quarta-feira, 30 de julho de 2008

CCB


Mas porque é que no CCB até a porcaria das portas das casas de banho são originais? Porque é que eu fui ao CCB re-re-rever a colecção do Berardo, havia apenas três míseras salinhas disponíveis e, ainda assim, consegui não ficar minimamente chateada? E porque é que a exposição do Le Corbusier, apesar de muito criticada pela minha amiga arquitecta - a Joana, que estava comigo nesse dia - me agradou tanto? Porque enfardei uma tosta mista e uma Pepsi ao longo de duas refasteladas horas na esplanada das Oliveiras, antes de entrar no museu. E porque o facto de estar a comer não me travou a língua. É que convenhamos, duas horas de conversa à beira Tejo, num edifício que por fora tem paredes, por dentro tem jardins e na zona mais profunda tem obras de arte, é talvez a experiência mais zen que sou capaz de ter.
Estou a par da visão do CCB como uma afronta aos Jerónimos e à Torre de Belém. Mas, talvez por força do hábito, o edifício me pareça quase transparente, embora extremamente bonito. Além disso, a dinâmica que veio criar é espectacular. O CCB funciona como o passeio de Domingo. Funciona como a alternativa artística que corresponde de forma perfeita ao fascínio português pela palavra grátis. Funciona como um saxofone e um piano de notas improvisadas às Quintas. Funciona como a diversão da semana de muitos dos velhotes que povoam a Grande Lisboa e que nunca se desligaram daquilo que, em tempos, a punha a dançar: o bailarico. Funciona como local de aperfeiçoamento artístico. Funciona como Festa ou Dias da Música. Funciona. E ainda bem.
Ainda bem, porque o Centre Georges Pompidou pode até ser mais completo a alguns níveis, mas é mais feio, tem mais japoneses e só é grátis às Quartas-feiras ao fim da tarde, hora da pelintrice, que vai para lá massivamente conversar sobre os saldos do BHV à frente de um Miró, salivar mas é por uns bons croissants perante um Kandinsky e/ou tirar fotografias com os Chagais.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Quem é Quem?


Olhando para esta imagem, respondam-me: qual destes é o macho? O da esquerda ou o da direita? Já está, já pensaram? Já têm a resposta? Sim? Ok, então agora respondo eu: é, sem qualquer sombra de dúvida, o da esquerda. E garanto-vos que não andei de gatas a espreitar as zonas íntimas destes peluches. É que não é preciso, uma vez que, se repararem bem, isto não são tartarugas, de modo que há um pequeno pormenor que diferencia o macho da fêmea: os chifres, cornos, pauzinhos, antenas, como queiram chamar-lhes. Estamos, portanto, perante um carneiro e uma ovelha.

Pois então queiram explicar-me, porque é que ontem, quando vos comuniquei aquela bela frase proferida pelo atrasado mental que viu o Batman ao meu lado (direito, porque o rapazinho que estava ao meu lado esquerdo, o meu namorado, até é bastante simpático), o nosso magnífico corrector automático me propôs substituir "cornudo" (palavra que não reconhece), por "cornuda". Porque cornuda é coisa de mulher? Assim no sentido figurado da coisa?

Sim, vá, indignem-se lá só um bocadinho. Já está? Sim?

Pronto, mas não há nada que saber. Corrector automático tem sempre razão, não queiram armar-se em espertinhos: Cornuda é um peixe seláquio da família dos Carcáridas, raro em Portugal (lá está, por isso é que eu nunca tinha ouvido falar... pacóvia).

Então e nós, seres humanos há pouco indignados? Onde está a nossa razão? A indignação não é uma coisa que se esvaia assim tão facilmente! Há que refutar. Se bem que neste caso nem é preciso ir procurar inspiração aos apontamentos de retórica (ainda bem, porque aí devem estar duas linhas toscas, escritas em seis meses) ou aos confins da Grécia Antiga. A nossa razão está no facto de este peixe também ser conhecido por Cornudo! Cornudo é o macho! E agora? An? E agora, senhores da blogspot, voltamos à estaca zero. Eu cá acho que há discriminação.

