desportivo. Perfume é feminino, apesar do género e dos metrosexuais.
Até há um ano atrás, a compra do perfume era, para mim, rotineira. Entrar, comprar, sair. Sabia o que queria. Há cinco anos que sabia o que queria. Depois, o meu perfume desapareceu. Seguiram-se alergias, babas, cheiro a liláses, rosas, pó de talco, jasmim, sabão, frutos exóticos e, finalmente (consequentemente), Creme Gordo da Barral em pomada, que é para que se sinta bem o cheirinhio a Halibut no pescoço. Très chic.
Mas ontem, sem saber porquê, nas prateleiras da perfumaria, lá estava o melhor amigo do meu pescoço fútil, a exibir-se ao lado de um Night, de um Diamonds e de um Classic: o meu Emporio Armani White.
A fragrância italiana made in France que me lembra Lisboa à chuva, vai levar-me a Paris. Cheira a Inverno, nos dias em que o Inverno se instalava nos martelos do meu piano e me convidava para ir para o café. Cheira ao metro, ao guarda-chuva, à cidade tagarela, às botas mais caras que tenho no armário. Cheira ao meu namoro.
Oui, mademoiselle is back to white.

Turismo Rural



A ideia é a de receber as pessoas em casa. Espalham-se retratos de família pelas paredes, compra-se um cão afável, coloca-se a cozinha à disposição, fazem-se passeios com todos os hóspedes pela herdade e está feito o Turismo Rural. De Rural só tem os mosquitos e as vacas ao longe. De Turismo não tem nada, porque apenas ficamos a conhecer os parcos metros que separam o quarto da piscina (pronto, vai-se de carrinha de caixa aberta visitar a herdade, o lago e as vaquinhas, mas isso demora uma hora, portanto não conta).
“Veio para o meio do nada”, desculpa para o facto de não haver Internet. “Há sempre a televisão”, pensei eu. Não, não há. Há quatro canais, de modo que não se pode verdadeiramente dizer que haja televisão. E eu nem sou das que mais se insurge contra telenovelas e afins, mas francamente, é de tal maneira que o meu zapping pára esperançoso na RTP2! (Reportagens sobre vendedores ambulantes – uma profissão claramente em voga – em que se percebe perfeitamente que os produtores andaram a fazer economias; a vida dos elefantes – o Donut e a Verruga – ou séries de há 50 anos atrás. Não há esperança que resista). De qualquer forma, foi pouco o tempo dedicado à televisão. Mais que fazer! Desde deitar-me numa caminha ao lado da piscina; a comer crepes com chocolate ou a ficar de boca aberta a apanhar insolações de meio-dia com um factor 50 a estrangular-me a pele.

Até fiz dois amigos! Dois rapazinhos simpáticos e extrovertidos, que se mostraram extremamente interessados na minha vida privada. Queriam saber se eu estava no 7º ano e se me estava a correr bem a escola. É que eles estavam no 5º e precisavam de conselhos experientes… queriam também saber por que raio é que eu não fazia bombas e chapas na piscina. Expliquei que tinha sido assim que o meu braço se tinha partido – e tinha doído tanto! – (já se tinham chocado com a cicatriz, entretanto). Escusado será dizer que a partir daí a piscina deixou de parecer o mar da praia do Moledo.
O balanço é muito positivo. Sobretudo porque já só me faltam cinquenta páginas para acabar o Steinbeck, esse livro que me tem prendido de uma maneira parva, sendo que as suas sábias páginas já me acompanham há uns bons três meses. E também porque tive a oportunidade de treinar o meu brain e de perceber o quão treta é o livrinho que vem com o Expresso, que nos faz crer que o nosso Q.I. sai incrementado através daquela porcaria de dez páginas estilo “Onde está o Wally”. Ah e estou perfeitamente a par das tendências de moda Outono - Inverno (a ELLE trazia um suplemento sobre modelos com medidas paradisíacas em collants amarelas, enfim, um mimo).
A sério, estou renovada. Sim, essas tretas de energias manhosas vindas de planetas e estrelas distantes, gostam do Alentejo.
Acabo com uma sábia frase baseada numa outra proferida pela Lili Caneças, a senhora que vive no conto de fadas da Bela Adormecida, que diz, segundo a própria, com sabedoria Shakespeariana: “Estar vivo é o contrário de estar morto”. Ora eu digo “Estar de férias é o contrário de estar a trabalhar”! É por isso que o campismo não é para a minha pessoa. E começo a desconfiar que o interrail também não…

