domingo, 23 de novembro de 2008

O telhado dos Aristogatos



Isso em Paris raramente neva, dizem os parisienses. Os lisboetas dizem o mesmo de Lisboa. Só que as duas populações querem dizer coisas bastante diferentes.
Nas minhas férias na "neve" da Serra da Estrela (está entre aspas, porque a nível de textura é alcatrão), nunca vi nevar. No entanto, não é algo assim tão raro. Ora quando me dizem que em Paris é raro, obviamente que nunca na minha vida vou ver esta cidade debaixo de neve. Mas há algo no conceito de raramente que o francês não percebe, é que implica que o acontecimento não se repita constantemente no tempo. Porque pelos vistos, neva todos os anos, pelo menos 10 vezes! Ora, ainda me lembro de me aperceber da dificuldade de fazer bonecos de neve no granizo aos seis anos, na primária, no dia do "Nevão de mil novecentos e noventa e tal", que não era neve, mas pronto, era branco, portanto não me venham com manias que "aqui não neva".
O momento em que as pessoas se tornam indiferentes os floquinhos brancos que voam em todas as direcções e que vêm sempre acompanhados de músicas de Natal, na nossa cabecinha tão agarrada à montra da Benetton, que desejamos inteira debaixo da árvore, é algo que não compreendo. Hoje estava aqui em casa e a minha amiga alsaciana (não, não tem desculpa!), disse: "Eh pá, está a nevar bem!" e continuou a trabalhar. Globalizing Capital and its Consequences. Muito mais interessante que a neve lá fora.
Eu fui agarrar na máquina fotográfica. O que se passou entretanto foi o êxtase total, a vontade de fazer bolinhos de natal em forma de sininhos, de comer os 24 chocolates do calendário do advento, de ir passear para a rua (muito inteligente), a memória do cartão cheia e claro, umas fotografias super podres, porque afinal não nevou assim tanto. Nem ficou neve no chão. Mas os floquinhos eram fofinhos.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Venha o Inverno



É só uma questão de voltar a pôr a máquina fotográfica na mala. Não, não é. Não há criatividade que resista à inércia. É difícil voltar a escrever.
Durante este mês, pessoas e mails (na medida do possível) entraram por esta casa. Pessoas e mails sairam desta casa. Das pessoas e dos mails, excluo-me totalmente: estva demasiado ocupada a venerar Sciences Po. Acontece que há uns tempos me chamaram Margarida e o nome soou estranho na minha cabeça. An? Os franceses dizem que Margueritte é "La Vache", porque parece que houve, em tempos, uma bela vaca chamada Margarida (tradução portuguesa), que acontecia ser uma Superstar. Claro está, o meu "nom composé" deixou de o ser, para dar lugar a um sem sabor (desculpem papás), Ana. Que toda a gente escreve com dois "n". Para além de evitar a associação directa ao animal que todas nós adoramos ser, evita a segunda expressão adorável: Ahh, Margarita!
Foi a partir desse ínfimo momento de perda de identitdade que um sentimento lamecha surgiu em mim: importantes importantes são as pessoas que ainda conhecem o meu segundo nome (salvo raras excepções). Curiosamente, são essas as pessoas a quem deixei de escrever. Sim, reformulando, cérebro inerte resiste à criatividade. Mas não à lamechice.
Daí o novo look: é Paris, sim, com o seu mau tempo (Londres é mito, é para Paris que viajam as nuvens - e metade da população mundial nalgum momento da sua vida) e com o seu café tão podre como o "leader price" que se faz em casa. Com o seu metro de há um século onde as baratas também são seres cosmopolitas. Com os seus pombos doentes, com o seu presidente adorado na Europa (ironia), com... não me ocorre mais nada de mau para dizer (bolas!). Ocorrerá. E de bom também. Para isso é que servem os blogs.
Afinal, é só uma questão de voltar a pôr a máquina na mala. E de pensar que observar pode durar para sempre. Com uma pequena nuance, que nos coloca numa posição incomparavelmente melhor que a desta pequenina criatura: não somos feitos de pedra.

domingo, 5 de outubro de 2008

Porque sou uma estudante estrangeira atípica:



  • Porque vivo no Marais;
  • Porque atrás de mim está um saco gigante cheio de bolachas, comida feita para dois dias, roupa lavada e engomada, que apareceu assim, sem mais nem menos;
  • Porque recebo telefonemas do género "Estou em Paris, onde estás? Fiz-te uma sopinha!";
  • Porque falo todos os dias com o meu namorado;
  • Porque faço limpeza geral ao Sábado de manhã;
  • Porque compro feijão verde, cenoura e batatas para acompanhar o peixe cozido (a minha amiga chinesa adorou, porque descobriu como se cozinha peixe de mar. Ora, isto é que é estranho!).

E por mais nada. Ontem encontrei uma colega minha da faculdade na caixa do supermercado e gritei: "Eglontiiine!". Toda a gente olhou para mim, a miúda corou de maneira parva e fez-me um pequenino adeus discreto. (De remarcar que Eglontine não é um nome do qual se orgulhar).

Decidi que ia fazer a Nuit Blanche às 23h, para ver concertos, mas só comecei a receber diversos telefonemas quando já estava na cama, à uma da manhã.

E não se enganem com a minha pronúncia magnífica e com a fluidez do meu discurso. Consigo sempre perceber tudo ao contrário. Consigo sempre fazer com que os outros percebam tudo ao contrário. Cuspo quando falo. Há uns dias um professor pediu-me para descrever a minha mala de viagem. Só me faltou dizer que levava cuecas. Na verdade, o senhor queria saber se a mala tinha rodas ou não.

E pronto, cá está o meu post do mês. Peço desculpa... estou a ser uma péssima blogger, mas quem me conhece sabe que não reajo muito bem a grandes quantidades de trabalho, sobretudo quando implicam interrogatórios diários nas aulas, constante domínio da actualidade (ainda por cima vim fazer mestrado em plena crise financeira), exposições orais praticamente todas as semanas e uma coisa chamada Grande Oral no final do curso. Digamos que quem me conhece sabe que tenho a minha dose de desorganização.

PS: Mas como até sou uma pessoa sortuda, tenho leitores que vão postando por mim! Merci beaucoup! Ao menos o blog vai sempre tendo vida!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O desejo de comunicar


Um dia, depois de tomar o pequeno almoço e de perceber que estava a haver uma revolução, alguém muito intelectual decidiu achar que a tecnologia afastava as pessoas. Muito bem, é muito bonito de se dizer, sobretudo quando os interlocutores são cientistas da comunicação e não outra coisa qualquer. Fica bem, mostra-se que se é atormentado pela evolução e isso é in.
Agora este ser feliz que sou eu vai mostrar-vos orgulhosamente que não tem contacto com "novas tecnologias" de forma contínua. Tirem as vossas conclusões.
De manhã vou resolver algo complicadíssimo a uma instituição pública. Está fechada. Não vi na net se estava aberta antes de sair. Tento enviar uma mensagem ao meu amigo em Paris, mas o telemóvel não tem dinheiro e, sem net, não o posso carregar. Como qualquer coisa. Durante a refeição, penso se será plausível ir até casa buscar o computador para um possível contacto com o exterior num lugar equipado com Wi-Fi. Wi-Fi fere o vocabulário altamente retrógrado com o qual tenho sido confrontada ultimamente. Ainda assim, talvez seja uma boa ideia.
No caminho para casa, apanho a linha 7 do metro, que é igual às outras todas, que tem um condutor humano e muitos seres humanos a cozinhar a trinta graus. O contacto humano não é de grande qualidade, mas ahhh, é carnal, é humano na verdadeira acepção da palavra! Até os cheiros remontam à Idade Média, fantástico! Se por acaso apanhasse a linha 14, programada, um dia, por engenheiros, para funcionar sem condutor, demoraria metade do dempo a chegar. Mas isso seria trair a humanidade.
Ora, chegando a casa, subo três andares a pé (não há elevador), abro a porta imersa em silêncio, fecho a porta imersa em silêncio, pego no computador em silêncio, falo um bocado sozinha, treino o meu francês para o espelho, saio com dez quilos às costas (felizmente que vou ao ortopedista em Dezembro) e ligo-me à internet numa biblioteca qualquer.
Leio mails, respondo a mails, escrevo no blog, leio blogs, leio jornais, procuro informações práticas, tenho o mundo à frente, livros à direita e pessoas à volta. Pessoas que fazem o mesmo que eu. Mas o tempo é curto, o meu momento de convívio acaba quase antes de começar.
Perante tal cenário pintado a tinta da china com uma pena e não impresso através de uma HP, este ser orgulhosamente feliz, que sou eu, está cada vez menos orgulhosamente e cada vez menos feliz. Ora... onde estão os seres humanos quando eu penduro o meu computador na janela do 3º andar para encontrar um pauzinho verde de internet "sem fios sem segurança" e percebo com desilusão que não há?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Delft