sábado, 26 de julho de 2008

W(ohhhhh)ALL-E


Ontem fui ao cinema ver... a parte em que o Wall-E diz que piratear DVDs, nomeadamente o do Ratatuille, é crime!!! E que filmes pirateados ele reconhece muito bem: são 700 anos de experiência. Não é para qualquer um. No meu currículo ainda nem um ano posso contar. E a parte em que o Wall-E fica com um soutien preso aos olhos. E a parte em que o Wall-E emite um som sem palavras. E a parte em que o Wall-E é o melhor boneco de sempre alguma vez inventado pela Disney-Pixar. E que vem com a melhor música.
Acho que tenho um problema. Desde o Tamagochi que tenho um problema. O meu Tamagochi obeso e demente... que andava sempre com o mal educado da Carolina.
Vou estar na estreia do robô. Não na primeira fila, porque isso seria demasiado parvo. Mas vou lá estar e, depois, vou bater nos anormais que ontem gozaram o tempo todo com o boneco e que, como se isso não bastasse, não se calaram durante o Batman inteiro: "Pronto, agora vai comê-la. Tinha que haver um cornudo. Há sempre um cornudo". Parvalhões.
Pois é, comigo é assim: dá o anúncio da Super Bock e o anúncio dos DVDs pirateados e eu já estou a chorar e a fazer gemidos amorosos, de modo que até pode não haver filme. Se bem que gostei muito do Batman, mas quanto a isso deixo os entendidos pronunciar-se.

Porque é que é tão bom viver na aldeia


Porque quando a Andreia engravidou, eu soube logo. E quando o senhor e a senhora Silva se divorciaram, até soube antes que a coisa já não estava bem. E quando alguém morre, os cafés fecham mais cedo para que os donos estejam a horas decentes no velório. Porque nunca é negado um copinho ao alcoólico, embora toda gente nutra por ele uma espécie de pena, misturada com aquilo que "os meus filhos graças a Deus não são".
Porque a dentista, que dormia todas as noites em casa do vizinho do lado, burlou a maior quadrilheira e deixou de ter clientes. Porque há uma concentração de idosos à frente da minha rua que está em obras, para saber o que se vai construir, afinal, ali. Porque os animais abandonados são os mais felizes: "Nós organizamo-nos para que tenham sempre comida". Eu própria costumo agarrá-los e encostá-los à cara num acesso estranho de maternalismo. E chego a casa a coçar-me por todos os lados.
Porque a Carolina só tira vintes na escola e a Patrícia vai seguir Economia. Porque a Margarida vai para França trabalhar (emigrar, como o meu amigo Pereira). E porque o resto dos habitantes ou está reformado ou "vive dos rendimentos", de modo que tem tempo para passar o dia na quadrilhice e na suecada.
Porque a felicidade é a única coisa que se vê. E, no entanto, há tanta desgraça para comentar... existe uma espécie de pacto de silêncio totalmente respeitado e completamente por respeitar. E esta é a forma mais confortável de viver. I like it! Sei que todos escondem debaixo da cama um bocadinho de infelicidade. Todos menos eu, pensam eles. Penso eu que eles pensam. O Fernando Pessoa é que gostava destas coisas. E também gostava de galinhas. Eu cá fico baralhada. E não, não gosto especialmente de galinhas (vivas).
Tudo isto a trinta quilómetros de Lisboa. O que se pode desejar mais?

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Bafureira


Ah, sim, a Margarida está de férias na boa vida. Pois é, mas não deixa de estar na costa do Estoril. E de ter sido, ontem, obrigada a ir à praia da Bafureira. Não sei, não percebo como é que a tão fantástica Natureza se lembrou de criar uma coisa assim. (estou a brincar, na verdade nem foi só a praia que me chateou).
Cheguei e estendi a toalha em cima de uma pedra, porque areia, esquece. A maré estava cheia (cheia de água, cheia de algas, provavelmente cheia de alforrecas e até mesmo cheia de sacos de plástico). Abri o meu livro, mas por incrível que pareça, em seis metros quadrados de praia, as pessoas continuam a achar que é possível jogar futebol, portanto os meus olhos acabaram colados à bola que se manifestava violentamente à minha frente.
Bom... não é grave, Margarida. Grave grave seria essa criancinha nua vir urinar ao pé de ti. Pois é, a criancinha veio. Mas quem a pode censurar? Os pais não podem de certeza, porque para além de serem eles os jogadores de futebol, estiveram o tempo todo a fumar droga. Francamente... mitralhada intelectual de trinta anos, com ar de até ter um emprego decente é coisa para que não há paciência. Então quer dizer, levam a criançada à praia, as sandes, os sumos, o balde, as pás, A BOLA, o leitinho e a droga! Podiam ter também levado o fato de banho do miúdo, já agora...
Acho que as pessoas andam com problemas de crescimento. Não sei se lhes faltou sopa ou educação, não sei se queimaram demasiados neurónios na adolescência, mas talvez devessem passar a beber o Nestlé Crescimento que dão aos filhos.
Contudo, uma excepção para o bar da praia. É especialmente bonito, calmo, vazio... parece que ainda está por descobrir. E tem obviamente uma vista fabulosa. O café, esse, tem tudo isto incluído: custa €1.20. Mas pronto, como no post anterior, "vale bem a pena".

