sexta-feira, 11 de julho de 2008

As crianças já não são o que eram

Eu e o meu primo Luís. Para os que andam na internet com objectivos muito pouco nobres, aviso que, neste momento, temos mais vinte anos em cima.
Estou a brincar (em relação ao título), claro que são, mas há algumas que fazem uma certa confusão... tenho a certeza de que todos somos unânimes nesta questão: criança que é criança tem que abrir a boca num jantar para dizer: "Ah tu é que és a tia Joana? A Joana do rabo grande?". Tem que dar beijos aos animais e esfregar-se nas poças de água no Inverno. Tem que cair e partir dentes, cabeça, braço, o que for. Tem que obrigar os pais a parar na berma da auto-estrada, porque senão faz xixi mesmo ali no banco de trás. Tem que ter sempre fome e sede. Tem que se esconder debaixo das saias dos manequins quando vai ao shopping e chocar-se, aos gritos, com o facto de elas não terem cuecas! Tem que ver o mesmo desenho animado cinquenta vezes e decorar as falas. Porque se assim não for, não é em adulto que vai ser.
E há uns dias, no Clube de Ténis do Junqueiro, estavam dois rapazinhos de cinco anos a jogar ténis imaginário: com duas raquetes e sem bola. E sofriam com aquilo e marcavam pontos e faziam os movimentos correctos, enfim, levavam a brincadeira a sério, mas acabaram, claro, a bater-se mutuamente com as raquetes. E disse um para o outro (cinco anos, volto a referir): "Olhe que você não podia ter feito isso!". Você? Mas o que é isto? Mas agora os pirralhos tratam-se por você?
Claro que já estava a par de todos os tratamentos por você possíveis dentro de uma família: filhos para pais, pais para filhos, netos para avós, avós para netos, tios para sobrinhos (mesmo que não sejam nem tios nem sobrinhos), sobrinhos para tios, mulher para marido, marido para mulher (este também acho o máximo e, sobretudo, revelador de grande intimidade entre o casal)... mas de criança para criança? Juro que não achei normal. Com cinco anos era bem capaz de tratar por tu, sem qualquer problema, o Presidente da República! Mesmo que ele mandasse na entidade mais autoritária do mundo: "os polícias"! E depois?
Não sei porquê, nem sou capaz de elaborar nenhuma teoria acerca deste assunto. Mas soou mesmo muito estranho. Sempre me disseram que o tratamento por você era uma questão de respeito. Mas de respeito pelos mais velhos ou pelos desconhecidos... o "você" tem ainda uma carga formal bastante forte. É verdade que quando somos crianças tratamos toda a gente da mesma forma: o PR e os nossos amigos por tu ou o PR e os nossos amigos por você. Depende do que ouvimos em casa. Mas os meus ouvidos vivem numa cultura que ainda não está habituada a crianças a conviverem como adultos. Crianças que se tratam por você parecem crianças que não são capazes de jogar ténis imaginário... deviam estar já a tratar de negócios ou a discutir a inflação. Mas pelos vistos isso é preconceito meu.

8 comentários:

Ricardo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo disse...

Os dois pirralhos vivem no JUNQUEIRO = zona chiquérrima da Parede de outros tempos. Ali já eu tinha uma amiga há maningue time, a Luisa, que tratava todos os amigos por você. A zona presta-se realmente a esse tipo de desportos. Quando cheguei a Portugal também tive que lidar com essa realidade aqui nos Estoris - uma família de quatro irmãos, os mais velhos a tratarem-se por tu, a tratarem os mais novos por você, os mais novos a tratarem-se e aos mais velhos por tu e a chamarem aos pais você, uma complicação enorme para os selvagens que vinham das Áfricas, habituados a falar sempre na segunda pessoa com toda a malta. O que não consigo entender é que, na mesma família, um filho trate a mãe por você e o pai por tu, tendo isto acontecido de um dia para o outro, precisamente por volta dos cinco ou seis anos de idade. É preciso ter imeeenso jeito para o TEATRO. Não sei se como autor, argumentista, actor...

∑:={‡)

Ricardo disse...

Fizeste bem em legendar a foto. Nunca se sabe se é por aqui que os correios contactam os putos.

Anónimo disse...

Fomos sempre dados a distinções importantes e o nosso "você" apresenta matizes de significação que nada têm a ver com o "you" ou o "vous" genérico dos respectivos povos, nem mesmo com o "usted" ou o "voi". Temos o "você" respeitoso, sim, nas camadas mais populares, mas também há o pedante, nas elites do chiquismo. E há o "você" insultuoso dos operários e afins que esqueceram "o senhor" ou "a senhora", por excesso de democracia. Tal riqueza semântica deve-se, creio eu, à nossa fatuidade provinciana que justifica também a "calçada à portuguesa" de rebuscamentos inúteis e pouco práticos.
Os tempos evoluem, sim, mas não é forçoso que todas as crianças falem no rabo grande da tia Joana, Ana, ora não sejas tu ditadora!

Anónimo disse...

Margarida, você tem toda a razão! ;P

Anónimo disse...

gostei mesmo desses "must do" da infância.
e sim, é bizarro duas crianças tratarem-se por você, não acho nada que seja preconceito teu.

Fátima disse...

isto leva a que depois sejam jovens com problemas como uma colega minha que vivia em bicesse mas foi para a faculdade de direito a dizer que morava no Estoril (eu também disse, mas só porque ninguém conhece Alcoitão, e depois contei :P), que tinha andado no "Colégio dos Salesianos do Estoril" quando na verdade andou nos Salesianos de Manique... epá...enfim

Pedro disse...

Bonjour! okay? Je l'espère! Le juge ne te vois pas pendant une longue période. Je suis passé par ici juste pour jeter un oeil à votre blog, le très drôle! Ils sont même les petits enfants! De bons moments passés à leur maison, quand il était jeune. Amis alors qu'ils ha partout.
J'ai parlé avec Luis et Rui, une fois tout! Alors, comment ça al aller en France? Celles-ci vous to get away? Je vis maintenant à Genève, 100 rue de la Servet dans le centre. De travail comme chef d'une Moto Atelier de mécanique, je me suis spécialisé dans l'ingénierie mécanique. Il vit bien, mieux que dans le Portugal! Voir si les nouvelles! Kisses my friend =)