Perdi o cartão de memória antes de ir para a Holanda. No comments. Mas no comments mesmo, an? Agora tenho que recorrer à tarefa árdua de escrever um post sem imagem, algo que nunca fiz e que complica muito as coisas, já que metade do texto não está já mais que escrito.
A partir de agora, sempre que me perguntarem onde anda o meu namorado, eu respondo: foi para o campo. Emigração rural. Vai para a escola de bicicleta, vive numa espécie de comunidade super acolhedora que partilha a cozinha e a casa-de-banho, numa casa Ikea cheia de gatinhos gigantes de tanto pêlo bem tratadinho. Come panquecas ao pequeno almoço e bolachas com caramelo durante o dia inteiro, mas não engorda, porque no campo não se engorda (anda-se de bicicleta e joga-se futebol).
As casas holandesas não têm cortinas ou janelas: têm montras. Ao passar na rua, olho para dentro das casas e há um gato num sofá design, uma pessoa à frente de um Mac, alguém que faz a sua vida normal perante toda e qualquer pessoa que se plante no passeio de olhar intrometido. Às seis da tarde está tudo a voltar do trabalho, às dez da noite está tudo a dormir. E eu não consegui tirar da cara aquele olhar ridiculamente feliz de quem encontrou finalmente a cidade dos pequenos póneis, um bocadinho menos cor-de-rosa, talvez.
Desta vez não houve lágrimas. Houve um gato enorme que não nos deixou despedir como deve ser, de tanto se tentar enfiar no nosso colo. Houve o pensamento de que em Novembro estou de volta a Delft para descansar a cabeça desta Paris que sim, é bonita, mas que não, não pára nunca.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A viagem de avião


Isto parece um avião!
Foi a frase mais ouvida na minha viagem de carro. Daí que eu a eleja como primeiríssima numa lista sem fim. Isto parece um avião, de vez em quando, intercalado com um "aliás, isto é mais confortável que um avião", dito a medo, perante a Margarida e a geleira colada à Margarida.
Outra bastante repetida respeitava aos espanhóis. "São porcos. Os espanhóis são uns porcos. As áreas de serviço são um nojo!" E estávamos nós nesta dissertação infindável, cheia de dor de cotovelo dos Nuestros Hermanos versão porca, quando me deparo com o saquinho da imagem. Pois é, eles são porcos, mas o saco do lixo abandonado é do Continente (conheço alguém que ficará felicíssima com este momento de publicidade...). Pelos vistos os espanholes vão às compras a Portugal. Só pode... são uns porcos.
O choffeur (o meu tio, que por acaso até é mesmo choffeur) nem sequer corria o risco de pôr gasolina 95 no seu avião! Muito rasca a gasolina espanhola, tem que se pôr 98. É por isso que é 40 cêntimos mais barata.
Chegando a França, tudo é o auge! Um dia apresento-vos o meu tio. Ele nasceu no país errado. Olhem que até a porcaria das pizzas requentadas do pior supermercado do país são "óptimas"! Até o barulho das sirenes das ambulâncias "se vê que é francês". Ele é o melhor incremento da auto-estima de um povo que dela não tem necessidade absolutamente nenhuma. Aliás, qualquer nação devia ter um Tio António vindo de outro país.
Pelo caminho, ficam paisagens de alcatrão, porque afinal o objectivo era Paris. Mil e duzentos quilómetros em doze horas e seiscentos no dia seguinte. Em seis. Paris mostrou-me a Torre Eiffel da auto-estrada, mas depois escondeu-a. Ainda não a vi nos meus passeios burocráticos pela cidade. Mas como dizia há pouco num mail... burocracia no centro de Paris (longe da Torre Eiffel, certo), é sempre agradável. Ainda que com as sabrinas debaixo de chuva.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Regresso às Aulas


O que eu ia comprar:
  • Uma resma de papel

O que comprei:

  • Uma resma de papel;
  • Uma lapiseira;
  • Um caderno;
  • Um pacote de pastilhas;
  • Um coisinho de post-its

É um misto de regresso às aulas e Leopoldina. Não há nada a fazer, a minha obsessão por cadernos limpinhos no início do ano é totalmente indomável. Se não tenho lapiseiras em casa? Tenho! Se não tenho cadernos por usar? Tenho! Se não vou levar já três malas cheias de coisas realmente importantes para França? Vou! E então? Ano novo, material escolar novo!

Um dia que isto acabe e não haja mais regresso às aulas, tenho que ver se tenho filhos o mais rapidamente possível e se os ensino a escrever aos dois anos, para que me peçam canetas e lápis em Setembro! A televisão não se cala com o regresso às aulas e eu imagino-me sempre no mundo encantado das folhas pautadas, a escrever com as minhas vinte canetas coloridas (super práticas e necessárias), arrumadinhas no estojo grátis que as trouxe.

Agora tenho que experimentar a lapiseira no meu caderno. Talvez me ponha a fazer a lista para a viagem, que já conta com bastantes objectos desnecessários. Sim, é uma boa maneira de não me esquecer de nada. Material de casa de banho a verde, material para a escola a azul, roupa a amarelo, sapatos a cor-de-rosa, apontamentos extra a lapiseira... e conforme for enfiando as coisas na mala, vou riscando a lista com uns Stabilo-Boss mini. Pode ser a cor-de-laranja.

Oh... viva as 500 prateleiras do Continente dedicadas às crianças que precisam de material escolar para escrever todos os sumários da primeira semana! As 500 prateleiras pintadas de cor-de-laranja e colocadas mesmo em cima da entrada, para que crianças como eu possam dar liberdade aos seus desejos consumistas mais profundos.

domingo, 31 de agosto de 2008

Dica da semana II


Não gostaria de tornar aqui o 3Da Tarde um blog de arrotanço de postas de pescada em relação a homens e afins. Não conheço a espécie por aí além, não estou sequer em idade de conhecer e não aprecio o tom geral desse tipo de textos que se baseiam na premissa de que "As mulheres são demasiado complicadas para esse ser absolutamente e exageradamente cool".
Contudo, há dias (e noites) em que a pequena revoltazinha no feminino ultrapassa os meus valores e me atira para a necessidade de uma escrita pura e simplesmente vulgar.
Pois é, duas gajas a sair à noite de vestido curto = duas gajas descomprometidas que andam à procura de sei lá. Errado. Eu aliás acredito que os nossos amigos não pensam sequer nisto, tão avançado está, geralmente, o estado de bebedeira (chocante em discotecas onde uma caipirinha que mais parece um batido de ananás custa 8 euros). É uma coisa impensada, eu diria mesmo um dado de tal forma adquirido que não tem nada que pensar.
Quando ia à matiné do Bauhaus, aos catorze anos, o fenómeno era compreensível. A ciganada parava lá toda. Aqueles rapazinhos empolgados de dezoito anos, que já tinham idade para frequentar lugares onde as bebidas podiam ser alcoólicas, achavam que era muito bonito pespegar-se à miúda a dançar. E se a miúda tinha catorze anos, era natural que estivesse descomprometida (era, no meu tempo). Pensavam com lógica, os mitras, e não estavam bêbedos, o que era de louvar. Além disso, a idade aliada à mitralhice tornava o fenómeno compreensível.
Entretanto, quase dez anos passados e um total afastamento de locais como o Bauhaus, mas a história é a mesma. Nenhuma de nós é uma brasa, nenhuma de nós é podre de boa, nenhuma de nós mede mais de 1m60, ambas pagámos 12 euros para entrar (o que acaba por dizer tudo), mas calma lá que é gaja com a amiga! Toca de pôr o bracinho por cima, de oferecer a bebida que entorna em cima do meu sapato ortopédico de sair à noite, do qual tenho um orgulho descomunal, de colocar o número de telemóvel dentro da minha mala (o que denota um sentido de lógica fabuloso, quer dizer, o menino está interessado, mas a miúda é que tem que telefonar - ainda por cima o rapaz é 91 e ainda não compreendeu que, hoje em dia, existe uma barreira de comunicação entre redes diferentes, de modo que entregar um número de telemóvel à toa representa apenas 33,3% de probabilidade de estabelecimento de uma ligação). Agarrar, dançar, beijar a mãozinha cujas unhas foram cuidadosamente pintadas (atitude claramente de gaja descomprometida), etc.
Obviamente que as amigas não são nenhumas vítimas atrasadas mentais e arranjam as suas defesas, respondendo de forma hostil a todos os olhares que se vão cruzando com os seus, mesmo que seja o do rapazinho que está mais interessado em levar a bom porto a pilha de copos que tem na mão. Mas isto não seria necessário se houvesse um bocadinho mais de delicadeza no engate. E se a violação de privacidade não fosse constante. Infelizmente, ir para uma discoteca para dançar não é um objectivo assim tão linear. O lugar é uma selva!
Venha o rapazinho que aquece as mãos na fogueira! Ao menos tem as mãos visíveis e num sítio que não o corpo feminino.
P.S: Peço desculpa à família pela proliferação da palavra "gaja".