Jogos de Verão (nada de desporto an?)


Isto? Isto é OBVIAMENTE um pastel de nata! Um pastel de nata desenhado no meu pictionaryzinho ecológico que não necessita de folhas de papel. Ohhh...
É impressionante. Desenha-se um traço nesta coisa e há logo três pessoas a gritar: "árvore", "pessoa", "bicicleta", flauta", "casa"! E não há nada a fazer, o grupo está lançado, quem está a desenhar que se lixe, tente concentrar-se com barulho que também é bom. E é chocante que nunca ninguém saiba desenhar quando se trata de Pictionary! Até pode estudar em Belas Artes, mas Pictionary implica traço desajeitado! Se bem que isto também só tem piada assim. É como o Karaoke, quando alguém canta bem, a plateia adormece (nem sempre, mas pronto, é mais divertido ouvir cantar os desafinados).
E este Pictionary foi-me oferecido como alternativa a um perfume! Comprado na véspera de Natal, quando os únicos jogos que sobram no Continente são os ranhosos, não veio com muita expectativa. A caixa onde vem é pequena, o jogo chama-se chama-se Pictionary Mania (não é a versão clássica, portanto)... hummm... claro que quando o desembrulhei achei que sim, que devia ser giro, então foi para a arrecadação... e lá ficou até ao dia em que meia dúzia de desocupados estava em minha casa sem vontade de jogar Risco.
Seguiu-se uma gritaria gigante:
  • Desenho Clássico: é a parte em que, supostamente, as pessoas jogam mal, porque se trata de desenhar. Pois é, mas aqui não! Aqui é o desafio mais desejado, o facilzinho, o que está ganho até de olhos fechados (ai, não! Olhos fechados é difícil!).
  • Desenho Dirigido: é para dizer (gritar) figuras geométricas ao parceiro, para ele desenhar um objecto. O resto da equipa adivinha: "linha na horizontal, diagonal a sair de cada canto da linha, NÃAAAO! Ao contrário! Mas és estúpido?? Não pensas!, linha a unir as duas diagonais, traço para cima, dois triângulos, um de cada lado". (Já agora, alguém sabe o que é isto?).
  • Desenhar nas Costas: da última vez, um dos membros da minha equipa, pessoa dotada de grande sentido prático, desenhou-me um círculo nas costas, durante um minuto inteiro. Mas eu é que era a estúpida! Claaaro que era uma pulseira, que mais poderia ser?
  • Desenhar de Olhos Fechados: é, simplesmente, atrofiante. Quando se tira a venda, o resultado é hiper deficiente. Este é o único momento em que não se ofende os parceiros por não terem acertado.
  • Marioneta Humana: o resultado não tem nada a ver com aquela cena do Chicago, não. Temos pena. Mas é, sem dúvida, o mais hilariante. É que as palavras são tipo "galinha" e "Capitão Gancho".
  • O Segredo Está no Pulso: voltamos à infância, agarram-nos no pulso e desenham por nós.

Se houvesse um casino de jogos de tabuleiro, eu estaria desgraçada. Não havendo, há os amigos com quem acabo de trombas por ter perdido. Mas vale bem a pena. Pior é para os vizinhos.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Ok, estudei publicidade. E depois?


