Hoje foi dia de Camões, de Portugal, das Comunidades Portuguesas... e de Cristiano Ronaldo. Soube, aliás, através de um repórter da SIC, que os jogadores da selecção até tinham ido ontem ao cabeleireiro! Acho que fazem muito bem, sobretudo porque o resultado é sempre uma maravilha. Cabelo de jogador de futebol é fantástico!
Pois é, dia de Camões, de Portugal, das Comunidades Portuguesas... e de Cristiano Ronaldo em ano de Euro (ou Mundial), é outra coisa! Quando chega o evento futebolístico Europeu (ou Mundial), os portugueses tiram o Pai Natal da varanda e põem a bandeira portuguesa. Mas há os que se afeiçoam tanto à experiência patriótica que deixam o objecto por tempo indefinido, até que fique azul e laranja em vez de verde e vermelho. Na verdade, o que é preciso é que a varanda tenha alguma coisinha. O senhor do condomínio do prédio ao lado do meu, por exemplo, convocou uma reunião extraordinária para decidir se o prédio apoiava, ou não, em massa, a selecção. Claro que sim! Desta forma não há bandeirinhas em todas as janelas, mas uma só, grande e visível, no centro. Não sei, é uma sensação de patriotismo misturada com espírito de grupo e de partilha, que no dia de Camões, de Portugal, das Comunidades Portuguesas... e de Cristiano Ronaldo, fica muito bem.
Este espírito é bastante ridículo, certo, mas tem piada. Tem piada, porque nós nunca ficamos especialmente contentes com nada e quando se trata das escolhas do Scolari até podemos espernear um bocadinho ao início, mas, no fim, tudo é bem aceite. É um espírito simpático. O que é preciso é que a festa comece e que os jornais distribuam bandeirinhas. Daí a piada.
Eu cá acho muito bem. Ok, sem bandeirinha na varanda, mas com vontade gritar à frente da televisão e de dizer coisas como "O Deco não está a jogar nada" (que é o mesmo que dizer que aquele que foi posteriormente eleito o melhor jogador em campo, não está a jogar nada) e "A Nereida é uma pindérica". Um dia destes, quando a minha esperança em Portugal (país, não selecção...) estiver ao nível da de todos os portugueses (por enquanto ainda está acima, não gosto de fatalismos, sou muito nova para isso, há que ser optimista), quem sabe se também não ergo uma bandeira à selecção. Talvez nessa altura a superstar seja o filho do Cristiano Ronaldo. Não, o neto, isso dá-me mais tempo de vida sem bandeira. Talvez trineto mesmo. Se assim for, tenho a certeza de que não fui eu que ergui a bandeira e de que consegui manter a sanidade mental ao longo da vida. Ai, assim até fico com medo de gostar de ver jogos de futebol!!!
6 comentários:
No tempo da tua avozinha, e da tua bisavó também, eram as colchas nas sacadas ("balcons", na tua língua de selecção, ou na língua da tua selecção) e nas janelas das casas para ver passar o andor e a procissão, sobre tapetes de giestas, alecrins e rosmaninhos, prova da nossa devoção centenária, no que se reporta às tuas ditas familiares, mas até milenária se quiseres consultar Fernão Lopes no descritivo da visita de D. João I ao Porto. Exemplifico: "Os desta cidade (do Porto), sabendo que el-Rei avia de viinr a ela, fezeram-se prestes de o receber, estabelecendo per mandamento que nem u~u - (o computador, que é moderno e inteligente como tu, não aceita o til no segundo u) - nom usasse de seu oficio e que todos aquel dia cessassem dos costumados trabalhos - (sem ponte, é certo, por não existir ainda a semana dos cinco dias, de que nós usufruímos, graças ao "Front Populaire" de consagrada e abençoada memória). O qual recebimento ordenarom desta guisa: Todalas naos que erom no rio (Douro, está visto) mui cedo pela menhãa (só o a - e o o também - têm direito ao til, neste computador decididamente aderente ao Acordo)forom apendoadas de bandeiras e estandartes, e postos muitos ramos verdes em certos logares, onde cada un entendia que melhor podia parecer. Os batées delas andavom todos enramados, com trombetas e pendões d'avante e de ree, fornidos de home~es (o computador também recusa o til sobre o segundo e), deles em camisas com sombreiros de rosas, outros de livrees de ramos e flores, segundo se cada u~us melhor correger podiam. As gentes da cidade, carecentes de todo nojo, com novas e melhores vestiduras que cada u~u tinha, se viiam andando por toda a parte...As ruas per u el avia d'ir ataa os paaços uu avia de pousar erom estradas de ramos e ervas de boons cheiros... As portas das casas destas ruas eram todas abertas e enramadas de louros e outros frescos ramos... E esto podiam bem fazer naquel tempo ca era no mês de maio; e esforçava-se cada u~u de vencer seu vezinho per corregimento de portal e sobrado, poendo aas portas defumaduras e tantos nobres cheiros, que bem podiam afugentar qualquer mao ar que fosse corrupto. E aas janelas lançavom panos e mantas e outras roupas que afremosentavom muito as ruas...As janelas das casas todas eram ocupadas com fermosas donas e molheres doutra condiçam, com gram desejo e amor de o veer (a D. João I, não ao Cristiano, é claro), assi guarnidas de tais corregimentos, que fealdade e mao parecer nom ousou aquel dia entrar na cidade.....
