segunda-feira, 26 de maio de 2008

The Dying Animal

Decidi trazer para aqui este livro, porque me surpreendeu. Antes de o abrir, fui sabendo por terceiros do que se tratava. O dia-a-dia dessa depravada que era a Consuela Castillo. Uma depravada, sim, cujas atitudes sexuais eram tão explicitamente descritas que deixavam qualquer um envergonhado. Na Playboy, era onde esse livro devia estar. Contudo, há muito que ouvia falar das maravilhas do Philip Roth. E quando soube que, no Eixo do Mal, a Clara Ferreira Alves tinha referido The Dying Animal, o meu desprezo pela Consuela Castillo desapareceu (devia ter vergonha, sou uma vendida ultra influenciável!). E quando comecei a ler o livro, a Consuela Castillo depravada desapareceu também.
Isto, porque The Dying Animal é um livro sobre a morte. Sobre o sexo como vingança da morte. Sobre uma vida desligada de qualquer tipo de sentimento, que sempre procurou o prazer pelo prazer, marcada pelos ideais do Maio de 68, que, no final, se questiona, porque começa a definhar sozinha, que é como quem diz, envelhecer. E não se trata de questões existenciais ou de lamechices melancólicas. Pragmatismo. São questões pragmáticas, é uma visão pragmática. A língua inglesa tem dessas regalias. Nada de frases de uma página, nada de palavras eruditas, nada de metáforas ou alegorias. Tudo é explícito, incluindo o sexo. Explícito e incómodo. Doloroso, diria, mas isso sou eu que sou sentimentalista. Mas com humor. São os tempos modernos.
Até que enfim! Até que enfim que um autor tem na ponta dos dedos as relações modernas sem ter que publicá-las pirosamente na revista Maria. Até que enfim que alguém é capaz de levá-las ao extremo e criar uma obra de arte e não um livro da Marta Crawford. Até que enfim que um texto bem escrito - um texto perfeito - não tem que ser bonito, mas mantém a elegância.
Claro que o livro não é só isto. Por isso leiam. E se já leram, digam-me o que acharam. A imagem tem um link para encomendarem o livro em português e para lerem o resumo. Não sei se a tradução é boa, mas sei que o livro também existe na Fnac em inglês! Só não percebo porque não está na internet...

5 comentários:

Anónimo disse...

Quanto a mim, Ana, na questão dos modernismos literários, ninguém que supere a Simone de Beauvoir. Uma escrita chã, rica, clara, pragmática também, sem os obscurantismos pretensiosos de algumas das nossas praxes literárias, uma escrita que tudo explora, até mesmo a morte, até mesmo o sexo, até mesmo a vida nas suas ânsias de liberdade e de prazer sem fronteiras, em assumpção dos actos de cada um, mas uma escrita com a contenção de um espírito essencialmente elevado e moderno que não procura, contudo, a notoriedade, na usual libertinagem dos nossos tempos.

Ricardo disse...

Olha, Margarida, fiquei apaixonado pelo tama do livro - graças a ti (espero que haja traduzido para português). Nunca tinha sequer ouvido falar. Se este tema te interessa, recomendo-te o Don Juan, do Gonzalo Torrente Ballester. Se quiseres empresto-to. É que trata do tempo a seguir ao retratado no The Dying Animal.

Anónimo disse...

hoje vou à feira do livro. se aconselhas assim tanto, entao vou comprar. em ingles é que é capaz de não haver...

Anónimo disse...

é só para dizer que ontem comprei o livro (em português) na feira do livro. Agora estou a meio de um que vai assim devagarinho, mas a seguir leio esse

Anónimo disse...

O "W" sou eu, que me enganei na tecla