terça-feira, 19 de agosto de 2008

A mossa



Geralmente, quando nos apanhamos com a carta de condução, livramo-nos imediatamente de alguns tiques obrigatórios, como as duas mãos no volante, os 20.000 piscas nas rotundas ou os limites de velocidade que se ficam pelos 20Km/h. No meu caso, vi-me imediatamente livre daquela regra de não tocar noutros objectos na manobra de estacionamento: passeios e outros carros. Adoptei logo a técnica do bate à frente bate atrás e, até hoje, tenho sido bastante feliz.
Um pequeno senão: convém que o dono do carro onde estou a bater não esteja dentro dele. E ontem, havia um lugarzinho apertadinho e um senhor num Mercedes a ler o Público. A Margarida proferiu as seguintes palavras: "Hoje não posso bater, que o senhor está dentro do carro". Dito isto, pé entre a embraiagem e o acelerador, marcha atrás e PUM, de rabo no carro do senhor. Nestas coisas há que manter o sangue frio e armar-se em homem. De modo que a minha reacção foi extremamente simpática: "Ah, isso não foi nada!". Desculpe, eu pago, foi sem querer, qual quê! Isso não foi nada, uma mossazinha no Mercedes, o que é isso?
Mas aquele não era um senhor qualquer com um carro qualquer. "Eu não vou maçá-la (maçá-la...) com isto, mas não me diga que não foi nada, ora passe lá aqui a mão...". E lá estava ela, a mossa na matrícula do Mercedes. Este senhor era simpático. Pronto, mas se não me vai maçar, posso pedir desculpa, dizer que sou naba, chamar-me nomes e até oferecer-me para pagar o arranjo da mossa e de quaisquer outros problemas que o carro tenha! O remorso fabrica palavras que não passam pelo sistema nervoso central. Mas o senhor não me maçou.
Que sorte, senhores destes não costumam andar em Mercedes! Mercedes novo em mão de tuga é para sair da garagem apenas ao fim-de-semana, para ir ao Mr. Parking a 40Km/h fazer lavagem e aspiração. Ou então para fazer a viagem Lisboa - Algarve numa hora, sempre limpinho e impecável, que ao menos se for para estragar será numa coisa em grande! Mossas no Mercedes é que são, geralmente, complicadas de resolver.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Prometo que é o último post sobre esta criatura


Desculpem lá, pá, eu não queria tornar este blog numa lamechice-animal-muito-fofuxa-a-minha-eduarda-isabel-a-comer-a-beber-a-fazer-xixi-e-a-tomar-banhinho, mas dêem-me o desconto por escrever no auge da Silly Season... gostava só de reafirmar aqui a sexualidade do "meu" gato: é uma gata. Pois é, também ela nasceu com mais alguns cinco de uma outra gata, ideia que não agrada ao meu pacato apartamento. E embora a criatura ainda não tenha nome (é que há confissões de tias que não dizem os l's, mas eu sei muito bem que também faltam por aí confissões de pessoas que não pronunciam os r's), não deixa de ser um animal do sexo feminino, que tem que ser ensinado a não engravidar a torto e a direito.
Então... eu sou ou não uma boa educadora?
(Não, não enlouqueci... foi totalmente por acaso... só vi depois)

