terça-feira, 19 de agosto de 2008

A mossa



Geralmente, quando nos apanhamos com a carta de condução, livramo-nos imediatamente de alguns tiques obrigatórios, como as duas mãos no volante, os 20.000 piscas nas rotundas ou os limites de velocidade que se ficam pelos 20Km/h. No meu caso, vi-me imediatamente livre daquela regra de não tocar noutros objectos na manobra de estacionamento: passeios e outros carros. Adoptei logo a técnica do bate à frente bate atrás e, até hoje, tenho sido bastante feliz.
Um pequeno senão: convém que o dono do carro onde estou a bater não esteja dentro dele. E ontem, havia um lugarzinho apertadinho e um senhor num Mercedes a ler o Público. A Margarida proferiu as seguintes palavras: "Hoje não posso bater, que o senhor está dentro do carro". Dito isto, pé entre a embraiagem e o acelerador, marcha atrás e PUM, de rabo no carro do senhor. Nestas coisas há que manter o sangue frio e armar-se em homem. De modo que a minha reacção foi extremamente simpática: "Ah, isso não foi nada!". Desculpe, eu pago, foi sem querer, qual quê! Isso não foi nada, uma mossazinha no Mercedes, o que é isso?
Mas aquele não era um senhor qualquer com um carro qualquer. "Eu não vou maçá-la (maçá-la...) com isto, mas não me diga que não foi nada, ora passe lá aqui a mão...". E lá estava ela, a mossa na matrícula do Mercedes. Este senhor era simpático. Pronto, mas se não me vai maçar, posso pedir desculpa, dizer que sou naba, chamar-me nomes e até oferecer-me para pagar o arranjo da mossa e de quaisquer outros problemas que o carro tenha! O remorso fabrica palavras que não passam pelo sistema nervoso central. Mas o senhor não me maçou.
Que sorte, senhores destes não costumam andar em Mercedes! Mercedes novo em mão de tuga é para sair da garagem apenas ao fim-de-semana, para ir ao Mr. Parking a 40Km/h fazer lavagem e aspiração. Ou então para fazer a viagem Lisboa - Algarve numa hora, sempre limpinho e impecável, que ao menos se for para estragar será numa coisa em grande! Mossas no Mercedes é que são, geralmente, complicadas de resolver.

9 comentários:

Ricardo disse...

Não te rales, Margarida. O senhor do Mercedes só estava à espera do patrão que foi tomar a bica. Se o Mercedes fosse dele, aí sim, pagavas as matrículas novas (é aos pares, lembra-te) e mais a lavagem e aspiração. De qualquer modo fico contente por teres tantas semelhanças com o teu paizinho (bate à vante, bate à ré). Há dias, numa rua estreitinha, para não tocar no passeio com a roda, bati no espelho do carro estacionado. O dono estava perto e ficou a olhar. Fiz inversão de marcha, voltei a bater e segui (ele já estava dentro do carrito). Olhó chico-esperto! A propósito, há muitas horas que não dizes nada sobre a Flaflu.

Anónimo disse...

Quer dizer então que o assumir das tuas responsabilidades depende da presença ou não do big brother! E anda uma avó a colaborar com afinco na educação dos netos feita esmeradamente pelos pais, para vir a ler uma destas! Felizmente tens a estrelinha para os débrouillements! Mas quando fores tu a dona do mercedes, nunca perdoes as amolgadelas vindas desses carros inferiores. Ou já chegámos à Madeira! O respeitinho é essencial, bolas!

Anónimo disse...

Mas, apesar dessas censuráveis anomalias de procedimento, não posso deixar de te felicitar pela beleza e graça das fotos que encimam os teus textos. Com especial referência à anexa ao teu arquivo do blogue - dois velhos gozando o merecido descanso da vida de trabalho árduo que foi a deles, bla, bla, bla... Imagens de malandrice à Mr. Bean, mas de uma ironia mais subtil...

Ricardo disse...

E eu que pensava que os dois velhos eram a Margarida e o Namorado juntinhos, de malas aviadas para voar para a estranja, na praia da Falésia!

Anónimo disse...

Isso já me aconteceu... mas nesse dia eu é que tinha o carro bom e a culpa era dos dois por isso ficou tudo pacífico.

Anónimo disse...

Os namorados não têm uma posição tão sentada e distanciada, ora essa! Para mais com sacos tão cheios do prazer de comer, por trás das cadeiras... Insisto na ironia corrosiva, captada nos instantâneos da Ana.

Anónimo disse...

se bateres no meu pagas! (eu sou daquelas que deixam bilhetinhos com o nr de telefone p pagar os eventuais estragos).

Ricardo disse...

Acho que já chega de publicidade barata à Mercedes, Margarida. Para quando outro post?

A Tendinha disse...

Bom, acho que a tua solução é arranjares um carro como o meu: não tem frente nem traseira e cabe sempre em qualquer lado (às vezes quando não encontro lugar até o levo no bolso!) :)