Sei que é impossível fugir à publicidade. Estou em minha casa, no meu quarto, na minha secretária algo caótica (apesar das férias) e através da visão periférica consigo alcançar: um Fujitsu Siemens, um Nokia, uma caixa de O.B., um calendário do Hotel Moliceiro, um cartão dos Bombeiros Voluntários dos Estoris (Estoris... é de todos os Estoris do Mundo!!!), um bâton da Sephora, uma caixa de óculos João Rôlo, outra caixa de óculos da Mango, um Chupa-Chups, algumas Stabilo Boss. Enfim, sinto-me, de facto, uma vendida, embora também não tenha grandes hipóteses.
Mas por amor de Deus. Na praia??? Mas já não chega o creme da Piz Buin, a revista Happy, a toalha da senhora do lado que, pelos vistos, lava a cabeça com Loreal, o guarda-sol da Olá? Não! Tiveram que meter avionetas da Seat a fazer acrobacias a 5 metros de distância das pessoas; avionetas a puxar aquelas redes ridículas que dizem coisas tipo: "Hoje às 21h30, Aldo Lima no Fórum Almada", ou até "Parabéns Rita", sendo que a Rita, provavelmente, nem está na praia, porque nunca vi ninguém reagir de forma eufórica à passagem de um avião destes.
Hoje, passou um avião da TMN. E lá foi, rápido, a atravessar a costa dos "Estoris", a poluir, a fazer barulho... e logo a seguir, surge no horizonte um objecto ridiculamente lento: um barco à vela. Ora, um barco à vela sem vento e sem corrente, com as velas levantadas a dizer Optimus não me convence. Não sei, parecem-me factores naturais importantes para velejar. E garanto-vos que não sou nenhuma croma da vela, para afirmar isto com tantas certezas. Sempre que fui posta num barco com posições importantes, consegui fazê-lo virar. Uma das vezes foi no rio Tejo, onde me fartei de engolir água. Pena foi só ter reparado mais tarde que havia ratos mortos a passar.
Enfim, uma pessoa vai para a praia aproveitar a natureza, o mar, os castelinhos na areia, as crianças, o livrinho e estão sempre a dar a ideia de que estamos no comboio a ver mupis, na net a carregar em links, no sofá a ver televisão. Porque é que não deixam a publicidade actuar sozinha? Ela já faz parte de nós, já está entranhada na pele para a proteger do sol, já está no software do telemóvel, já está na roupa, nas chinelas, enterrada na areia (baldes e pás da Imaginarium). Para quê acrescentar objectos estranhos ao habitat publicitário da praia?
É que se for preciso, depois de passar um avião da Água das Pedras, pede-se ao senhor do bar uma Água das Pedras, o supra sumo publicitário, que está para a água com gás como os Kleenex estão para os lenços de papel (impuseram o seu nome aos objectos, sendo que um Kleenex é um lenço de papel, mesmo que seja da Renova) e o senhor diz que não há. Não há? Não há água das pedras? (igual a: "não água com gás?"). Não, só há Frize. Ora, vale de muito a extra-publicidade na praia, vale.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Verão


Há os Morangos com Açúcar de Verão, a Herança de Verão, a Fátima Lopes de Verão (chama-se O Programa da Fátima, mas é apresentado pela Rita Ferro Rodrigues), vai haver uma nova novela da SIC, que me pareceu claramente de Verão (meninas de bikini, praias maravilhosas, jovens de 15 anos). Então porque é que este blog não se tornaria mais Verão também?
Bem sei que o público não é o mesmo (isto não é propriamente um blog de massas, não só pelo conteúdo altamente intelectual, mas também pela quantidade de pessoas que o lê).
É que eu devo ser a única criatura de férias entre os meus amigos e família (já dei voltas à cabeça e não encontro mais ninguém). Assim, decidi modificar um bocadinho o blog, para ver se os meus leitores, nas redacções dos seus jornais, nos compartimentos com ou sem janelas das suas empresas, ou mesmo nas suas casas, possam ter, como eu, um bocadinho de Verão. Entretanto, prometo alguns conteúdos da época. Para já, ficam com imagens e Summer colors, para animar!
Porquê agora, se o Verão já começou há um mês? Ora, porque não me venham com coisas, Verão que é Verão passa-se a partir de Agosto (e assim sendo, até estou adiantada)! Nem que venha o solstício refilar!