domingo, 17 de agosto de 2008

O Milagre


Nunca em vinte e dois anos de existência caiu neste corpinho um milagre. Desde os tempos em que a irmã Teresa me ensinou os dez mandamentos, os Evangelhos e que a princesa Diana foi arder no Inferno. Desde os anos em que mentia na confissão, porque não tinha pecados para contar. "Ontem não ajudei a minha mãe a lavar a loiça", porque a minha função era secá-la, de modo que lavá-la seria grave exploração infantil. Mas essa parte omitia, senão depois não tinha Ave Marias para rezar.
Milagre foi coisa que nunca me passou pelo estreito. E, como vêem, eu até era uma criança bastante crente. Até hoje. É o seguinte:
Quando soube que ia para França entrei em campanha para ser substituída. Não por uma criancinha, não por um peixe, não por uma planta. Por um gato. Vou ao gatil na internet, faço a minha mãe sofrer com imagens de gatinhos abandonados, digo-lhe todos os dias que há gatinhos para adoptar que vão morrer de fome.
Nada. Mas há formas e formas de obter um gato. No meu caso, não o obtive. Ele impos a sua presença. Pode até dizer-se que caiu do céu. Não é por nada, mas passou a noite na espreguiçadeira da varanda a ronronar e, de dia, depois de ser expulso vinte vezes, entrou pela casa, explorou, roçou-se em todos os objectos, comeu, bebeu, afiou os dedos em todos os tapetes e adormeceu no sofá.
Pronto, parece que fui substituída. A minha mãe até já lhe comprou Friskies (é fino o gato. Gata, é uma gata). Agora a ida ao supermercado passa pelas prateleiras dos animais. E eu sinto-me orgulhosa. Tenho um animal (há um dia). Que nome lhe dou?

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Férias


Vou para o Algarve, esse país de aventuras perdido no meio da Ásia. Vou andar em pontes de madeira presas por duas cordas a uma distância assustadora do chão. Vou atravessar montanhas repletas de plantações de arroz.
Não! Essa cidade cosmopolita onde vou aproveitar o valor do dólar para atacar a Saks da 5th Avenue.
Não! O resort de luxo no Dubai! Sim, praia, muita praia e ski dentro dos centros comerciais.
Era bom, não era...? Mas é mentira. Vou para o Algarve português, mesmo. Passar o dia a ganhar rugas em detrimento de uma pele bronzeada. Andar de gaivota, namorar, jogar raquetes e cartas...
Portanto, uma semana sem internet, totalmente isolada dos mails, dos assaltos aos bancos e da vida da senhora Lucinda que tem três filhos para criar e contas para pagar.
Até segunda!

Dica da semana


Mulher que é mulher sonha com bolsos no vestido sexy, para não ter que carregar a mala a noite toda. Mas se o vestido sexy tivesse bolsos, depressa deixaria de ser sexy. Carteira gigante, telemóvel, sapatos, maquilhagem, perfume, garrafinha de água, espelho, enfim, entre muitos outros objectos totalmente indispensáveis. Ora, não quero pensar no tamanho que as minhas ancas adquiririam com tanta tralha enfiada naquela zona. Assim, a mala torna-se o objecto indispensável por excelência.
Quanto aos bengaleiros das discotecas, quando os há, estão totalmente fora de questão: são caros. Mas como a mala não pode ficar nos ombros, das duas uma: ou fica com o/a amigo/a que não gosta de dançar, ou fica exactamente no chão, à frente dos pés, no meio da roda onde as donas se divertem. Não gastem, portanto, o dinheiro em Furlas ou Lanceis para sair. Desperdício.
Devido a esta necessidade feminina de trazer a casa-de-banho atrás quando sai à noite, surgiu, por evolução genética, a dica de engate ideal. Passo a explicar: um rapazinho, geralmente alcoolizado, surge cambaleante do meio dos amigos e junta-se à roda feminina. Estica os bracinhos e as mãozinhas em direcção ao monte de malas, vai esfregando as mãos uma na outra e lança a seguinte exclamação: "Eh pá, com tanto cabedal (!) não sei como é que isto aquece tanto". Quanto à semântica da frase, embora não seja totalmente coerente (note-se que a palavra cabedal só foi introduzida para dar à premissa aquele belo sentido metafórico, já que, para além de as malas não serem de cabedal, não existe qualquer relação entre cabedal e não-aquecer), enfim, quanto à semântica muito geral da frase, há que imaginar que as malas são uma fogueira e que o rapazinho precisava de aquecer as mãos.
Totalmente despropositado. Nas discotecas nunca está frio e se houvesse fogo nós não estavamos ali. Daí que a dica seja inadequada. Falem outras línguas. Perguntem "Do you speak english", "français" ou "italiano". Vão ao ginásio durante a semana. Digam qualquer coisa vulgar como "és gira" ou "danças bem". Mas por favor, não nos ofendam as malas!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Cristiano