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Back to White


O perfume é a oportunidade de ter em casa uma peça Chanel, Armani ou Dior. Pelos meus armários passam Zaras, HMs e Massimo-Duttis-dos-saldos. Pela minha cómoda desfilam estilistas de renome. O perfume é caro. Mas não tão caro como os sapatos.
O perfume cria laços. Pela óbvia relação entre cheiros, pessoas e lugares, mas também pela fragrância em si, que nos conquista, vá-se lá saber porquê. É pessoal e único (sei bem que não é, mas parece). Define-nos.
Perfume pode ser chic, piroso, insuportável, excêntrico, glamouroso, simples, desportivo. Perfume é feminino, apesar do género e dos metrosexuais.
Até há um ano atrás, a compra do perfume era, para mim, rotineira. Entrar, comprar, sair. Sabia o que queria. Há cinco anos que sabia o que queria. Depois, o meu perfume desapareceu. Seguiram-se alergias, babas, cheiro a liláses, rosas, pó de talco, jasmim, sabão, frutos exóticos e, finalmente (consequentemente), Creme Gordo da Barral em pomada, que é para que se sinta bem o cheirinhio a Halibut no pescoço. Très chic.
Mas ontem, sem saber porquê, nas prateleiras da perfumaria, lá estava o melhor amigo do meu pescoço fútil, a exibir-se ao lado de um Night, de um Diamonds e de um Classic: o meu Emporio Armani White.
A fragrância italiana made in France que me lembra Lisboa à chuva, vai levar-me a Paris. Cheira a Inverno, nos dias em que o Inverno se instalava nos martelos do meu piano e me convidava para ir para o café. Cheira ao metro, ao guarda-chuva, à cidade tagarela, às botas mais caras que tenho no armário. Cheira ao meu namoro.
Oui, mademoiselle is back to white.

Turismo Rural



A ideia é a de receber as pessoas em casa. Espalham-se retratos de família pelas paredes, compra-se um cão afável, coloca-se a cozinha à disposição, fazem-se passeios com todos os hóspedes pela herdade e está feito o Turismo Rural. De Rural só tem os mosquitos e as vacas ao longe. De Turismo não tem nada, porque apenas ficamos a conhecer os parcos metros que separam o quarto da piscina (pronto, vai-se de carrinha de caixa aberta visitar a herdade, o lago e as vaquinhas, mas isso demora uma hora, portanto não conta).
“Veio para o meio do nada”, desculpa para o facto de não haver Internet. “Há sempre a televisão”, pensei eu. Não, não há. Há quatro canais, de modo que não se pode verdadeiramente dizer que haja televisão. E eu nem sou das que mais se insurge contra telenovelas e afins, mas francamente, é de tal maneira que o meu zapping pára esperançoso na RTP2! (Reportagens sobre vendedores ambulantes – uma profissão claramente em voga – em que se percebe perfeitamente que os produtores andaram a fazer economias; a vida dos elefantes – o Donut e a Verruga – ou séries de há 50 anos atrás. Não há esperança que resista). De qualquer forma, foi pouco o tempo dedicado à televisão. Mais que fazer! Desde deitar-me numa caminha ao lado da piscina; a comer crepes com chocolate ou a ficar de boca aberta a apanhar insolações de meio-dia com um factor 50 a estrangular-me a pele.

Até fiz dois amigos! Dois rapazinhos simpáticos e extrovertidos, que se mostraram extremamente interessados na minha vida privada. Queriam saber se eu estava no 7º ano e se me estava a correr bem a escola. É que eles estavam no 5º e precisavam de conselhos experientes… queriam também saber por que raio é que eu não fazia bombas e chapas na piscina. Expliquei que tinha sido assim que o meu braço se tinha partido – e tinha doído tanto! – (já se tinham chocado com a cicatriz, entretanto). Escusado será dizer que a partir daí a piscina deixou de parecer o mar da praia do Moledo.
O balanço é muito positivo. Sobretudo porque já só me faltam cinquenta páginas para acabar o Steinbeck, esse livro que me tem prendido de uma maneira parva, sendo que as suas sábias páginas já me acompanham há uns bons três meses. E também porque tive a oportunidade de treinar o meu brain e de perceber o quão treta é o livrinho que vem com o Expresso, que nos faz crer que o nosso Q.I. sai incrementado através daquela porcaria de dez páginas estilo “Onde está o Wally”. Ah e estou perfeitamente a par das tendências de moda Outono - Inverno (a ELLE trazia um suplemento sobre modelos com medidas paradisíacas em collants amarelas, enfim, um mimo).
A sério, estou renovada. Sim, essas tretas de energias manhosas vindas de planetas e estrelas distantes, gostam do Alentejo.
Acabo com uma sábia frase baseada numa outra proferida pela Lili Caneças, a senhora que vive no conto de fadas da Bela Adormecida, que diz, segundo a própria, com sabedoria Shakespeariana: “Estar vivo é o contrário de estar morto”. Ora eu digo “Estar de férias é o contrário de estar a trabalhar”! É por isso que o campismo não é para a minha pessoa. E começo a desconfiar que o interrail também não…

terça-feira, 19 de agosto de 2008

A mossa



Geralmente, quando nos apanhamos com a carta de condução, livramo-nos imediatamente de alguns tiques obrigatórios, como as duas mãos no volante, os 20.000 piscas nas rotundas ou os limites de velocidade que se ficam pelos 20Km/h. No meu caso, vi-me imediatamente livre daquela regra de não tocar noutros objectos na manobra de estacionamento: passeios e outros carros. Adoptei logo a técnica do bate à frente bate atrás e, até hoje, tenho sido bastante feliz.
Um pequeno senão: convém que o dono do carro onde estou a bater não esteja dentro dele. E ontem, havia um lugarzinho apertadinho e um senhor num Mercedes a ler o Público. A Margarida proferiu as seguintes palavras: "Hoje não posso bater, que o senhor está dentro do carro". Dito isto, pé entre a embraiagem e o acelerador, marcha atrás e PUM, de rabo no carro do senhor. Nestas coisas há que manter o sangue frio e armar-se em homem. De modo que a minha reacção foi extremamente simpática: "Ah, isso não foi nada!". Desculpe, eu pago, foi sem querer, qual quê! Isso não foi nada, uma mossazinha no Mercedes, o que é isso?
Mas aquele não era um senhor qualquer com um carro qualquer. "Eu não vou maçá-la (maçá-la...) com isto, mas não me diga que não foi nada, ora passe lá aqui a mão...". E lá estava ela, a mossa na matrícula do Mercedes. Este senhor era simpático. Pronto, mas se não me vai maçar, posso pedir desculpa, dizer que sou naba, chamar-me nomes e até oferecer-me para pagar o arranjo da mossa e de quaisquer outros problemas que o carro tenha! O remorso fabrica palavras que não passam pelo sistema nervoso central. Mas o senhor não me maçou.
Que sorte, senhores destes não costumam andar em Mercedes! Mercedes novo em mão de tuga é para sair da garagem apenas ao fim-de-semana, para ir ao Mr. Parking a 40Km/h fazer lavagem e aspiração. Ou então para fazer a viagem Lisboa - Algarve numa hora, sempre limpinho e impecável, que ao menos se for para estragar será numa coisa em grande! Mossas no Mercedes é que são, geralmente, complicadas de resolver.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Prometo que é o último post sobre esta criatura


