quinta-feira, 1 de maio de 2008

Quando a imaginação nos trai


Quando se combina às 21h à frente dos correios, é sempre para perceber às 21h30 à frente dos correios. O telemóvel apita 20 vezes para dizer estou a caminho, estou parada no sinal, o homem à minha frente não anda, não há por aí um café?. Café é a palavra que queremos ouvir. Só é preciso encontrar um. E na quarta-feira, este era o mais próximo.

O nº28 (23?) parece aquele sítio que deixa de se ver quando a luz se apaga (no exacto momento do crime) e que volta a aparecer quando do criminoso apenas se ouvem os passos (este criminoso usa sapatos de sola, veste uma camisa branca e um blaser preto e segura com a mão esquerda o chapéu da mesma cor. Nunca se esquece das luvas, apenas por uma questão de estilo). Por cima da porta, a varanda parece a da Alice Gorda, que pôs toda a gente a chorar quando o marido a deixou e ela emagreceu de tanto verter lágrimas. Foi aí que começaram os boatos sobre o emagrecimento.

E o carro do lado direito faz-nos lembrar que estamos no século XXI. É nesse momento que se solta do café mistério a frase desafinada “Não voltarei a seer fieel”, acompanhada por sons estranhos, estilo piano e xilofone num só instrumento. O senhor do café transforma-se num cantor de karaoke e faz-me sinal para não fazer o meu pedido, porque está a acabar de cantar. Os dez metros quadrados tremem com o som do microfone demasiado potente, a parede principal esconde-se atrás de um ecrã gigante onde se lêem frases pirosas. E o criminoso é agora um grupo de vinte pessoas bem vestidas que reservou mesa para jantar. Quanto à Alice Gorda, parece-me que a vi por trás das cortinas, mas não posso afirmar com certeza.

6 comentários:

Fátima disse...

oh...e assim se estraga um lugar bonito! ai. malditos karaokes!

Ricardo disse...

Andas um pouco apanhada pelos correios, Margarida. Na segunda-feira podes vir tomar um cafezito comigo, se quiseres.

Anónimo disse...

Deixa que te diga, que se os textos fossem bolos, eu comia dois destes =P (mas depois ainda ficava como a Alice Gorda, antes do desgosto).

Anónimo disse...

Que post mais fixe! Bela viagem! ;D

Uish

Ale disse...

n podia haver personagem principal mais adequada a esta estória/cenário do que a margarida que toca piano e bebe cerveja!

Anónimo disse...

Este passou-me, não o tinha visto. Quando os olhos começam a trair-nos...
Este texto parece um bom princípio para um conto, vá lá, mexe-me essa Alice Gorda!