Estou oficialmente farta do menino da minha idade que já enfia o rabo em Porshes no plural. As únicas quatro palavras que diz correctamente são Manchester United e Real Madrid, embora nem sequer as tenha empregado no melhor momento. A imprensa cor-de-rosa diz que as namoradas são gordas, sendo uma delas quase obesa. Eu sou mais gorda que a obesa.
Acaba-se a Nereida com quem se gastou um dinheirão, no prob, vem a Letizia. Chovem-lhe mulheres (pouco vestidas) que é uma coisa parva. O Julio Iglesias vem a Portimão e a organização lembra-se de que seria uma boa estratégia de Marketing dizer que o Cristiano vai assistir ao concerto, para atrair mais pessoas. Ehhhh, o Julio Iglesias, esse cantor de Pañuelos de Bajo lá da Espanha, que ninguém conhece, desta vez vem com brinde! Mas o Cristiano não foi, porque tinha massagem marcada para essa hora. Como está a recuperar da lesão, não podia andar ali aos saltos, no habitual moche ao Julio. Foi a família, a mãe e as irmãs (obesas? Naaa, a namorada boazona é que é obesa!).
E as pessoas, pelos vistos, também escassearam, coitado do Julio, perdeu a oportunidade de ter um momento de brilho na sua carreira tão apagadinha. Claro que a falta de multidão não se deveu aos bilhetes a 45 euros! Foi o Ronaldo...
Sim, eu sei que ele é um rapaz esforçado, dedicado, que ajuda a família, nem sequer é nada contra ele, coitado, teve o azar de saber jogar futebol. É a incompetência dos directores de informação ou eu sei lá de quem que noticiam um concerto do Julio como se a maior atracção fosse o Cristiano!
P.S: parece que a cada 30 segundos há uma pessoa, no mundo, a ouvir uma música do Julio.

Aveiro


Acontece de vez em quando. Um travo a ovos moles, às vezes, é suficiente para acordar o meu lado do cérebro que venera esta cidade, mas que passa a maior parte do tempo a dormir, para que eu seja uma pessoa feliz. Desta vez, foi a namorada do meu primo Luís, a Adriana. Há três anos que chega com aquela pronúncia fresca e despreocupada, que não é simplesmente do Norte. É de Aveiro.
O cérebro abriu um olhinho, como sempre, quando ela chega, mas voltou a adormecer. É um preguiçoso incurável, está habituado às cafezadas nocturnas no espaço dos arredores, que parece Marrocos. E aos passeios pelo Fórum em saldos, ao frio e à chuva, que não desencorajam o cartão multibanco que fica poucos minutos dentro da carteira. E ao Avenida, onde se passa a tarde à frente de um bolo qualquer. E ao telemóvel, sempre esperançoso em Aveiro, a convidar para ir à praia da Barra, onde o tempo está sempre insuportável, mesmo que o país inteiro esteja em alerta vermelho. E aos tremoços. O cérebro, preguiçoso, sabia que não estava em Aveiro. Ainda por cima este ano decidimo-nos pelo Turismo Rural no Alentejo, onde não vou, certamente, comprar um casaco para o Inverno...
Mas este fim-de-semana, o despertador desprogramou-se. Para além da Adriana, foi a prima da Inês, a Andreia, que disse que ia fazer Mestrado em Aveiro. E aí, o meu cérebro, que vai estar dois anos numa cidade de gente antipática, acordou de vez. E bem disposto!
Em Aveiro as meninas da Zara não dizem boa tarde. Dizem olá. Ninguém consegue sair do hotel sem escrevinhar qualquer coisa que meta a palavra simpatia no livro de visitas. Há bicicletas que andam por cima da ria, ao lado dos moliceiros. Há a possibilidade de encontrar o Fernando Cascais (até isso sabe bem em Aveiro). Há a bola de carne e os ovos moles.
Não, não nasci em Aveiro. Não, não vivi em Aveiro. Passei lá muitas Páscoas, muitos feriados e muitos Verões. Mas parece que por lá se começam bons namoros. E parece que por lá ainda vou ter que passear, este Verão, o lado do cérebro que, agora, precisa que lhe conte histórias para adormecer.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Acampar