Desculpem lá, pá, eu não queria tornar este blog numa lamechice-animal-muito-fofuxa-a-minha-eduarda-isabel-a-comer-a-beber-a-fazer-xixi-e-a-tomar-banhinho, mas dêem-me o desconto por escrever no auge da Silly Season... gostava só de reafirmar aqui a sexualidade do "meu" gato: é uma gata. Pois é, também ela nasceu com mais alguns cinco de uma outra gata, ideia que não agrada ao meu pacato apartamento. E embora a criatura ainda não tenha nome (é que há confissões de tias que não dizem os l's, mas eu sei muito bem que também faltam por aí confissões de pessoas que não pronunciam os r's), não deixa de ser um animal do sexo feminino, que tem que ser ensinado a não engravidar a torto e a direito.
Então... eu sou ou não uma boa educadora?
(Não, não enlouqueci... foi totalmente por acaso... só vi depois)

domingo, 17 de agosto de 2008

O Milagre


Nunca em vinte e dois anos de existência caiu neste corpinho um milagre. Desde os tempos em que a irmã Teresa me ensinou os dez mandamentos, os Evangelhos e que a princesa Diana foi arder no Inferno. Desde os anos em que mentia na confissão, porque não tinha pecados para contar. "Ontem não ajudei a minha mãe a lavar a loiça", porque a minha função era secá-la, de modo que lavá-la seria grave exploração infantil. Mas essa parte omitia, senão depois não tinha Ave Marias para rezar.
Milagre foi coisa que nunca me passou pelo estreito. E, como vêem, eu até era uma criança bastante crente. Até hoje. É o seguinte:
Quando soube que ia para França entrei em campanha para ser substituída. Não por uma criancinha, não por um peixe, não por uma planta. Por um gato. Vou ao gatil na internet, faço a minha mãe sofrer com imagens de gatinhos abandonados, digo-lhe todos os dias que há gatinhos para adoptar que vão morrer de fome.
Nada. Mas há formas e formas de obter um gato. No meu caso, não o obtive. Ele impos a sua presença. Pode até dizer-se que caiu do céu. Não é por nada, mas passou a noite na espreguiçadeira da varanda a ronronar e, de dia, depois de ser expulso vinte vezes, entrou pela casa, explorou, roçou-se em todos os objectos, comeu, bebeu, afiou os dedos em todos os tapetes e adormeceu no sofá.
Pronto, parece que fui substituída. A minha mãe até já lhe comprou Friskies (é fino o gato. Gata, é uma gata). Agora a ida ao supermercado passa pelas prateleiras dos animais. E eu sinto-me orgulhosa. Tenho um animal (há um dia). Que nome lhe dou?

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Férias


Vou para o Algarve, esse país de aventuras perdido no meio da Ásia. Vou andar em pontes de madeira presas por duas cordas a uma distância assustadora do chão. Vou atravessar montanhas repletas de plantações de arroz.
Não! Essa cidade cosmopolita onde vou aproveitar o valor do dólar para atacar a Saks da 5th Avenue.
Não! O resort de luxo no Dubai! Sim, praia, muita praia e ski dentro dos centros comerciais.
Era bom, não era...? Mas é mentira. Vou para o Algarve português, mesmo. Passar o dia a ganhar rugas em detrimento de uma pele bronzeada. Andar de gaivota, namorar, jogar raquetes e cartas...
Portanto, uma semana sem internet, totalmente isolada dos mails, dos assaltos aos bancos e da vida da senhora Lucinda que tem três filhos para criar e contas para pagar.
Até segunda!

Dica da semana


Mulher que é mulher sonha com bolsos no vestido sexy, para não ter que carregar a mala a noite toda. Mas se o vestido sexy tivesse bolsos, depressa deixaria de ser sexy. Carteira gigante, telemóvel, sapatos, maquilhagem, perfume, garrafinha de água, espelho, enfim, entre muitos outros objectos totalmente indispensáveis. Ora, não quero pensar no tamanho que as minhas ancas adquiririam com tanta tralha enfiada naquela zona. Assim, a mala torna-se o objecto indispensável por excelência.
Quanto aos bengaleiros das discotecas, quando os há, estão totalmente fora de questão: são caros. Mas como a mala não pode ficar nos ombros, das duas uma: ou fica com o/a amigo/a que não gosta de dançar, ou fica exactamente no chão, à frente dos pés, no meio da roda onde as donas se divertem. Não gastem, portanto, o dinheiro em Furlas ou Lanceis para sair. Desperdício.
Devido a esta necessidade feminina de trazer a casa-de-banho atrás quando sai à noite, surgiu, por evolução genética, a dica de engate ideal. Passo a explicar: um rapazinho, geralmente alcoolizado, surge cambaleante do meio dos amigos e junta-se à roda feminina. Estica os bracinhos e as mãozinhas em direcção ao monte de malas, vai esfregando as mãos uma na outra e lança a seguinte exclamação: "Eh pá, com tanto cabedal (!) não sei como é que isto aquece tanto". Quanto à semântica da frase, embora não seja totalmente coerente (note-se que a palavra cabedal só foi introduzida para dar à premissa aquele belo sentido metafórico, já que, para além de as malas não serem de cabedal, não existe qualquer relação entre cabedal e não-aquecer), enfim, quanto à semântica muito geral da frase, há que imaginar que as malas são uma fogueira e que o rapazinho precisava de aquecer as mãos.
Totalmente despropositado. Nas discotecas nunca está frio e se houvesse fogo nós não estavamos ali. Daí que a dica seja inadequada. Falem outras línguas. Perguntem "Do you speak english", "français" ou "italiano". Vão ao ginásio durante a semana. Digam qualquer coisa vulgar como "és gira" ou "danças bem". Mas por favor, não nos ofendam as malas!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Cristiano


Estou oficialmente farta do menino da minha idade que já enfia o rabo em Porshes no plural. As únicas quatro palavras que diz correctamente são Manchester United e Real Madrid, embora nem sequer as tenha empregado no melhor momento. A imprensa cor-de-rosa diz que as namoradas são gordas, sendo uma delas quase obesa. Eu sou mais gorda que a obesa.
Acaba-se a Nereida com quem se gastou um dinheirão, no prob, vem a Letizia. Chovem-lhe mulheres (pouco vestidas) que é uma coisa parva. O Julio Iglesias vem a Portimão e a organização lembra-se de que seria uma boa estratégia de Marketing dizer que o Cristiano vai assistir ao concerto, para atrair mais pessoas. Ehhhh, o Julio Iglesias, esse cantor de Pañuelos de Bajo lá da Espanha, que ninguém conhece, desta vez vem com brinde! Mas o Cristiano não foi, porque tinha massagem marcada para essa hora. Como está a recuperar da lesão, não podia andar ali aos saltos, no habitual moche ao Julio. Foi a família, a mãe e as irmãs (obesas? Naaa, a namorada boazona é que é obesa!).
E as pessoas, pelos vistos, também escassearam, coitado do Julio, perdeu a oportunidade de ter um momento de brilho na sua carreira tão apagadinha. Claro que a falta de multidão não se deveu aos bilhetes a 45 euros! Foi o Ronaldo...
Sim, eu sei que ele é um rapaz esforçado, dedicado, que ajuda a família, nem sequer é nada contra ele, coitado, teve o azar de saber jogar futebol. É a incompetência dos directores de informação ou eu sei lá de quem que noticiam um concerto do Julio como se a maior atracção fosse o Cristiano!
P.S: parece que a cada 30 segundos há uma pessoa, no mundo, a ouvir uma música do Julio.