sexta-feira, 11 de julho de 2008

As crianças já não são o que eram

Eu e o meu primo Luís. Para os que andam na internet com objectivos muito pouco nobres, aviso que, neste momento, temos mais vinte anos em cima.
Estou a brincar (em relação ao título), claro que são, mas há algumas que fazem uma certa confusão... tenho a certeza de que todos somos unânimes nesta questão: criança que é criança tem que abrir a boca num jantar para dizer: "Ah tu é que és a tia Joana? A Joana do rabo grande?". Tem que dar beijos aos animais e esfregar-se nas poças de água no Inverno. Tem que cair e partir dentes, cabeça, braço, o que for. Tem que obrigar os pais a parar na berma da auto-estrada, porque senão faz xixi mesmo ali no banco de trás. Tem que ter sempre fome e sede. Tem que se esconder debaixo das saias dos manequins quando vai ao shopping e chocar-se, aos gritos, com o facto de elas não terem cuecas! Tem que ver o mesmo desenho animado cinquenta vezes e decorar as falas. Porque se assim não for, não é em adulto que vai ser.
E há uns dias, no Clube de Ténis do Junqueiro, estavam dois rapazinhos de cinco anos a jogar ténis imaginário: com duas raquetes e sem bola. E sofriam com aquilo e marcavam pontos e faziam os movimentos correctos, enfim, levavam a brincadeira a sério, mas acabaram, claro, a bater-se mutuamente com as raquetes. E disse um para o outro (cinco anos, volto a referir): "Olhe que você não podia ter feito isso!". Você? Mas o que é isto? Mas agora os pirralhos tratam-se por você?
Claro que já estava a par de todos os tratamentos por você possíveis dentro de uma família: filhos para pais, pais para filhos, netos para avós, avós para netos, tios para sobrinhos (mesmo que não sejam nem tios nem sobrinhos), sobrinhos para tios, mulher para marido, marido para mulher (este também acho o máximo e, sobretudo, revelador de grande intimidade entre o casal)... mas de criança para criança? Juro que não achei normal. Com cinco anos era bem capaz de tratar por tu, sem qualquer problema, o Presidente da República! Mesmo que ele mandasse na entidade mais autoritária do mundo: "os polícias"! E depois?
Não sei porquê, nem sou capaz de elaborar nenhuma teoria acerca deste assunto. Mas soou mesmo muito estranho. Sempre me disseram que o tratamento por você era uma questão de respeito. Mas de respeito pelos mais velhos ou pelos desconhecidos... o "você" tem ainda uma carga formal bastante forte. É verdade que quando somos crianças tratamos toda a gente da mesma forma: o PR e os nossos amigos por tu ou o PR e os nossos amigos por você. Depende do que ouvimos em casa. Mas os meus ouvidos vivem numa cultura que ainda não está habituada a crianças a conviverem como adultos. Crianças que se tratam por você parecem crianças que não são capazes de jogar ténis imaginário... deviam estar já a tratar de negócios ou a discutir a inflação. Mas pelos vistos isso é preconceito meu.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Seguros


Ontem fui tratar de um problema com o seguro do carro. Estava preparada apenas para tratar do problema. Saí de lá com um seguro para os dentes e com estes belos panfletos de início de século - século XX - (ver qualidade da imagem), da LUSITANIA Seguros, com imagens de pessoas que têm cara de tudo, menos de lusitanas. Para além disso, fui confrontada com questões do estilo: "Se os ocupantes morrerem, o seguro cobre x, se ficarem (apenas) inválidos, o seguro cobre y". Ou "Imagine... se for contra um autocarro cheio de crianças, fica bastante caro, porque fica responsável pelo tratamento de muitos ocupantes, mas o seguro cobre isso tudo!". Mas é que é obvio que eu, no meu mini carro, vou lesar um autocarro cheio de crianças! Coitada de mim se for contra um autocarro cheio de crianças!
Os seguros funcionam a humor negro. Só que, como aliás é característica deste tipo de humor, muitas vezes, não têm graça nenhuma. Encarnam os nossos momentos de depressão. Pensar na morte, nas doenças, nos acidentes que nos vão deixar incapazes de mexer as mãos... credo! Para verem o teor da minha discussão acerca do seguro automóvel, a minha interlocutora "bateu com a mão na madeira" quase sempre, antes de falar. O que me preocupa é que a mesa era de ferro (ou qualquer coisa do género). Agora não sei, preocupem-se comigo. E pensem também nos meus dentes que nunca tiveram problemas, MAS QUE VÃO TER e, por isso mesmo, precisam de um seguro de estomatologia! E enquanto vão pensando, vejam lá aqui esta solução oferecida pela LUSITANIA:
Tem a família enfiada numa casa, tem carro e empregada doméstica, gosta de caçar nos tempos livres, trabalha comodamente por conta própria e, acima de tudo, tem muito medo de vir a perder drasticamente esta vidinha estável? (esta é a parte que nos leva a fazer seguros, mas que, não sei porquê (sei sim, bolas!), fica sempre escondida por detrás destas pessoas felizes da imagem, aparentemente sem problemas de maior). Pois então:
  • Renda Familiar - A estabilidade garantida
  • Acidentes Pessoais - Sempre ao seu lado
  • Residentia - Você e a sua casa
  • Automóvel - Na estrada em segurança
  • Saúde Auro - Você escolhe melhor
  • Empregada doméstica - Para quem olha por si
  • Caçador - Segurança no lazer
  • Trabalhador Independente - Seguro de si

