terça-feira, 14 de abril de 2009

O fruto da globalização


Escolher vinhos na Holanda quando se vem de França torna-se bastante complicado. No mais ridículo (e nojento) supermercado parisiense há dez prateleiras de vinho enfiadas à força em qualquer espaço. Há vinho ao lado da prateleira do leite. E como só há vinho francês e "vinho francês é sempre bom", compra-se o vinho de dois euros. Não há uva aristocrata francesa que resista à crise ou aos estudantes. "Vinho francês é sempre bom", ponto. Há que alimentar o mito.
É em França que se bebe mais vinho. Todos os dias, ao descer os cinco andares de madeira e em caracol do meu prédio de mais de cem anos, me cruzo com pelo menos cinco garrafas de tinto vazias. Uma por andar, todas quietas, sozinhas, cada uma com a sua história, cada uma no seu lugar. Desenganem-se os que se insurgem contra as sopas de cavalo cansado a partir dos três anos em Portugal. É em França que se bebe mais vinho.
Já na Holanda, a experiência é outra. Numa prateleira tímida, alinham-se meia dúzia de vinhos caros. Mas a noite pedia um verdadeiro aristocrata. A escolha foi então para o "Sauvignon Blanc de Bordeaux da Argentina!". Um aristocrata viajado. E fotogénico! Era mais barato assim.
Não foi um sucesso. Os sabores, como os cheiros ou os sons, têm o dom de nos fazer viajar. Mas o ser humano não pode estar em dois sítios diferentes ao mesmo tempo! O vinho da Argentina é bom. O de Bordeaux também. Mas Sauvignon de Bordeaux da Argentina é capaz de ser exagerar. Quem tudo quer... fica a marinar. Com um bocado de carne de vaca, alho, sal, pimenta e colorau.