Aveiro


Acontece de vez em quando. Um travo a ovos moles, às vezes, é suficiente para acordar o meu lado do cérebro que venera esta cidade, mas que passa a maior parte do tempo a dormir, para que eu seja uma pessoa feliz. Desta vez, foi a namorada do meu primo Luís, a Adriana. Há três anos que chega com aquela pronúncia fresca e despreocupada, que não é simplesmente do Norte. É de Aveiro.
O cérebro abriu um olhinho, como sempre, quando ela chega, mas voltou a adormecer. É um preguiçoso incurável, está habituado às cafezadas nocturnas no espaço dos arredores, que parece Marrocos. E aos passeios pelo Fórum em saldos, ao frio e à chuva, que não desencorajam o cartão multibanco que fica poucos minutos dentro da carteira. E ao Avenida, onde se passa a tarde à frente de um bolo qualquer. E ao telemóvel, sempre esperançoso em Aveiro, a convidar para ir à praia da Barra, onde o tempo está sempre insuportável, mesmo que o país inteiro esteja em alerta vermelho. E aos tremoços. O cérebro, preguiçoso, sabia que não estava em Aveiro. Ainda por cima este ano decidimo-nos pelo Turismo Rural no Alentejo, onde não vou, certamente, comprar um casaco para o Inverno...
Mas este fim-de-semana, o despertador desprogramou-se. Para além da Adriana, foi a prima da Inês, a Andreia, que disse que ia fazer Mestrado em Aveiro. E aí, o meu cérebro, que vai estar dois anos numa cidade de gente antipática, acordou de vez. E bem disposto!
Em Aveiro as meninas da Zara não dizem boa tarde. Dizem olá. Ninguém consegue sair do hotel sem escrevinhar qualquer coisa que meta a palavra simpatia no livro de visitas. Há bicicletas que andam por cima da ria, ao lado dos moliceiros. Há a possibilidade de encontrar o Fernando Cascais (até isso sabe bem em Aveiro). Há a bola de carne e os ovos moles.
Não, não nasci em Aveiro. Não, não vivi em Aveiro. Passei lá muitas Páscoas, muitos feriados e muitos Verões. Mas parece que por lá se começam bons namoros. E parece que por lá ainda vou ter que passear, este Verão, o lado do cérebro que, agora, precisa que lhe conte histórias para adormecer.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Acampar


Foi há dois dias que duas pessoas super altruístas e amigas do ambiente, decidiram ir acampar de bicicleta. Quer dizer, amigas do ambiente nada, devem achar que fui de tenda às costas. A tenda, os sacos térmicos (com comida para dez dias) e a roupa foram de carro ter connosco.
Com uma costa tão bonita e a possibilidade de não gastar quase dinheiro nenhum, porque não passar três dias nesse local tão adorado pelos turistas, que é o Guincho? Pronto, ok, para nós é quase como montar a tenda no quintal, mas o que interessa é a aventura!
A grande questão é que a Margarida não gosta de acampar. Nunca gostou. Desde aquela noite na colónia de férias em que a obrigaram a levar o papel higiénico para a casa de banho a dois quilómetros de distância. Desde aquela noite na colónia de férias em que houve uma tempestade, a tenda passou a noite toda a cair e a minha melhor amiga passou a noite toda a montá-la (a minha melhor amiga de 8 anos), porque eu, amiguinhos, eu fingi que dormia profundamente. É assim que fica o meu espírito no campismo.
Não percebo o que é que existe de tão contacto-com-a-natureza no acampamento. Sim, é no meio do pinhal, e depois? Depois leva-se a auto caravana, a antena da TV Cabo, a televisão com uma imagem que é uma maravilha (cinco centímetros quadrados de ecrã enfiados no objecto portátil), o computador, a mesa, as cadeiras, o centro de mesa, a tábua e o ferro de engomar (sim, porque aquilo no campismo é uma limpeza que nem vos conto!) e pronto, acampa-se no pinhal. Mas mesmo que assim não seja, dormir a noite toda na tenda que se monta sozinha, enrolada no saco-cama, rodeada de malas e lancheiras e entrar em pânico porque está um gato aos saltos para cima da tal tenda xpto à prova de bala ("Ai, achas que pode ser um lobo ou uma raposa?"), não é lá muito contacto-com-a-natureza... ou é?
Eu dispenso. Mas dizer que não gostei seria injusto. Porque uma boa companhia chega para que tudo corra bem. E porque a viagem de bicicleta foi divertida e nos proporcionou paisagens em que só reparamos com cuidado quando estamos com espírito de turista. E porque até fomos uma noite jantar ao Bar do Guincho (de onde voltámos a pé, às 23h, sem luz e à mercê de fantasmas, bruxas e vampiros, que toda a gente sabe que atacam pessoas à noite). E, finalmente, porque descobrimos a Praia do Abano, que não abana nada (falo, claro, do abano provocado pelo vento). Deve ser, aliás, a única praia da zona onde não se come mais areia que gelado.
O meu namorado, ele sim poderia dizer que não tinha gostado, porque, confesso, agora que estou no conforto do meu quartinho de menina e que, portanto, não tenho aquela adrenalina bué-da-fixe de pensar: "Oh não, a tenda vai voar!" e não escorro suor por todos os poros, agora que, finalmente, enchi a barriga com dois travesseiros de Sintra (onde fui, claro, de carro, assim que cheguei a casa), agora que pensei: "Se tudo correr bem, daqui a uns anos vou mas é pernoitar na Lawrence's, já que fazer turismo perto da minha zona não é nada má ideia", agora sim, posso afirmar: sou uma pessoa desesperante no meio do mato.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

CCB


Mas porque é que no CCB até a porcaria das portas das casas de banho são originais? Porque é que eu fui ao CCB re-re-rever a colecção do Berardo, havia apenas três míseras salinhas disponíveis e, ainda assim, consegui não ficar minimamente chateada? E porque é que a exposição do Le Corbusier, apesar de muito criticada pela minha amiga arquitecta - a Joana, que estava comigo nesse dia - me agradou tanto? Porque enfardei uma tosta mista e uma Pepsi ao longo de duas refasteladas horas na esplanada das Oliveiras, antes de entrar no museu. E porque o facto de estar a comer não me travou a língua. É que convenhamos, duas horas de conversa à beira Tejo, num edifício que por fora tem paredes, por dentro tem jardins e na zona mais profunda tem obras de arte, é talvez a experiência mais zen que sou capaz de ter.
Estou a par da visão do CCB como uma afronta aos Jerónimos e à Torre de Belém. Mas, talvez por força do hábito, o edifício me pareça quase transparente, embora extremamente bonito. Além disso, a dinâmica que veio criar é espectacular. O CCB funciona como o passeio de Domingo. Funciona como a alternativa artística que corresponde de forma perfeita ao fascínio português pela palavra grátis. Funciona como um saxofone e um piano de notas improvisadas às Quintas. Funciona como a diversão da semana de muitos dos velhotes que povoam a Grande Lisboa e que nunca se desligaram daquilo que, em tempos, a punha a dançar: o bailarico. Funciona como local de aperfeiçoamento artístico. Funciona como Festa ou Dias da Música. Funciona. E ainda bem.
Ainda bem, porque o Centre Georges Pompidou pode até ser mais completo a alguns níveis, mas é mais feio, tem mais japoneses e só é grátis às Quartas-feiras ao fim da tarde, hora da pelintrice, que vai para lá massivamente conversar sobre os saldos do BHV à frente de um Miró, salivar mas é por uns bons croissants perante um Kandinsky e/ou tirar fotografias com os Chagais.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Quem é Quem?


Olhando para esta imagem, respondam-me: qual destes é o macho? O da esquerda ou o da direita? Já está, já pensaram? Já têm a resposta? Sim? Ok, então agora respondo eu: é, sem qualquer sombra de dúvida, o da esquerda. E garanto-vos que não andei de gatas a espreitar as zonas íntimas destes peluches. É que não é preciso, uma vez que, se repararem bem, isto não são tartarugas, de modo que há um pequeno pormenor que diferencia o macho da fêmea: os chifres, cornos, pauzinhos, antenas, como queiram chamar-lhes. Estamos, portanto, perante um carneiro e uma ovelha.

Pois então queiram explicar-me, porque é que ontem, quando vos comuniquei aquela bela frase proferida pelo atrasado mental que viu o Batman ao meu lado (direito, porque o rapazinho que estava ao meu lado esquerdo, o meu namorado, até é bastante simpático), o nosso magnífico corrector automático me propôs substituir "cornudo" (palavra que não reconhece), por "cornuda". Porque cornuda é coisa de mulher? Assim no sentido figurado da coisa?

Sim, vá, indignem-se lá só um bocadinho. Já está? Sim?

Pronto, mas não há nada que saber. Corrector automático tem sempre razão, não queiram armar-se em espertinhos: Cornuda é um peixe seláquio da família dos Carcáridas, raro em Portugal (lá está, por isso é que eu nunca tinha ouvido falar... pacóvia).