E ainda tu te queixas! Não receies pelos teus netos, que nessa altura, graças ao progresso - ou retrocesso, em divergente parecer, que já me parece ser o teu - os histerismos lusitanos sobre os seus ídolos ainda serão mais acentuados. A compostura é mais específica dos povos ditos civilizados, ai de nós, que continuaremos parolos "ad aeternum"!
Pimbalhoca! A Nereida é uma pimbalhoca! Foi esse o adjectivo que nós utilizámos... e na minha outra casa houve, em tempos, uma bandeira de Portugal içada na varanda! n sei se a terão voltado a içar novamente este ano m é provável... agora, pai natal e luzinhas do chinês isso é que não!
ai,ai,margarida. desculpa a pontuaçao mas estou num computador do ipj, daqueles em que ja nao se ve o que esta escrito nas teclas... tens sorte em viver nestes tempos. pelos meus 12 anos puseram-me uma bandeirinha de papel nas maos e mandaram-me para a rua dar vivas ao salazar. alias a minha melhor lembrança de infancia passou-se num estadio em lourenço marques, em que havia ginastica colectiva para celebrar um 10 de junho. nao me esqueço do ar feliz e orgulhoso da minha mae nas bancadas ao reconhecer que o seu primogenito era a unica criança que fazia os movimentos certos na parada (os outros estavam todos virados para mim quando mudavamos de direcçao). nessas alturas ainda nao se dava nomes como cristano ronaldo as pobres criancinhas desprotegidas. alias celebravamos o dia da raça... seja la isso o que for.
o facto de os condomínios estarem a ter reuniões para decidir das bandeiras é hilariante! dessa não sabia!
eu cá prefiro o pai natal (e toda a gente sabe como eu detesto pais natais nas varandas), porque sempre me evoca um espírito mais bonito. Eu quero que a selecção ganhe, mas eu não APOIO a selecção. que raio é isso? ainda por cima nem estou no estádio para mandar uns berros que se oiçam. a selecção não precisa de mim para nada, nem dá pela minha presença.
acho que o meu problema é que se ganharmos (e falo no plural por influência) não me sinto mais orgulhosa do meu país. a selecção de futebol não é o meu país.
O Tio Adolfo de apelido Hitler também gostava muito de bandeiras, ele expunha as mesmas por todo o lado na Alemanha, se calhar para esconder os podres e os estragos que andava a fazer pelo seu país. Se calhar ao Sócrates também lhe dá imenso jeito este desfile de bandeiras e buzinas de contentamento.l Cá por mim tambem gosto de as ver dão sempre mais cor às nossas fachadas desbotadas por falta de dinheiro para liquidar obras ou outras coisas que tais.
o mais "engraçado" nisto tudo são as comunidades de portugueses no estrangeiro. agem como se fossemos o melhor país do mundo, largam tudo para apoiar a selecção (será que toda a gente menos eu tem expediente flexível ou estão mesmo todos desempregados?)... a minha família que está em França adora esta altura, é giro porque se sentem próximos de Portugal, o que acho natural, mas felizmente ninguém faz manifestações foleiras da minha família. o meu primo gosta de usar a tshirt do ronaldo, mas pronto...
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