domingo, 23 de novembro de 2008

O telhado dos Aristogatos



Isso em Paris raramente neva, dizem os parisienses. Os lisboetas dizem o mesmo de Lisboa. Só que as duas populações querem dizer coisas bastante diferentes.
Nas minhas férias na "neve" da Serra da Estrela (está entre aspas, porque a nível de textura é alcatrão), nunca vi nevar. No entanto, não é algo assim tão raro. Ora quando me dizem que em Paris é raro, obviamente que nunca na minha vida vou ver esta cidade debaixo de neve. Mas há algo no conceito de raramente que o francês não percebe, é que implica que o acontecimento não se repita constantemente no tempo. Porque pelos vistos, neva todos os anos, pelo menos 10 vezes! Ora, ainda me lembro de me aperceber da dificuldade de fazer bonecos de neve no granizo aos seis anos, na primária, no dia do "Nevão de mil novecentos e noventa e tal", que não era neve, mas pronto, era branco, portanto não me venham com manias que "aqui não neva".
O momento em que as pessoas se tornam indiferentes os floquinhos brancos que voam em todas as direcções e que vêm sempre acompanhados de músicas de Natal, na nossa cabecinha tão agarrada à montra da Benetton, que desejamos inteira debaixo da árvore, é algo que não compreendo. Hoje estava aqui em casa e a minha amiga alsaciana (não, não tem desculpa!), disse: "Eh pá, está a nevar bem!" e continuou a trabalhar. Globalizing Capital and its Consequences. Muito mais interessante que a neve lá fora.
Eu fui agarrar na máquina fotográfica. O que se passou entretanto foi o êxtase total, a vontade de fazer bolinhos de natal em forma de sininhos, de comer os 24 chocolates do calendário do advento, de ir passear para a rua (muito inteligente), a memória do cartão cheia e claro, umas fotografias super podres, porque afinal não nevou assim tanto. Nem ficou neve no chão. Mas os floquinhos eram fofinhos.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Venha o Inverno



É só uma questão de voltar a pôr a máquina fotográfica na mala. Não, não é. Não há criatividade que resista à inércia. É difícil voltar a escrever.
Durante este mês, pessoas e mails (na medida do possível) entraram por esta casa. Pessoas e mails sairam desta casa. Das pessoas e dos mails, excluo-me totalmente: estva demasiado ocupada a venerar Sciences Po. Acontece que há uns tempos me chamaram Margarida e o nome soou estranho na minha cabeça. An? Os franceses dizem que Margueritte é "La Vache", porque parece que houve, em tempos, uma bela vaca chamada Margarida (tradução portuguesa), que acontecia ser uma Superstar. Claro está, o meu "nom composé" deixou de o ser, para dar lugar a um sem sabor (desculpem papás), Ana. Que toda a gente escreve com dois "n". Para além de evitar a associação directa ao animal que todas nós adoramos ser, evita a segunda expressão adorável: Ahh, Margarita!
Foi a partir desse ínfimo momento de perda de identitdade que um sentimento lamecha surgiu em mim: importantes importantes são as pessoas que ainda conhecem o meu segundo nome (salvo raras excepções). Curiosamente, são essas as pessoas a quem deixei de escrever. Sim, reformulando, cérebro inerte resiste à criatividade. Mas não à lamechice.
Daí o novo look: é Paris, sim, com o seu mau tempo (Londres é mito, é para Paris que viajam as nuvens - e metade da população mundial nalgum momento da sua vida) e com o seu café tão podre como o "leader price" que se faz em casa. Com o seu metro de há um século onde as baratas também são seres cosmopolitas. Com os seus pombos doentes, com o seu presidente adorado na Europa (ironia), com... não me ocorre mais nada de mau para dizer (bolas!). Ocorrerá. E de bom também. Para isso é que servem os blogs.
Afinal, é só uma questão de voltar a pôr a máquina na mala. E de pensar que observar pode durar para sempre. Com uma pequena nuance, que nos coloca numa posição incomparavelmente melhor que a desta pequenina criatura: não somos feitos de pedra.