Então e nós, seres humanos há pouco indignados? Onde está a nossa razão? A indignação não é uma coisa que se esvaia assim tão facilmente! Há que refutar. Se bem que neste caso nem é preciso ir procurar inspiração aos apontamentos de retórica (ainda bem, porque aí devem estar duas linhas toscas, escritas em seis meses) ou aos confins da Grécia Antiga. A nossa razão está no facto de este peixe também ser conhecido por Cornudo! Cornudo é o macho! E agora? An? E agora, senhores da blogspot, voltamos à estaca zero. Eu cá acho que há discriminação.

sábado, 26 de julho de 2008

W(ohhhhh)ALL-E


Ontem fui ao cinema ver... a parte em que o Wall-E diz que piratear DVDs, nomeadamente o do Ratatuille, é crime!!! E que filmes pirateados ele reconhece muito bem: são 700 anos de experiência. Não é para qualquer um. No meu currículo ainda nem um ano posso contar. E a parte em que o Wall-E fica com um soutien preso aos olhos. E a parte em que o Wall-E emite um som sem palavras. E a parte em que o Wall-E é o melhor boneco de sempre alguma vez inventado pela Disney-Pixar. E que vem com a melhor música.
Acho que tenho um problema. Desde o Tamagochi que tenho um problema. O meu Tamagochi obeso e demente... que andava sempre com o mal educado da Carolina.
Vou estar na estreia do robô. Não na primeira fila, porque isso seria demasiado parvo. Mas vou lá estar e, depois, vou bater nos anormais que ontem gozaram o tempo todo com o boneco e que, como se isso não bastasse, não se calaram durante o Batman inteiro: "Pronto, agora vai comê-la. Tinha que haver um cornudo. Há sempre um cornudo". Parvalhões.
Pois é, comigo é assim: dá o anúncio da Super Bock e o anúncio dos DVDs pirateados e eu já estou a chorar e a fazer gemidos amorosos, de modo que até pode não haver filme. Se bem que gostei muito do Batman, mas quanto a isso deixo os entendidos pronunciar-se.

Porque é que é tão bom viver na aldeia


Porque quando a Andreia engravidou, eu soube logo. E quando o senhor e a senhora Silva se divorciaram, até soube antes que a coisa já não estava bem. E quando alguém morre, os cafés fecham mais cedo para que os donos estejam a horas decentes no velório. Porque nunca é negado um copinho ao alcoólico, embora toda gente nutra por ele uma espécie de pena, misturada com aquilo que "os meus filhos graças a Deus não são".
Porque a dentista, que dormia todas as noites em casa do vizinho do lado, burlou a maior quadrilheira e deixou de ter clientes. Porque há uma concentração de idosos à frente da minha rua que está em obras, para saber o que se vai construir, afinal, ali. Porque os animais abandonados são os mais felizes: "Nós organizamo-nos para que tenham sempre comida". Eu própria costumo agarrá-los e encostá-los à cara num acesso estranho de maternalismo. E chego a casa a coçar-me por todos os lados.
Porque a Carolina só tira vintes na escola e a Patrícia vai seguir Economia. Porque a Margarida vai para França trabalhar (emigrar, como o meu amigo Pereira). E porque o resto dos habitantes ou está reformado ou "vive dos rendimentos", de modo que tem tempo para passar o dia na quadrilhice e na suecada.
Porque a felicidade é a única coisa que se vê. E, no entanto, há tanta desgraça para comentar... existe uma espécie de pacto de silêncio totalmente respeitado e completamente por respeitar. E esta é a forma mais confortável de viver. I like it! Sei que todos escondem debaixo da cama um bocadinho de infelicidade. Todos menos eu, pensam eles. Penso eu que eles pensam. O Fernando Pessoa é que gostava destas coisas. E também gostava de galinhas. Eu cá fico baralhada. E não, não gosto especialmente de galinhas (vivas).
Tudo isto a trinta quilómetros de Lisboa. O que se pode desejar mais?

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Bafureira


Ah, sim, a Margarida está de férias na boa vida. Pois é, mas não deixa de estar na costa do Estoril. E de ter sido, ontem, obrigada a ir à praia da Bafureira. Não sei, não percebo como é que a tão fantástica Natureza se lembrou de criar uma coisa assim. (estou a brincar, na verdade nem foi só a praia que me chateou).
Cheguei e estendi a toalha em cima de uma pedra, porque areia, esquece. A maré estava cheia (cheia de água, cheia de algas, provavelmente cheia de alforrecas e até mesmo cheia de sacos de plástico). Abri o meu livro, mas por incrível que pareça, em seis metros quadrados de praia, as pessoas continuam a achar que é possível jogar futebol, portanto os meus olhos acabaram colados à bola que se manifestava violentamente à minha frente.
Bom... não é grave, Margarida. Grave grave seria essa criancinha nua vir urinar ao pé de ti. Pois é, a criancinha veio. Mas quem a pode censurar? Os pais não podem de certeza, porque para além de serem eles os jogadores de futebol, estiveram o tempo todo a fumar droga. Francamente... mitralhada intelectual de trinta anos, com ar de até ter um emprego decente é coisa para que não há paciência. Então quer dizer, levam a criançada à praia, as sandes, os sumos, o balde, as pás, A BOLA, o leitinho e a droga! Podiam ter também levado o fato de banho do miúdo, já agora...
Acho que as pessoas andam com problemas de crescimento. Não sei se lhes faltou sopa ou educação, não sei se queimaram demasiados neurónios na adolescência, mas talvez devessem passar a beber o Nestlé Crescimento que dão aos filhos.
Contudo, uma excepção para o bar da praia. É especialmente bonito, calmo, vazio... parece que ainda está por descobrir. E tem obviamente uma vista fabulosa. O café, esse, tem tudo isto incluído: custa €1.20. Mas pronto, como no post anterior, "vale bem a pena".

Jogos de Verão (nada de desporto an?)


Isto? Isto é OBVIAMENTE um pastel de nata! Um pastel de nata desenhado no meu pictionaryzinho ecológico que não necessita de folhas de papel. Ohhh...
É impressionante. Desenha-se um traço nesta coisa e há logo três pessoas a gritar: "árvore", "pessoa", "bicicleta", flauta", "casa"! E não há nada a fazer, o grupo está lançado, quem está a desenhar que se lixe, tente concentrar-se com barulho que também é bom. E é chocante que nunca ninguém saiba desenhar quando se trata de Pictionary! Até pode estudar em Belas Artes, mas Pictionary implica traço desajeitado! Se bem que isto também só tem piada assim. É como o Karaoke, quando alguém canta bem, a plateia adormece (nem sempre, mas pronto, é mais divertido ouvir cantar os desafinados).
E este Pictionary foi-me oferecido como alternativa a um perfume! Comprado na véspera de Natal, quando os únicos jogos que sobram no Continente são os ranhosos, não veio com muita expectativa. A caixa onde vem é pequena, o jogo chama-se chama-se Pictionary Mania (não é a versão clássica, portanto)... hummm... claro que quando o desembrulhei achei que sim, que devia ser giro, então foi para a arrecadação... e lá ficou até ao dia em que meia dúzia de desocupados estava em minha casa sem vontade de jogar Risco.
Seguiu-se uma gritaria gigante:
  • Desenho Clássico: é a parte em que, supostamente, as pessoas jogam mal, porque se trata de desenhar. Pois é, mas aqui não! Aqui é o desafio mais desejado, o facilzinho, o que está ganho até de olhos fechados (ai, não! Olhos fechados é difícil!).
  • Desenho Dirigido: é para dizer (gritar) figuras geométricas ao parceiro, para ele desenhar um objecto. O resto da equipa adivinha: "linha na horizontal, diagonal a sair de cada canto da linha, NÃAAAO! Ao contrário! Mas és estúpido?? Não pensas!, linha a unir as duas diagonais, traço para cima, dois triângulos, um de cada lado". (Já agora, alguém sabe o que é isto?).
  • Desenhar nas Costas: da última vez, um dos membros da minha equipa, pessoa dotada de grande sentido prático, desenhou-me um círculo nas costas, durante um minuto inteiro. Mas eu é que era a estúpida! Claaaro que era uma pulseira, que mais poderia ser?
  • Desenhar de Olhos Fechados: é, simplesmente, atrofiante. Quando se tira a venda, o resultado é hiper deficiente. Este é o único momento em que não se ofende os parceiros por não terem acertado.
  • Marioneta Humana: o resultado não tem nada a ver com aquela cena do Chicago, não. Temos pena. Mas é, sem dúvida, o mais hilariante. É que as palavras são tipo "galinha" e "Capitão Gancho".
  • O Segredo Está no Pulso: voltamos à infância, agarram-nos no pulso e desenham por nós.