Conclusão: se tem uma vida perfeitamente normal, pense (com muita imaginação) em assegurá-la em todas as suas particularidades. Pior é que com oito seguros a pagar ao fim do mês, os seus bens podem acabar na feira da ladra. Há que fazer pela vida! E já agora, estas novas teorias do marketing pseudo pessoal levam a situações tão ridículas como a da "Segurança no lazer" do "Caçador". "Eh pá, olha que isto é mesmo para mim!" Francamente...

Felizmente, em Portugal, a situação ainda é a contrária: comprar o Ferrari e o seguro contra terceiros (não há dinheiro suficiente). Mas vê-se que há um esforço por parte dos seguros para combater isto.

terça-feira, 8 de julho de 2008

O bolo


Tenho um bolo no forno que me obriga a escrever um post sobre livros de receitas, escritos por pessoas que pensam que o mundo é uma cromice (e agora, com c ou com dois ss? Estas palavras já vinham no dicionário...) e que escrevem em meias palavras. "Junte as três chávenas de farinha e a água". Junto, bato o preparado que salta por todos os lados e oiço os gritos da minha mãe: "Isso é para ir juntando aos poucooos!". Claro que é, é lógico (palavra da minha mãe). Pena é não estar lá escrito.
"Misture as claras em castelo" e toca de ligar a batedeira para misturar! Qual quê? É para misturar com a colher de pau! Então toca a misturar (a seguir) com a colher de pau. E quando a colher de pau fica cheia de massa de bolo, NÃO SE BATE COM ELA NA TIGELA ONDE ESTÁ O PREPARADO! Vai-se com o dedinho e empurra-se a massa para o recipiente (teoricamente, claro. Eu empurro-a directamente para a boca). E o bolo está no forno...
Logo à noite, o meu namorado prova e diz que "Está bom", independente de estar ou não, sem nunca deixar, no entanto, de reservar uma entoaçãozinha de "O de chocolate que tenho lá em casa é melhor". Ao menos a minha mãe, nestas coisas, ainda me trata como uma criança: "Hmmm, está mesmo bom, eu gosto muito! Inhami!". E eu acredito, claro. Os pais nunca mentem.
Só mais uma coisa. Este instrumento. Foi ele que me ensinou que o "Salazar" não era uma pessoa muito querida dos meus pais: "É o rapa-tudo". Na fotografia mais parece o Elvis embora, de momento, já não tenha cabelo, porque eu o lambi. Valha-me a massa crua, então!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ça ne balance plus


Pois é, havia um baloicinho chamado Sciences Po, no qual estive sentada com o meu chupa-chupa da Vodafone. Mais um mail com o assunto: Your application status at Sciences Po. Mais uns tremores, mais uma vozinha descontrolada... leio ou não leio? Ali podia estar mais um "nhecos" como dizem as crianças, podia estar Paris ou podia estar Lisboa. Em baixo estava o mail a convidar para ir ao Maxime, mail que, desculpa Inês, ignorei completamente.
"O peru está a queimar dentro do fornooo!", gritou uma voz na minha cabeça. Abri o mail, "J'ai le plaisir de vos informer que". Mas nunca se sabe, não é? A senhora podia apenas querer dizer-me que a cadela tinha tido bebés.
Mas não se conta a mesma piada duas vezes e, a partir de Setembro, este blog vai passar a ser escrito directamente de Paris (talvez se torne finalmente interessante, quem sabe).
Agora há um milhão de coisas para tratar, claro, mas já vai ser com outro ânimo! Uff, a ideia dos Xanax não me estava a agradar nada... e vou querer visitas desta vez! Sim, vamos conquistar a Europa! Ahah

