A ideia é a de receber as pessoas em casa. Espalham-se retratos de família pelas paredes, compra-se um cão afável, coloca-se a cozinha à disposição, fazem-se passeios com todos os hóspedes pela herdade e está feito o Turismo Rural. De Rural só tem os mosquitos e as vacas ao longe. De Turismo não tem nada, porque apenas ficamos a conhecer os parcos metros que separam o quarto da piscina (pronto, vai-se de carrinha de caixa aberta visitar a herdade, o lago e as vaquinhas, mas isso demora uma hora, portanto não conta).
“Veio para o meio do nada”, desculpa para o facto de não haver Internet. “Há sempre a televisão”, pensei eu. Não, não há. Há quatro canais, de modo que não se pode verdadeiramente dizer que haja televisão. E eu nem sou das que mais se insurge contra telenovelas e afins, mas francamente, é de tal maneira que o meu zapping pára esperançoso na RTP2! (Reportagens sobre vendedores ambulantes – uma profissão claramente em voga – em que se percebe perfeitamente que os produtores andaram a fazer economias; a vida dos elefantes – o Donut e a Verruga – ou séries de há 50 anos atrás. Não há esperança que resista). De qualquer forma, foi pouco o tempo dedicado à televisão. Mais que fazer! Desde deitar-me numa caminha ao lado da piscina; a comer crepes com chocolate ou a ficar de boca aberta a apanhar insolações de meio-dia com um factor 50 a estrangular-me a pele.
Até fiz dois amigos! Dois rapazinhos simpáticos e extrovertidos, que se mostraram extremamente interessados na minha vida privada. Queriam saber se eu estava no 7º ano e se me estava a correr bem a escola. É que eles estavam no 5º e precisavam de conselhos experientes… queriam também saber por que raio é que eu não fazia bombas e chapas na piscina. Expliquei que tinha sido assim que o meu braço se tinha partido – e tinha doído tanto! – (já se tinham chocado com a cicatriz, entretanto). Escusado será dizer que a partir daí a piscina deixou de parecer o mar da praia do Moledo.
O balanço é muito positivo. Sobretudo porque já só me faltam cinquenta páginas para acabar o Steinbeck, esse livro que me tem prendido de uma maneira parva, sendo que as suas sábias páginas já me acompanham há uns bons três meses. E também porque tive a oportunidade de treinar o meu brain e de perceber o quão treta é o livrinho que vem com o Expresso, que nos faz crer que o nosso Q.I. sai incrementado através daquela porcaria de dez páginas estilo “Onde está o Wally”. Ah e estou perfeitamente a par das tendências de moda Outono - Inverno (a ELLE trazia um suplemento sobre modelos com medidas paradisíacas em collants amarelas, enfim, um mimo).
A sério, estou renovada. Sim, essas tretas de energias manhosas vindas de planetas e estrelas distantes, gostam do Alentejo.
Acabo com uma sábia frase baseada numa outra proferida pela Lili Caneças, a senhora que vive no conto de fadas da Bela Adormecida, que diz, segundo a própria, com sabedoria Shakespeariana: “Estar vivo é o contrário de estar morto”. Ora eu digo “Estar de férias é o contrário de estar a trabalhar”! É por isso que o campismo não é para a minha pessoa. E começo a desconfiar que o interrail também não…
4 comentários:
Os soldados que celebraram a valentia do capitão Chabannes, seigneur de La Palice, com os versos "Un quart d'heure avant sa mort il était encore en vie" revelaram, no entanto, mais ingenuidade do que a expressão - só aparentemente pleonástica - da nossa Lili "Estar vivo é o contrário de estar morto", que implica muita sabedoria traduzida com singela ambiguidade. Estar vivo é tudo o que se saboreia da vida, como tu fazes, nessa reflexão séria/jocosa que não se limita aos banhos de sol e água do estar morto, intelectualmente falando. Para mais com vacas e mosquitos na expressão do nosso turismo rural, bem sugestivo da pujança pecuária do nosso país... Tudo positivo nas tuas férias. Parabéns!
qual é q estás a ler?
Com tantas andanças espero que a Flaflu não tenha passado fome estes dias todos.
ah ah ah! muito bom! e sorte tiveste tu de não apananhar o documentário sobre a lula gigante, bastante recorrente na 2... a mim, a isabel que tinha 8 anos e nasceu em Miami, deu-me 12 (o que para tua informação equivale precisamente ao 7ºano, só que eu meço mais 20 cm q tu)...
Também não gosto de campismo nem interrail, mas gosto de estar de férias!
Ah como eu gostava de estar de férias!
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