Se houvesse um casino de jogos de tabuleiro, eu estaria desgraçada. Não havendo, há os amigos com quem acabo de trombas por ter perdido. Mas vale bem a pena. Pior é para os vizinhos.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Ok, estudei publicidade. E depois?


Sei que é impossível fugir à publicidade. Estou em minha casa, no meu quarto, na minha secretária algo caótica (apesar das férias) e através da visão periférica consigo alcançar: um Fujitsu Siemens, um Nokia, uma caixa de O.B., um calendário do Hotel Moliceiro, um cartão dos Bombeiros Voluntários dos Estoris (Estoris... é de todos os Estoris do Mundo!!!), um bâton da Sephora, uma caixa de óculos João Rôlo, outra caixa de óculos da Mango, um Chupa-Chups, algumas Stabilo Boss. Enfim, sinto-me, de facto, uma vendida, embora também não tenha grandes hipóteses.
Mas por amor de Deus. Na praia??? Mas já não chega o creme da Piz Buin, a revista Happy, a toalha da senhora do lado que, pelos vistos, lava a cabeça com Loreal, o guarda-sol da Olá? Não! Tiveram que meter avionetas da Seat a fazer acrobacias a 5 metros de distância das pessoas; avionetas a puxar aquelas redes ridículas que dizem coisas tipo: "Hoje às 21h30, Aldo Lima no Fórum Almada", ou até "Parabéns Rita", sendo que a Rita, provavelmente, nem está na praia, porque nunca vi ninguém reagir de forma eufórica à passagem de um avião destes.
Hoje, passou um avião da TMN. E lá foi, rápido, a atravessar a costa dos "Estoris", a poluir, a fazer barulho... e logo a seguir, surge no horizonte um objecto ridiculamente lento: um barco à vela. Ora, um barco à vela sem vento e sem corrente, com as velas levantadas a dizer Optimus não me convence. Não sei, parecem-me factores naturais importantes para velejar. E garanto-vos que não sou nenhuma croma da vela, para afirmar isto com tantas certezas. Sempre que fui posta num barco com posições importantes, consegui fazê-lo virar. Uma das vezes foi no rio Tejo, onde me fartei de engolir água. Pena foi só ter reparado mais tarde que havia ratos mortos a passar.
Enfim, uma pessoa vai para a praia aproveitar a natureza, o mar, os castelinhos na areia, as crianças, o livrinho e estão sempre a dar a ideia de que estamos no comboio a ver mupis, na net a carregar em links, no sofá a ver televisão. Porque é que não deixam a publicidade actuar sozinha? Ela já faz parte de nós, já está entranhada na pele para a proteger do sol, já está no software do telemóvel, já está na roupa, nas chinelas, enterrada na areia (baldes e pás da Imaginarium). Para quê acrescentar objectos estranhos ao habitat publicitário da praia?
É que se for preciso, depois de passar um avião da Água das Pedras, pede-se ao senhor do bar uma Água das Pedras, o supra sumo publicitário, que está para a água com gás como os Kleenex estão para os lenços de papel (impuseram o seu nome aos objectos, sendo que um Kleenex é um lenço de papel, mesmo que seja da Renova) e o senhor diz que não há. Não há? Não há água das pedras? (igual a: "não água com gás?"). Não, só há Frize. Ora, vale de muito a extra-publicidade na praia, vale.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Verão


Há os Morangos com Açúcar de Verão, a Herança de Verão, a Fátima Lopes de Verão (chama-se O Programa da Fátima, mas é apresentado pela Rita Ferro Rodrigues), vai haver uma nova novela da SIC, que me pareceu claramente de Verão (meninas de bikini, praias maravilhosas, jovens de 15 anos). Então porque é que este blog não se tornaria mais Verão também?
Bem sei que o público não é o mesmo (isto não é propriamente um blog de massas, não só pelo conteúdo altamente intelectual, mas também pela quantidade de pessoas que o lê).
É que eu devo ser a única criatura de férias entre os meus amigos e família (já dei voltas à cabeça e não encontro mais ninguém). Assim, decidi modificar um bocadinho o blog, para ver se os meus leitores, nas redacções dos seus jornais, nos compartimentos com ou sem janelas das suas empresas, ou mesmo nas suas casas, possam ter, como eu, um bocadinho de Verão. Entretanto, prometo alguns conteúdos da época. Para já, ficam com imagens e Summer colors, para animar!
Porquê agora, se o Verão já começou há um mês? Ora, porque não me venham com coisas, Verão que é Verão passa-se a partir de Agosto (e assim sendo, até estou adiantada)! Nem que venha o solstício refilar!

sexta-feira, 11 de julho de 2008

As crianças já não são o que eram

Eu e o meu primo Luís. Para os que andam na internet com objectivos muito pouco nobres, aviso que, neste momento, temos mais vinte anos em cima.
Estou a brincar (em relação ao título), claro que são, mas há algumas que fazem uma certa confusão... tenho a certeza de que todos somos unânimes nesta questão: criança que é criança tem que abrir a boca num jantar para dizer: "Ah tu é que és a tia Joana? A Joana do rabo grande?". Tem que dar beijos aos animais e esfregar-se nas poças de água no Inverno. Tem que cair e partir dentes, cabeça, braço, o que for. Tem que obrigar os pais a parar na berma da auto-estrada, porque senão faz xixi mesmo ali no banco de trás. Tem que ter sempre fome e sede. Tem que se esconder debaixo das saias dos manequins quando vai ao shopping e chocar-se, aos gritos, com o facto de elas não terem cuecas! Tem que ver o mesmo desenho animado cinquenta vezes e decorar as falas. Porque se assim não for, não é em adulto que vai ser.
E há uns dias, no Clube de Ténis do Junqueiro, estavam dois rapazinhos de cinco anos a jogar ténis imaginário: com duas raquetes e sem bola. E sofriam com aquilo e marcavam pontos e faziam os movimentos correctos, enfim, levavam a brincadeira a sério, mas acabaram, claro, a bater-se mutuamente com as raquetes. E disse um para o outro (cinco anos, volto a referir): "Olhe que você não podia ter feito isso!". Você? Mas o que é isto? Mas agora os pirralhos tratam-se por você?
Claro que já estava a par de todos os tratamentos por você possíveis dentro de uma família: filhos para pais, pais para filhos, netos para avós, avós para netos, tios para sobrinhos (mesmo que não sejam nem tios nem sobrinhos), sobrinhos para tios, mulher para marido, marido para mulher (este também acho o máximo e, sobretudo, revelador de grande intimidade entre o casal)... mas de criança para criança? Juro que não achei normal. Com cinco anos era bem capaz de tratar por tu, sem qualquer problema, o Presidente da República! Mesmo que ele mandasse na entidade mais autoritária do mundo: "os polícias"! E depois?
Não sei porquê, nem sou capaz de elaborar nenhuma teoria acerca deste assunto. Mas soou mesmo muito estranho. Sempre me disseram que o tratamento por você era uma questão de respeito. Mas de respeito pelos mais velhos ou pelos desconhecidos... o "você" tem ainda uma carga formal bastante forte. É verdade que quando somos crianças tratamos toda a gente da mesma forma: o PR e os nossos amigos por tu ou o PR e os nossos amigos por você. Depende do que ouvimos em casa. Mas os meus ouvidos vivem numa cultura que ainda não está habituada a crianças a conviverem como adultos. Crianças que se tratam por você parecem crianças que não são capazes de jogar ténis imaginário... deviam estar já a tratar de negócios ou a discutir a inflação. Mas pelos vistos isso é preconceito meu.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Seguros