quarta-feira, 2 de julho de 2008

A fingir que foi há muitos anos

É um chupa-chupa e está aqui embrulhadinho há DUAS semanas. Foi desembrulhado para a fotografia.
O fenómeno publicitário de distribuição de panfletos é uma coisa fantástica. Eu devo ser realmente a única pessoa que tem o armário cheio de lixo da VitalDent, porque não me parece que mais ninguém adira à ideia. Geralmente coloca-se alguém com um boné, estrategicamente ao sol, porque está mais calor e se os distribuidores de quinze anos estão ali a ganhar uma fortuna de 200 euros por mês, é bom que trabalhem para isso, porque a vida não está para calões. E as pessoas, como são estúpidas, aceitam os papelinhos e deitam instantaneamente fora, num gesto totalmente reflexo. Aceitam, mas atenção!, sem qualquer intenção de ler. E ainda por cima os papelinhos são como cascas de banana (não, ainda não caí, dada a minha condição física estou proibidíssima de cair e, para espanto de muitos, eu sei, tenho cumprido à risca o aviso).
Agora... quando se trata de chupa-chupas, sopas instantâneas, cereais, bebidas ou iogurtes, a coisa muda de figura. Parecem formiguinhas, as pessoas, formiguinhas com cérebro, que pensam assim "hummm, já poupei 50 cêntimos" ou "hummm, já tenho jantar", ou "AHHH, UM SSUPA-SSUPA TÃO FUFINHO". Isto fui eu. E furei a multidão que atacava estas florzinhas doces, claramente alusivas ao futebol e que, tal como eu, voltava aos cinco anos, idade em que os dentes podiam ficar estragados, porque iam cair para deixar nascer outros. E o chupa-chupa foi directamente para a mala. E lá ficou até hoje, guardadinho ao lado da vaquinha de peluche que faço sempre questão de trazer comigo, que tem uma coleira cor-de-rosa e um sininho pendurado. É a vaquinha Muu muu, o meu amuleto da sorte e dos momentos parados no comboio, que gosto de passar a brincar (ai de quem, por momentos, acreditou nisto).
A Vodafone estava a oferecer chupa-chupas às crianças que vão toodos os dias trabalhar para Lisboa via Caichudré e que, ultimamente, têm que passar por um carreirinho (mágico!) de meio metro para entrar na estação. Os meninos de quinze anos lá estavam a ocupar 25 centímetros e as pessoas outros 25, a situação estava a ficar complicada, os comboios começavam a sair sem gente, a chegada a casa estava a afastar-se temporalmente, mas sabem que mais? Nem um piu. Toda a gente feliz de chupa-chupa na mão, a sorrir, porque o dia até estava bonito. Oh, crianças inocentes, enfio-lhes o Noddy pelos olhos (salvo seja) e quero ver se a reacção é a mesma que ao chupa-chupa.
E pronto, também fiz planos mignons para abrir o chupa-chupa depois do jantar, mas o objecto foi ficando e ficando a desafiar a minha total entrega sem questionamento às promoções e ofertas publicitárias, até que hoje me lembrei de o abrir e provar e perceber que é MESMO muito bom, mas que faz mal ao meu plano de desporto saudável que implica comida saudável, para ver se evito operações nos próximos cinquenta anos. Sabe a caramelo... agora vou-me embora, tenho que ir exigir dos papás um telemóvel Vodafone da Hello Kitty!

