segunda-feira, 23 de junho de 2008

Os sapatos Não-Margarida


Depois do meu interregno de quatro meses e da decisão de ir correr todos os dias (decisão que rapidamente se transformou em dia sim dia não), fui sair à noite. E fiquei contente por perceber que ainda conheço bem as músicas que passam (embora continue a inventar as letras), que o Tamariz continua a estar cheio de pessoas que aspiram a VIPs, que ainda se verificam tentativas subtis de engate, que os porteiros continuam a promover filas de uma hora, que a lei do tabaco é barrada à entrada (o meu vestido e os meus cabelos comprovam) e que ainda fico com bolhas nos pés (preciso urgentemente desses deuses chamados Chie Mihara: a brasileira com nome japonês e com lojas em Paris e Nova Iorque, que vende, nem mais nem menos, sapatos ortopédicos para sair à noite). Ainda assim, resisti às Havaianas que gritavam histericamente por mim, sufocadas dentro da mala (nunca se sabe quando vamos querer parar de brincar às senhoras crescidas...).
Nessa manhã, tinha ido arranjar os pés. É sempre uma situação bonita, que gostaria de guardar para mim, mas que decidi corajosamente partilhar convosco. Quem me conhece minimamente, está a par do desprezo que nutro por essa parte horrível do corpo, que para além de ser feia, cheira mal. Mas já que ia sair, porque não tentar torná-la, pelo menos, passível de se exibir perante a visão? Pois os meus pés estiveram enfiados uma boa meia hora numa máquina que, estrategicamente, faz bolhinhas NA PLANTA DOS PÉS! Mas que ideia foi esta de pôr bolhinhas por baixo dos pés? Mas esta gente tornou-se toda extra-terrestre e passou a adorar ter cócegas? E vamos lá cortar a unha (que palavra horrível) com um alicate, como se a menina tivesse oitenta anos e não cortasse as unhas (grrr) há dez! E vamos lá enfira-lhe um guardanapo entre os dedos para lhe pintar as ..... (já chega, há um limite para utilizar esta palavra)! E oiça lá esta história do meu marido que adora pregar partidas e cuja última ideia foi a de substituir os dossiers, estojos, livros e jornais da mala de um colega, por excrementos (não sei bem de que animal, não perguntei, mas imagino que não fossem de bichinhos da seda...).
Foi duro. Mas sair do interregno implica este género de sacrifícios. Claro que os pés que se enfiam em saltos altos acabam sempre descalços em cima dos pedais do carro, que costumam acolher as solas de outros sapatos e que, portanto, estão sujos (pretos). E chegam a casa desgraçados, porque a pessoa que anda em cima deles gosta de dançar. Ainda bem. O raio dos pés, é bem feito!

4 comentários:

Anónimo disse...

Devias tratar com mais respeito - ou pelo menos,menos ironia,os
"chers souffrants" dos preciosismos seiscentistas franceses. É certo que no nosso país das calçadas à portuguesa, cheias de lombas e de buracos,serão
"souffrants" "tout court", exactamente porque não respeitamos uma parte do corpo tão imprescindível,maltratando-a nas lombas e nos buracos, que nem a pedicure os salva. Aconselho-te a pô-los de molho em água quente com sal, embora este possa prejudicar o verniz das "unhas", ai, perdão, das coberturas córneas das tuas falangetas.

Ricardo disse...

Recuso-me solenemente a considerar feios os teus pés. São finíssimos, muito bem moldados, terminam em belos dedos compridos e têm um alto muito elegante no topo norte que os faz parecer uns pés pensantes. Fico no entanto agradado ao saber que agora para se querer parecer com os adultos usa-se sapatos contrariamente ao que acontecia antigamente. E digo contrariamente não porque se andasse descalço mas sim porque para o efeito utilizava-se a outra extremidade do corpo para, precisamente, fumar.

Anónimo disse...

a inveja que eu tenho das meninas que graciosamente se passeiam em saltos escandalosamente altos e tão elegantes (ok, nem todos). nem é tanto pelo aspecto "mais alto", mas mesmo pelos sapatos que na montra são tão bonitos e agora coloridos.
enfim, acho que é isto que se chama "ter os pés bem assentes na terra"

Fátima disse...

ahaha o que me ri, mais uma vez, com um post teu :P sim, esses locais são um antro de conversas estranhas e ainda por cima de maneira estranha... "cortar A unha"? são várias...eu também odeio pés, tou contigo! que coisa tão feia, eu gosto é de andar de ténis