Foi há dois dias que duas pessoas super altruístas e amigas do ambiente, decidiram ir acampar de bicicleta. Quer dizer, amigas do ambiente nada, devem achar que fui de tenda às costas. A tenda, os sacos térmicos (com comida para dez dias) e a roupa foram de carro ter connosco.
Com uma costa tão bonita e a possibilidade de não gastar quase dinheiro nenhum, porque não passar três dias nesse local tão adorado pelos turistas, que é o Guincho? Pronto, ok, para nós é quase como montar a tenda no quintal, mas o que interessa é a aventura!
A grande questão é que a Margarida não gosta de acampar. Nunca gostou. Desde aquela noite na colónia de férias em que a obrigaram a levar o papel higiénico para a casa de banho a dois quilómetros de distância. Desde aquela noite na colónia de férias em que houve uma tempestade, a tenda passou a noite toda a cair e a minha melhor amiga passou a noite toda a montá-la (a minha melhor amiga de 8 anos), porque eu, amiguinhos, eu fingi que dormia profundamente. É assim que fica o meu espírito no campismo.
Não percebo o que é que existe de tão contacto-com-a-natureza no acampamento. Sim, é no meio do pinhal, e depois? Depois leva-se a auto caravana, a antena da TV Cabo, a televisão com uma imagem que é uma maravilha (cinco centímetros quadrados de ecrã enfiados no objecto portátil), o computador, a mesa, as cadeiras, o centro de mesa, a tábua e o ferro de engomar (sim, porque aquilo no campismo é uma limpeza que nem vos conto!) e pronto, acampa-se no pinhal. Mas mesmo que assim não seja, dormir a noite toda na tenda que se monta sozinha, enrolada no saco-cama, rodeada de malas e lancheiras e entrar em pânico porque está um gato aos saltos para cima da tal tenda xpto à prova de bala ("Ai, achas que pode ser um lobo ou uma raposa?"), não é lá muito contacto-com-a-natureza... ou é?
Eu dispenso. Mas dizer que não gostei seria injusto. Porque uma boa companhia chega para que tudo corra bem. E porque a viagem de bicicleta foi divertida e nos proporcionou paisagens em que só reparamos com cuidado quando estamos com espírito de turista. E porque até fomos uma noite jantar ao Bar do Guincho (de onde voltámos a pé, às 23h, sem luz e à mercê de fantasmas, bruxas e vampiros, que toda a gente sabe que atacam pessoas à noite). E, finalmente, porque descobrimos a Praia do Abano, que não abana nada (falo, claro, do abano provocado pelo vento). Deve ser, aliás, a única praia da zona onde não se come mais areia que gelado.
O meu namorado, ele sim poderia dizer que não tinha gostado, porque, confesso, agora que estou no conforto do meu quartinho de menina e que, portanto, não tenho aquela adrenalina bué-da-fixe de pensar: "Oh não, a tenda vai voar!" e não escorro suor por todos os poros, agora que, finalmente, enchi a barriga com dois travesseiros de Sintra (onde fui, claro, de carro, assim que cheguei a casa), agora que pensei: "Se tudo correr bem, daqui a uns anos vou mas é pernoitar na Lawrence's, já que fazer turismo perto da minha zona não é nada má ideia", agora sim, posso afirmar: sou uma pessoa desesperante no meio do mato.