Isso em Paris raramente neva, dizem os parisienses. Os lisboetas dizem o mesmo de Lisboa. Só que as duas populações querem dizer coisas bastante diferentes.
Nas minhas férias na "neve" da Serra da Estrela (está entre aspas, porque a nível de textura é alcatrão), nunca vi nevar. No entanto, não é algo assim tão raro. Ora quando me dizem que em Paris é raro, obviamente que nunca na minha vida vou ver esta cidade debaixo de neve. Mas há algo no conceito de raramente que o francês não percebe, é que implica que o acontecimento não se repita constantemente no tempo. Porque pelos vistos, neva todos os anos, pelo menos 10 vezes! Ora, ainda me lembro de me aperceber da dificuldade de fazer bonecos de neve no granizo aos seis anos, na primária, no dia do "Nevão de mil novecentos e noventa e tal", que não era neve, mas pronto, era branco, portanto não me venham com manias que "aqui não neva".
O momento em que as pessoas se tornam indiferentes os floquinhos brancos que voam em todas as direcções e que vêm sempre acompanhados de músicas de Natal, na nossa cabecinha tão agarrada à montra da Benetton, que desejamos inteira debaixo da árvore, é algo que não compreendo. Hoje estava aqui em casa e a minha amiga alsaciana (não, não tem desculpa!), disse: "Eh pá, está a nevar bem!" e continuou a trabalhar. Globalizing Capital and its Consequences. Muito mais interessante que a neve lá fora.
Eu fui agarrar na máquina fotográfica. O que se passou entretanto foi o êxtase total, a vontade de fazer bolinhos de natal em forma de sininhos, de comer os 24 chocolates do calendário do advento, de ir passear para a rua (muito inteligente), a memória do cartão cheia e claro, umas fotografias super podres, porque afinal não nevou assim tanto. Nem ficou neve no chão. Mas os floquinhos eram fofinhos.