Foi há dois dias que duas pessoas super altruístas e amigas do ambiente, decidiram ir acampar de bicicleta. Quer dizer, amigas do ambiente nada, devem achar que fui de tenda às costas. A tenda, os sacos térmicos (com comida para dez dias) e a roupa foram de carro ter connosco.
Com uma costa tão bonita e a possibilidade de não gastar quase dinheiro nenhum, porque não passar três dias nesse local tão adorado pelos turistas, que é o Guincho? Pronto, ok, para nós é quase como montar a tenda no quintal, mas o que interessa é a aventura!
A grande questão é que a Margarida não gosta de acampar. Nunca gostou. Desde aquela noite na colónia de férias em que a obrigaram a levar o papel higiénico para a casa de banho a dois quilómetros de distância. Desde aquela noite na colónia de férias em que houve uma tempestade, a tenda passou a noite toda a cair e a minha melhor amiga passou a noite toda a montá-la (a minha melhor amiga de 8 anos), porque eu, amiguinhos, eu fingi que dormia profundamente. É assim que fica o meu espírito no campismo.
Não percebo o que é que existe de tão contacto-com-a-natureza no acampamento. Sim, é no meio do pinhal, e depois? Depois leva-se a auto caravana, a antena da TV Cabo, a televisão com uma imagem que é uma maravilha (cinco centímetros quadrados de ecrã enfiados no objecto portátil), o computador, a mesa, as cadeiras, o centro de mesa, a tábua e o ferro de engomar (sim, porque aquilo no campismo é uma limpeza que nem vos conto!) e pronto, acampa-se no pinhal. Mas mesmo que assim não seja, dormir a noite toda na tenda que se monta sozinha, enrolada no saco-cama, rodeada de malas e lancheiras e entrar em pânico porque está um gato aos saltos para cima da tal tenda xpto à prova de bala ("Ai, achas que pode ser um lobo ou uma raposa?"), não é lá muito contacto-com-a-natureza... ou é?
Eu dispenso. Mas dizer que não gostei seria injusto. Porque uma boa companhia chega para que tudo corra bem. E porque a viagem de bicicleta foi divertida e nos proporcionou paisagens em que só reparamos com cuidado quando estamos com espírito de turista. E porque até fomos uma noite jantar ao Bar do Guincho (de onde voltámos a pé, às 23h, sem luz e à mercê de fantasmas, bruxas e vampiros, que toda a gente sabe que atacam pessoas à noite). E, finalmente, porque descobrimos a Praia do Abano, que não abana nada (falo, claro, do abano provocado pelo vento). Deve ser, aliás, a única praia da zona onde não se come mais areia que gelado.
O meu namorado, ele sim poderia dizer que não tinha gostado, porque, confesso, agora que estou no conforto do meu quartinho de menina e que, portanto, não tenho aquela adrenalina bué-da-fixe de pensar: "Oh não, a tenda vai voar!" e não escorro suor por todos os poros, agora que, finalmente, enchi a barriga com dois travesseiros de Sintra (onde fui, claro, de carro, assim que cheguei a casa), agora que pensei: "Se tudo correr bem, daqui a uns anos vou mas é pernoitar na Lawrence's, já que fazer turismo perto da minha zona não é nada má ideia", agora sim, posso afirmar: sou uma pessoa desesperante no meio do mato.
3 comentários:
Pois não sais nada ao teu paizinho, que eu bem o conheço! O gajo gosta de acampar e pronto. Mas também tem umas manias! Gosta de ir de popó: nada de brinquedos que custam a transportar; gosta de visitar a região bem instalado, com o dito bem tremido; gosta de procurar tascas para evitar ter que cozinhar (para isso tem que meter conversa com meio mundo e às vezes leva respostas tortas); gosta de paisagens lindas mas nada de caminhadas duras; vai para parques que tenham pouca gente (o que no verão se torna difícil).
Enfim, a tenda que usa já é semi-automática (para fechar, porque para abrir é instantânea). Acho-o parecido com o Campista Ajaponesado...
Não digas isso, Ana, não és tão desesperante assim. Pelo contrário, vê-se que tens uma alma ampla e indulgente, que aceita as provações - sobretudo essa do ferro de engomar - com um espírito de sacrifício de louvar, além dessa excelente faceta de colher os aspectos positivos nas maiores odisseias - no caso presente, a admiração pela paisagem, e a perspectiva da Lawrence's em anos futuros. Mas olha que a Lawrence foi um projecto gorado para um tal senhor da Maia. Não venhas tu também vir a ter desilusões aí. À cautela, é sempre bom levar a tenda...
ah ah ah, o ferro de engomar ainda é pior q o secador do cabelo, que eu uma vez disse que ia levar para o campismo... na colónia de férias perdi a pasta de dentes no meu dia de anos e comecei a chorar. mas como depois havia bolo e todos os meninos me cantaram os parabéns e o eurico (que desde então nunca mais vi) veio dar-me 7 beijinhos, não foi assim tão traumático...
e eu ia perguntar se neste fim de semana iamos, finalmente, para a praia do guincho! Vamos?(de carro)
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