Um dia desses eu me caso com você


Quando tocava piano, se por acaso calhava pensar num primo longínquo a meio do estudo de uma frase, sempre que voltava a tocá-la, fosse horas depois, fosse anos depois, pensava no primo. Lá estava ele agarrado às notas, preso àquelas cinco linhas pretas, claustrofóbicas de tão apertadas. E ficava enquanto os harmónicos soavam, mesmo que já não soassem a nada perceptível, mesmo que fugissem do desenho hertziano audível.
Chamam memória auditiva ao que os nossos ouvidos fecham no cérebro. Eu chamava-lhe memória visual. Mas a verdade é que é uma memória inexplicável, uma memória que atravessa linguagens imperceptíveis (que alguns têm a prepotência de chamar... matemáticas), que entra pelos ouvidos, mas parece entrar pelos poros. E que passam por lábios que sopram em objectos dourados, por dedos que fazem tocar martelos, por cordas que se partem a todo o momento, mas que nem por isso são razão para fazer parar uma orquestra, demasiado empenhada em manter acordado o mar instável por cima das nossas cabeças. Os matemáticos, esses, vêem as ondas que ficam no ar. Eu via o primo longínquo.
Um dia cheguei a pensar que sabia música. Cheguei a ter a prepotência de lhe chamar nomes ofensivos, para explicar às crianças que existem frequências e ritmos que são o dobro, o triplo, o quádruplo uns dos outros. Cheguei a achar que era simples: uma questão de mais pressão aqui, mais movimento ali, mais equilíbrio nas pernas, costas mais direitas, notas mais correctas, mais staccato, mais graciosidade, mais "o que está escrito". Cheguei a pensar que sim, que música era tudo, mas tudo bem feito. Então curei-me dos anos de Spice Girls. Pensava eu.
Mas não posso explicar. Sempre que oiço um CD, há uma música... uma música que o vai riscar, que me vai acompanhar em idas e voltas a pé entre Lisboa e Tóquio, uma música que não me faz ver nada senão o que se passa nos meus ouvidos viciados em melodias simples que os façam sentir bem. Uma música cujas linhas têm que perturbar os meus tímpanos até à exaustão. Uma música que daqui a uns meses já não vou conseguir ouvir. E isto não é digno de uma menina bem formada.
Um dia desses eu me caso com você. Não é uma declaração de amor ou promessa minha, mas foge-me da cabeça sempre que se cala, e é obrigada a voltar pelos meus dedos maníacos que se colaram à "repetição" do mp3. Um dia desses eu me caso com você. Tão piroso, parece country na noite do rancho do vaqueiro dos "Laços de Família". Mas os meus ouvidos são uns mal educados, não há nada a fazer.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Ça balance...


Os meus mails são actualizados 956 vezes por dia, ao ponto de a minha tecla "F5" estar mais gasta que as outras. E estas 956 vezes são justificadas pelo facto de estar à espera de UM mail. O mail que vai decidir dois anos da minha vida. Pois é, os mails não se medem aos palmos.
Claro que os senhores de Sciences Po não estão a par do meu stress. Até este momento, aliás, ninguém estava a par do meu stress. Nem eu estava a par do meu stress. As palavras de indiferença e as frases de total desliganço da questão, género "Estou a candidatar-me a um Mestrado em Paris..." (bons objectivos, bons objectivos, pessoa aberta ao internacional e com vontade de continuar a aprender), "...mas já sei que não vou entrar"; seguidas de: "estatísticas, políticos importantes e inteligentes demais todos lá formados, filósofos estudados na faculdade que dão lá aulas (e que eu pensava mortos!), etc."; não raras vezes, finalizadas com um ressabiado "Também acho que não quero ir". E pronto, mentirinha aqui e ali, acabou por convencer-me também a mim de que, se não houvesse Sciences Po para ninguém, não fazia mal, porque afinal, pffff, Paris não me interessa nada.
E ontem desmoronou-se-me a Muralha neurónica da China em França, de momento em Portugal, quem sabe, para sempre em Portugal e, por vezes, noutro lugar qualquer. Recebi um mail de Sciences Po. Pensava que era O mail de Sciences Po. E ele começava com a seguinte frase:
"J'ai le plaisir de vos informer que...". Ora ora, quem diria que a Margarida apática ia começar a tremer de felicidade por todos os lados e que ia perder o controlo da voz? Se a senhora tinha o prazer de informar-me de algo, supus que fosse de uma coisa boa. Claro que nos meus pensamentos mais refundidos, naqueles que se escondem no estômago, não sei se é bom entrar. Mas a senhora tem o dever de julgar que sim, que eu não tenho medos, que não tenho dúvidas, que sou uma máquina transformada em caracteres sustentados por códigos html, que chegaram em PDF ao ecrã do seu Dell.
Mas não. E isto, isto eu considero o cúmulo da burocracia. Pois o meu mail dizia que eu estava na lista dos admissíveis (traduzido: que eu estava na lista dos que não são estúpidos ao ponto de entregar dossiers incompletos). Fiquei a saber que continuo a poder ser admitida. Só que disso eu até já sabia. O que fiquei mesmo a saber é que quero muito ser admitida. Essa foi a grande novidade. E agora? Agora, Margarida, vais ser looser se não entrares. Oh yeah, acho que vou já comprar os Xanax.
Tic-Tac...