Ontem fui tratar de um problema com o seguro do carro. Estava preparada apenas para tratar do problema. Saí de lá com um seguro para os dentes e com estes belos panfletos de início de século - século XX - (ver qualidade da imagem), da LUSITANIA Seguros, com imagens de pessoas que têm cara de tudo, menos de lusitanas. Para além disso, fui confrontada com questões do estilo: "Se os ocupantes morrerem, o seguro cobre x, se ficarem (apenas) inválidos, o seguro cobre y". Ou "Imagine... se for contra um autocarro cheio de crianças, fica bastante caro, porque fica responsável pelo tratamento de muitos ocupantes, mas o seguro cobre isso tudo!". Mas é que é obvio que eu, no meu mini carro, vou lesar um autocarro cheio de crianças! Coitada de mim se for contra um autocarro cheio de crianças!
Os seguros funcionam a humor negro. Só que, como aliás é característica deste tipo de humor, muitas vezes, não têm graça nenhuma. Encarnam os nossos momentos de depressão. Pensar na morte, nas doenças, nos acidentes que nos vão deixar incapazes de mexer as mãos... credo! Para verem o teor da minha discussão acerca do seguro automóvel, a minha interlocutora "bateu com a mão na madeira" quase sempre, antes de falar. O que me preocupa é que a mesa era de ferro (ou qualquer coisa do género). Agora não sei, preocupem-se comigo. E pensem também nos meus dentes que nunca tiveram problemas, MAS QUE VÃO TER e, por isso mesmo, precisam de um seguro de estomatologia! E enquanto vão pensando, vejam lá aqui esta solução oferecida pela LUSITANIA:
Tem a família enfiada numa casa, tem carro e empregada doméstica, gosta de caçar nos tempos livres, trabalha comodamente por conta própria e, acima de tudo, tem muito medo de vir a perder drasticamente esta vidinha estável? (esta é a parte que nos leva a fazer seguros, mas que, não sei porquê (sei sim, bolas!), fica sempre escondida por detrás destas pessoas felizes da imagem, aparentemente sem problemas de maior). Pois então:
  • Renda Familiar - A estabilidade garantida
  • Acidentes Pessoais - Sempre ao seu lado
  • Residentia - Você e a sua casa
  • Automóvel - Na estrada em segurança
  • Saúde Auro - Você escolhe melhor
  • Empregada doméstica - Para quem olha por si
  • Caçador - Segurança no lazer
  • Trabalhador Independente - Seguro de si

Conclusão: se tem uma vida perfeitamente normal, pense (com muita imaginação) em assegurá-la em todas as suas particularidades. Pior é que com oito seguros a pagar ao fim do mês, os seus bens podem acabar na feira da ladra. Há que fazer pela vida! E já agora, estas novas teorias do marketing pseudo pessoal levam a situações tão ridículas como a da "Segurança no lazer" do "Caçador". "Eh pá, olha que isto é mesmo para mim!" Francamente...

Felizmente, em Portugal, a situação ainda é a contrária: comprar o Ferrari e o seguro contra terceiros (não há dinheiro suficiente). Mas vê-se que há um esforço por parte dos seguros para combater isto.

terça-feira, 8 de julho de 2008

O bolo


Tenho um bolo no forno que me obriga a escrever um post sobre livros de receitas, escritos por pessoas que pensam que o mundo é uma cromice (e agora, com c ou com dois ss? Estas palavras já vinham no dicionário...) e que escrevem em meias palavras. "Junte as três chávenas de farinha e a água". Junto, bato o preparado que salta por todos os lados e oiço os gritos da minha mãe: "Isso é para ir juntando aos poucooos!". Claro que é, é lógico (palavra da minha mãe). Pena é não estar lá escrito.
"Misture as claras em castelo" e toca de ligar a batedeira para misturar! Qual quê? É para misturar com a colher de pau! Então toca a misturar (a seguir) com a colher de pau. E quando a colher de pau fica cheia de massa de bolo, NÃO SE BATE COM ELA NA TIGELA ONDE ESTÁ O PREPARADO! Vai-se com o dedinho e empurra-se a massa para o recipiente (teoricamente, claro. Eu empurro-a directamente para a boca). E o bolo está no forno...
Logo à noite, o meu namorado prova e diz que "Está bom", independente de estar ou não, sem nunca deixar, no entanto, de reservar uma entoaçãozinha de "O de chocolate que tenho lá em casa é melhor". Ao menos a minha mãe, nestas coisas, ainda me trata como uma criança: "Hmmm, está mesmo bom, eu gosto muito! Inhami!". E eu acredito, claro. Os pais nunca mentem.
Só mais uma coisa. Este instrumento. Foi ele que me ensinou que o "Salazar" não era uma pessoa muito querida dos meus pais: "É o rapa-tudo". Na fotografia mais parece o Elvis embora, de momento, já não tenha cabelo, porque eu o lambi. Valha-me a massa crua, então!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ça ne balance plus


Pois é, havia um baloicinho chamado Sciences Po, no qual estive sentada com o meu chupa-chupa da Vodafone. Mais um mail com o assunto: Your application status at Sciences Po. Mais uns tremores, mais uma vozinha descontrolada... leio ou não leio? Ali podia estar mais um "nhecos" como dizem as crianças, podia estar Paris ou podia estar Lisboa. Em baixo estava o mail a convidar para ir ao Maxime, mail que, desculpa Inês, ignorei completamente.
"O peru está a queimar dentro do fornooo!", gritou uma voz na minha cabeça. Abri o mail, "J'ai le plaisir de vos informer que". Mas nunca se sabe, não é? A senhora podia apenas querer dizer-me que a cadela tinha tido bebés.
Mas não se conta a mesma piada duas vezes e, a partir de Setembro, este blog vai passar a ser escrito directamente de Paris (talvez se torne finalmente interessante, quem sabe).
Agora há um milhão de coisas para tratar, claro, mas já vai ser com outro ânimo! Uff, a ideia dos Xanax não me estava a agradar nada... e vou querer visitas desta vez! Sim, vamos conquistar a Europa! Ahah

quarta-feira, 2 de julho de 2008

A fingir que foi há muitos anos

É um chupa-chupa e está aqui embrulhadinho há DUAS semanas. Foi desembrulhado para a fotografia.
O fenómeno publicitário de distribuição de panfletos é uma coisa fantástica. Eu devo ser realmente a única pessoa que tem o armário cheio de lixo da VitalDent, porque não me parece que mais ninguém adira à ideia. Geralmente coloca-se alguém com um boné, estrategicamente ao sol, porque está mais calor e se os distribuidores de quinze anos estão ali a ganhar uma fortuna de 200 euros por mês, é bom que trabalhem para isso, porque a vida não está para calões. E as pessoas, como são estúpidas, aceitam os papelinhos e deitam instantaneamente fora, num gesto totalmente reflexo. Aceitam, mas atenção!, sem qualquer intenção de ler. E ainda por cima os papelinhos são como cascas de banana (não, ainda não caí, dada a minha condição física estou proibidíssima de cair e, para espanto de muitos, eu sei, tenho cumprido à risca o aviso).
Agora... quando se trata de chupa-chupas, sopas instantâneas, cereais, bebidas ou iogurtes, a coisa muda de figura. Parecem formiguinhas, as pessoas, formiguinhas com cérebro, que pensam assim "hummm, já poupei 50 cêntimos" ou "hummm, já tenho jantar", ou "AHHH, UM SSUPA-SSUPA TÃO FUFINHO". Isto fui eu. E furei a multidão que atacava estas florzinhas doces, claramente alusivas ao futebol e que, tal como eu, voltava aos cinco anos, idade em que os dentes podiam ficar estragados, porque iam cair para deixar nascer outros. E o chupa-chupa foi directamente para a mala. E lá ficou até hoje, guardadinho ao lado da vaquinha de peluche que faço sempre questão de trazer comigo, que tem uma coleira cor-de-rosa e um sininho pendurado. É a vaquinha Muu muu, o meu amuleto da sorte e dos momentos parados no comboio, que gosto de passar a brincar (ai de quem, por momentos, acreditou nisto).
A Vodafone estava a oferecer chupa-chupas às crianças que vão toodos os dias trabalhar para Lisboa via Caichudré e que, ultimamente, têm que passar por um carreirinho (mágico!) de meio metro para entrar na estação. Os meninos de quinze anos lá estavam a ocupar 25 centímetros e as pessoas outros 25, a situação estava a ficar complicada, os comboios começavam a sair sem gente, a chegada a casa estava a afastar-se temporalmente, mas sabem que mais? Nem um piu. Toda a gente feliz de chupa-chupa na mão, a sorrir, porque o dia até estava bonito. Oh, crianças inocentes, enfio-lhes o Noddy pelos olhos (salvo seja) e quero ver se a reacção é a mesma que ao chupa-chupa.
E pronto, também fiz planos mignons para abrir o chupa-chupa depois do jantar, mas o objecto foi ficando e ficando a desafiar a minha total entrega sem questionamento às promoções e ofertas publicitárias, até que hoje me lembrei de o abrir e provar e perceber que é MESMO muito bom, mas que faz mal ao meu plano de desporto saudável que implica comida saudável, para ver se evito operações nos próximos cinquenta anos. Sabe a caramelo... agora vou-me embora, tenho que ir exigir dos papás um telemóvel Vodafone da Hello Kitty!