quarta-feira, 2 de julho de 2008

A fingir que foi há muitos anos

É um chupa-chupa e está aqui embrulhadinho há DUAS semanas. Foi desembrulhado para a fotografia.
O fenómeno publicitário de distribuição de panfletos é uma coisa fantástica. Eu devo ser realmente a única pessoa que tem o armário cheio de lixo da VitalDent, porque não me parece que mais ninguém adira à ideia. Geralmente coloca-se alguém com um boné, estrategicamente ao sol, porque está mais calor e se os distribuidores de quinze anos estão ali a ganhar uma fortuna de 200 euros por mês, é bom que trabalhem para isso, porque a vida não está para calões. E as pessoas, como são estúpidas, aceitam os papelinhos e deitam instantaneamente fora, num gesto totalmente reflexo. Aceitam, mas atenção!, sem qualquer intenção de ler. E ainda por cima os papelinhos são como cascas de banana (não, ainda não caí, dada a minha condição física estou proibidíssima de cair e, para espanto de muitos, eu sei, tenho cumprido à risca o aviso).
Agora... quando se trata de chupa-chupas, sopas instantâneas, cereais, bebidas ou iogurtes, a coisa muda de figura. Parecem formiguinhas, as pessoas, formiguinhas com cérebro, que pensam assim "hummm, já poupei 50 cêntimos" ou "hummm, já tenho jantar", ou "AHHH, UM SSUPA-SSUPA TÃO FUFINHO". Isto fui eu. E furei a multidão que atacava estas florzinhas doces, claramente alusivas ao futebol e que, tal como eu, voltava aos cinco anos, idade em que os dentes podiam ficar estragados, porque iam cair para deixar nascer outros. E o chupa-chupa foi directamente para a mala. E lá ficou até hoje, guardadinho ao lado da vaquinha de peluche que faço sempre questão de trazer comigo, que tem uma coleira cor-de-rosa e um sininho pendurado. É a vaquinha Muu muu, o meu amuleto da sorte e dos momentos parados no comboio, que gosto de passar a brincar (ai de quem, por momentos, acreditou nisto).
A Vodafone estava a oferecer chupa-chupas às crianças que vão toodos os dias trabalhar para Lisboa via Caichudré e que, ultimamente, têm que passar por um carreirinho (mágico!) de meio metro para entrar na estação. Os meninos de quinze anos lá estavam a ocupar 25 centímetros e as pessoas outros 25, a situação estava a ficar complicada, os comboios começavam a sair sem gente, a chegada a casa estava a afastar-se temporalmente, mas sabem que mais? Nem um piu. Toda a gente feliz de chupa-chupa na mão, a sorrir, porque o dia até estava bonito. Oh, crianças inocentes, enfio-lhes o Noddy pelos olhos (salvo seja) e quero ver se a reacção é a mesma que ao chupa-chupa.
E pronto, também fiz planos mignons para abrir o chupa-chupa depois do jantar, mas o objecto foi ficando e ficando a desafiar a minha total entrega sem questionamento às promoções e ofertas publicitárias, até que hoje me lembrei de o abrir e provar e perceber que é MESMO muito bom, mas que faz mal ao meu plano de desporto saudável que implica comida saudável, para ver se evito operações nos próximos cinquenta anos. Sabe a caramelo... agora vou-me embora, tenho que ir exigir dos papás um telemóvel Vodafone da Hello Kitty!

5 comentários:

Ricardo disse...

Já me vais colocar outra vez em despesas? Olha que o teu telemóvel é semi-novo! Também costumo, muito polidamente, diga-se de passagem, recusar o lixo que me querem pôr na mão. Mas no outro dia, à hora do almoço, não resisti e aceitei a «oferta» do jornal Metro acompanhado de um copão (=copo grande) de gelado. Ainda não era uma hora e estavam no princípio da promoção. Aquele gelado fez as delícias à sobremesa a três adultos, na mesa de A Beirense, ao Carmo (passe a publicidade é a melhor e mais bonita casa de café, chá, chocolate, empregados, etc., de Lisboa; e pode-se fumar). Uma hora depois voltei pelo mesmo caminho e deparou-se-me um espectáculo invulgar:
dezenas de pessoas sentadas nos degraus de entrada da estação de combóios do Rossio; a porta de acesso entupida com uma multidão de braços levantados; gente que gritava, discutia, gente feliz e o carrinho de gelados ali à frente sem facturar; as distribuidoras, nem sinal delas!, apesar de eu saber que estavam no degrau de cima, não se vislumbravam no meio daquele mar de gente.
O dia seguinte foi de distribuição de flores côr-de-rosa pelo cancro da mama. Tiveram pouca clientela mas eu trouxe uma para o Fiuipe.

Anónimo disse...

E enquanto desembrulhas o teu chupa-chupa, informas que recebeste o email de confirmação da tua candidatura a Sciences Po. Mereces saborear lentamente essa esplendorosa flor de chupa-chupa da tua imagem, enquanto nós todos gritamos "Bravo!" e te desejamos todas as felicidades do mundo.

Anónimo disse...

eu já estava arregalar os olhos com a história da vaquinha...haha

Fátima disse...

ahah não é que te imaginei mesmo a brincar com a vaquinha? e foi giro!

AJS disse...

Uma vaca com sininho??? Uma vaca com sininho??!?!? Hummm??? Como é que ainda tens espaço para por o raio do TM na mala?!?!?! Se os tipos da Vodafone soubessem disso não te tinham dado o Chupa Chupa!!!